Morreu na manhã desta sexta-feira, aos 67 anos, o jornalista e escritor gaúcho Carlos Urbim. Ele se encontrava no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, onde se recuperava de um aneurisma. Foi submetido a uma cirurgia e não resistiu. O velório ocorrerá no Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307) das 16h30min às 21h30min, quando haverá uma cerimônia. Depois, o corpo será encaminhado para cremação.
Autor de clássicos da literatura infantil, Urbim buscava na própria infância a inspiração para suas histórias. Como cresceu em Santana do Livramento, elas vinham com um sotaque próprio da fronteira, o mesmo que ele manteve depois de deixar a cidade e se mudar para Porto Alegre.
- Esse olhar dos meus livros ainda é o olhar do guri que eu fui lá em Livramento - disse a Zero Hora em entrevista realizada em 2009.
Essa verve autobiográfica apareceu forte em seu primeiro livro, Um Guri Daltônico, de 1984, que refletia a vivência do autor como um menino que confundia as cores.
- Eu tinha uma vantagem sendo daltônico: nunca senti inveja daquelas meninas que tinham estojos enormes, com 96 cores de canetinhas e lápis de cor. Pra mim, bastavam duas ou três, já que as outras eu confundia mesmo - contou ele, no talk show Encontros com o Professor, em outubro de 2009.
Até hoje, Um Guri Daltônico é uma de suas obras mais conhecidas. Mais tarde viriam muitos outros livros, como Uma Graça de Traça, Diário de um Guri e Saco de Brinquedos, que se tornariam expoentes da literatura infantil produzida no Estado e seriam, inclusive, adaptados para o teatro.
Discípulo assumido de Mario Quintana, Urbim recorria bastante à poesia para cativar seus jovens leitores. Ele, que escrevia a partir de um olhar infantil de inocência, insistia que a literatura voltada às crianças deveria prezar por essa característica. No meio literário, era conhecido por seu temperamento afável e generoso.
Conheça algumas das principais obras de Carlos Urbim
Rosane de Oliveira: pipas e origamis para dizer adeus a Carlos Urbim
Durante a infância, distraía-se com brincadeiras de rua como carrinho de lomba e pipas - atividades que, mais tarde, seriam citadas em seus livros. Mesmo adulto, manteria-se fiel ao universo lúdico dos primeiros anos em Livramento por meio de hábitos como colecionar brinquedos do mundo inteiro e produzir outros a partir de objetos diversos.
O escritor vivia desde os 18 anos em Porto Alegre, onde ingressou na faculdade de jornalismo da UFRGS. Começou a trabalhar com jornalismo em 1969, passando por redações de diversos veículos, entre eles Diários Associados, Folha da Manhã, IstoÉ e Diário do Sul.
Em Zero Hora, durante 10 anos foi editor de cadernos como Revista ZH, Caderno Vida, Caderno de Cultura e Segundo Caderno. Grande admirador da cultura gaúcha, também foi roteirista de televisão e coordenou a pesquisa e redação de especiais da RBS TV, como Rio Grande do sul: Um Século de História e Os Farrapos.
Os trabalhos foram reunidos em livros mais tarde e lhe renderam o Troféu Top de Marketing da ADVB-RS em 1999 por Rio Grande do Sul, Um Século de História I e o Prêmio Açorianos de Literatura 2001, categoria especial, por Rio Grande do Sul, Um Século de História - I e II (Mercado Aberto, 1999/2000). Atuou em rádio e foi diretor da rádio da UFRGS por duas vezes.
Confira entrevista com Carlos Urbim na série "Ao Pé da Estante" de ZH, em 2011
Personalidades da cultura falam sobre Carlos Urbim
Também lecionou redação jornalística na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde conheceu a aluna Alice, que se tornaria sua esposa e passaria a usar seu sobrenome. Quando se tornou pai de dois meninos, Urbim adotou a rotina de chegar em casa e contar histórias a eles. Foi assim que despertou para a literatura infantil.
Em 2008, Urbim ingressou na Academia Rio-Grandense de Letras, onde ocupou a cadeira de nº 40. Em 2009, ano em que completou 25 anos de sua estreia na literatura, foi eleito patrono da Feira do Livro de Porto Alegre e fez jus a sua obra desempenhando o papel de "patrono das crianças". Também foi patrono da Feira do Livro de Caxias, em 2003, e da Feira do Livro de Passo Fundo, em 2012.
Além da mulher e dos filhos Glauco e Emiliano, deixa o neto Miguel.
*ZERO HORA