Sobrevivente de um acidente durante incursão em cânion em 2010 em Maquiné - na mesma região onde uma expedição terminou em duas mortes após ataque de abelhas no final de semana -, o catarinense Juliano Romancini, 43 anos, reviveu a própria experiência ao assistir às notícias nesta segunda-feira.
Há cinco anos, durante uma expedição de canionismo na Serra do Umbu, uma rocha caiu sobre o empresário, que teve a bacia fraturada. Após uma recuperação de quase um ano e uma sequela que limita os movimentos do quadril, Romacini, que teve a sua história contada em documentário do Discovery Channel, retomou a prática de desbravar cânions.
Confira todas as notícias sobre o acidente em Maquiné
Como aconteceu o acidente em 2010?
Estávamos em Maquiné para desbravar alguns cânions porque queríamos trazer para o Brasil, em 2012, o Encontro Mundial de Canionismo, e o local onde iríamos fazer o encontro seria Maquiné. Estávamos em um grupo de 16 atletas. Dois grupos foram para os cânions e um ficou dando apoio do lado de fora. Em um determinado momento, em que estávamos dentro de um dos cânions, uma pedra se desprendeu da parede e caiu sobre o meu quadril, ocasionando uma fratura na bacia. Acabei ficando 18 horas no local até a chegada do resgate e praticamente mais quatro horas até chegar ao hospital em Capão da Canoa.
Como foram essas 18 horas de espera pelo resgate?
Dividimos o grupo. Duas pessoas ficaram comigo e outras duas continuaram descendo o cânion para falar com a equipe de apoio, já que não havíamos conseguido um contato muito claro pelo rádio. Entre os dois que passaram a noite comigo, um tinha conhecimentos bastante avançados de primeiros socorros, o que ajudou muito na minha sobrevivência.
Foto: Adriana Franciosi / Agência RBS
E o socorro?
Eles (os socorristas) queriam me retirar por terra, porque na época tinham um helicóptero pequeno que não era específico para esse tipo de resgate. Só que, quando viram que a minha situação já estava bem complicada, tiveram de assumir o risco e me tirar por aquele helicóptero. Mas, entre a equipe de apoio chegar e me retirar, levou ainda mais uma hora e, por terra, mais três horas até chegar ao hospital. Entre o acidente e a entrada no hospital, levou quase 22 horas.
Após o acidente, continuou praticando canionismo?
Continuei praticando. Depois (do acidente), desci meu primeiro cânion em 2012, no Encontro Mundial de Canionismo em Minas Gerais. Claro, não é mais com a mesma intensidade que fazia antigamente nem nos locais tão técnicos. São lugares mais tranquilos em virtude da deficiência que fiquei no quadril, que me limita para fazer várias coisas. Mas, no geral, quando ainda há condições, pratico.
Chegou a passar pela sua cabeça nunca mais praticar a modalidade?
Não. Acredito que foi uma fatalidade. Não é porque aconteceu o acidente que você vai deixar de fazer algo que gosta.
Como foi a repercussão após o documentário do Discovery Channel?
Muitas pessoas se sensibilizaram com a minha história e acabaram entrando em contato comigo, pelas redes sociais. As pessoas que assistiram se sensibilizaram com a minha história. Vendo que a minha atitude de querer viver foi muito grande, muitas pessoas se inspiraram com a minha história, vendo que o problema delas não era tão grave quanto o que eu tinha passado. Teve uma mensagem bem bacana que passou para as pessoas, de não desistirmos da vida.
Vendo o noticiário sobre o acidente deste final de semana, passou um filme na sua cabeça?
Mais ou menos. Fiquei triste porque aconteceu justamente mais um acidente no esporte na mesma região que aconteceu comigo. Foi mais uma vez uma fatalidade. Realmente, na natureza, o bicho mais perigoso é a abelha, que foi o problema que aconteceu com esse grupo. Não sei o que aconteceu no momento, mas parece que eles entraram em desespero e pularam, caíram. Uma pena.
Veja imagens do resgate dos corpos nesta segunda-feira:
Confira imagens da operação para remoção dos corpos: