O ataque de abelhas que provocou a morte de dois praticantes de rapel em Maquiné, no Litoral Norte, foi o segundo caso que se tem registro no país em dois meses. Em novembro, dois alpinistas foram surpreendidos por um enxame quando faziam uma escalada em Andradas, no Sul de Minas Gerais. Davi Marski, de 42 anos, morreu em decorrência de choque anafilático e asfixia provocados pelo veneno dos insetos. Ele estava acompanhado do amigo e presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), Silvério Nery, que teve cerca de 400 picadas e ficou internado por mais de uma semana.
- É muito fácil entrar em pânico, porque é uma situação desesperadora. Vocês está pendurado no local e a quantidade de abelhas é uma coisa absurda, que provoca uma sensação de afogamento: elas entram pelo nariz, pelos ouvidos, pela boca - conta Nery, atualmente presidente licenciado da CBME.
Praticante de montanhismo há mais de duas décadas, Nery afirma ter a impressão de que os aventureiros estão mais sujeitos a um ataque de abelhas hoje do que no passado. Segundo ele, a confederação procura orientar os interessados a realizarem cursos e se informarem previamente sobre o local que será desbravado. Quanto às abelhas, não existe um procedimento padrão:
- Acho que os dois casos foram fatalidades. Nem sempre foi assim. A gente conseguia passar próximo de colmeias sem mexer com elas, mas hoje está ficando difícil. Então, talvez uma recomendação seja: não vá onde tem abelhas. Mas, se você está se aventurando e quer explorar, ninguém sabe exatamente se tem abelhas ou não, fora que elas podem formar colmeias de um ano para o outro.
Segundo especialistas, as abelhas estão em plena reprodução nesta época do ano e só atacam em situação de estresse.
Entenda como foi o acidente em Maquiné
"Todos que desciam caíam nas pedras", diz homem que caminhou 15 horas
Após a morte dos dois alpinistas gaúchos em Barra do Ouro, no interior de Maquiné, a prefeitura estuda sinalizar o local com placas de advertência. De acordo com o prefeito Alcides Scussel (PP), a ideia seria alertar turistas e aventureiros sobre os riscos da região de difícil acesso e mata fechada. Em 2010, dois escaladores da equipe que se acidentou no sábado - a Schuster Adventures - já haviam se perdido na mesma localidade.
- O perigo, muitas vezes, não está no local, e, sim, na pessoa que se expõe: se ela sabe usar os equipamentos, o que está fazendo ou com quem está. É difícil dizer se o episódio poderia ter siso evitado. Quem está na natureza, ao ar livre, está sujeito a intempéries, mas acho que foi uma fatalidade - avalia o presidente da Associação Gaúcha de Montanhismo, Rafael Caon.
Regulamentação de esportes de aventura foi arquivada em 2013
Em 2013, após oito anos de tramitação, um projeto que visava a regulamentação dos esportes radicais e de aventura foi arquivado pela Câmara dos Deputados. A proposta tinha sido apresentada pelo senador Efraim Morais (DEM-PB) em 2005, após a repercussão de um acidente com bungee jump que resultou na morte morte de uma estudante de 20 anos.
O texto foi aprovado, em decisão terminativa, pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado em 2010, mas acabou sendo rejeitado três anos mais tarde pela Comissão de Turismo e Desporto da Câmara. Pela proposta, as empresas ligadas ao ramo de turismo de aventura ou de esportes radicais seriam obrigadas a comprovarem a qualificação de instrutores e profissionais envolvidos na operação de equipamentos e no preparo dos locais. Na época, as entidades ligadas à área se posicionaram contra o projeto.
Veja fotos do local do acidente:
O acidente
O acidente aconteceu quando o grupo descia uma cascata de 130 metros de altura e as abelhas atacaram, por volta das 15h deste sábado. Na tentativa de fugir do enxame, um deles teria cortado a corda do equipamento e o outro fez uma descida brusca e não acionou os freios. Os demais conseguiram descer, mas também ficaram feridos.
Grupo de rapel havia sofrido incidente na mesma cascata em 2010
Dentre os cinco sobreviventes, Maicon Silva da Silva, 31 anos, e Luciano de Souza caminharam por 15 horas no mato para pedir resgate. Os outros três sobreviventes, identificados como Flavio Rodrigo da Rosa Lopes, 37 anos, João Batista Moreira Dias, 42, e Roberto Schuster, médico de 73 anos que liderava o grupo, ficaram no local aguardando o resgate, que chegou por volta do meio-dia de domingo. Até as 6h30min desta segunda apenas Schuster permanecia internado no Hospital de Tramandaí.
Especialistas explicam o ataque das abelhas
Veja o local onde aconteceu o acidente:
Em áudio, socorrista conta como foi o resgate:
Confira imagens do resgate: