Na véspera de receber uma homenagem no Litoral pela atuação noresgate em Maquiné, enfermeiros e médicos que compõem a equipe de resgate do Batalhão de Operação Aérea da Brigada Militar ficaram revoltados com a desqualificação de seu trabalho, feita pelo secretário da Saúde, João Gabbardo.
Na manhã desta quinta-feira, eles souberam pela imprensa que seriam desligados da operação e seu trabalho não era mais prioridade para o Estado.
Quatro dias após atuarem no resgate e salvamento do grupo que sofreu ataque de abelhas, a equipe conversou com a reportagem sobre a complexidade do ofício que realiza, com paixão e de forma quase voluntária.
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12 horas em QAP
Há quatro meses sem receber salário, a equipe não contesta a falta de pagamento. Tampouco reclama as condições de trabalho. Eles amam o que fazem e ficam em QAP (prontos, de acordo com o código de rádio transmissão) das 8h às 20h, com o uniforme, aptos a realizar qualquer tipo de salvamento. Incêndios, afogamentos, resgates na selva. O prazer deles é atuar em situações que envolvem risco. Trazer as pessoas de volta, com vida, é sua missão.
A reestruturação pretendida pelo atual secretário da saúde, segundo o capitão Felipe de Oliveira, do Batalhão de Operação Aérea, significaria a terceirização do serviço hoje viabilizado por convênio entre Samu e Prefeitura de Imbé. Contratar novos profissionais para a delicada função do salvamento aéreo em áreas de risco, de acordo com ele, é um retrocesso:
- As equipes particulares, de aeronaves contratadas, trabalham com regime de sobreaviso. Tem um demora de duas horas para chegar em relação à aeronave da Brigada, porque respeita outra legislação. A autorização para decolagem não é a qualquer tempo como a nossa. Tem que esperar pelo menos 45 minutos. E não podem pousar em qualquer lugar - explica o militar.
Extinguir essa equipe, na opinião de Oliveira, tiraria a velocidade de atendimento adquirida nos últimos dois anos. Se não tivesse enfermeiros e médicos nos salvamentos, explica ele, as chances de sobrevivência dos resgatados diminuiriam.
Convênio mudou perfil de salvamentos
Há cerca de três anos, antes da parceria com o Samu, os "atendimentos de misericórdia" do batalhão aéreo costumavam acontecer assim: com o militar e vítima dentro do helicóptero. Desde que foi firmado o convênio, a qualidade dos salvamentos melhorou consideravelmente, avalia o major Danúbio Lisboa:
- A gente chegava lá, juntava a vítima, fazia massagem cardíaca e deu, era melhor do que nada, mas não era o ideal. Nós ficamos bem mais tranquilos de fazer os resgates com o acompanhamento da equipe médica.
Também integrante da equipe, a enfermeira Joyce Kollet explica que a mesma capacidade técnica que reuniu o grupo é o divisor de águas na utilização adequada dos equipamentos adquiridos pelo último governo.
Segundo ela, os dois novos helicópteros do tipo Koala adquiridos pela última gestão estadual ampliaria a equipe e a estrutura do trabalho. Os helicópteros modelo 2014 teriam capacidade para transportar e prestar atendimento de duas vitimas por vez. Os Koalas poderão ampliar também serviço de transplantes no Estado.
A atual aeronave usada pela BM, modelo 1985 e com capacidade para transportar um paciente por vez, é dividida entre o Corpo de Bombeiros, aeromédicos, Polícia Civil e Federal:
- A gente ama o que faz. Nos sentimos sensíveis ao ouvir que nosso trabalho é dispensável. Estamos muito tristes.
* Zero Hora