Fernando da Silva, irmão de Dealberto Jorge da Silva Júnior, empresário encontrado morto no México no dia 11, voltou para o Brasil na última quinta-feira. Já o corpo do catarinense deve chegar ao País apenas nesta semana, quando será velado em Jaraguá do Sul.
Em entrevista exclusiva ao programa Fantástico, na casa do advogado da família, na cidade catarinense, ele reafirmou o que contou à polícia mexicana. Bastante abatido, Fernando admitiu para a repórter Kíria Meurer, que usou drogas e álcool com o irmão durante um festival de música eletrônica.
Especialistas explicam como a combinação de drogas pode ser fatal
Em entrevista, Fernando admite ter usado drogas com o irmão
Ele contou também que, após o consumo de entorpecentes, viveu momentos de horror e passou dias perdido, dormindo na rua, até que conseguiu entrar em contato com a família e pedir ajuda.
- Consumi alguma coisa que eu acreditava que seria ecstasy, mas na verdade não sei o que foi. Eu senti medo, eu senti pavor, eu senti que tudo que eu fazia as pessoas estavam me olhando, mas pessoas estavam batendo foto, as pessoas estavam tentando me ferir de alguma coisa.
Fernando disse ainda que ele e o irmão Dealberto não costumavam usar drogas e sofreram uma espécie de delírio de perseguição.
-Ele teve um pouco mais do que eu tive, porque ele estava muito apavorado, muito desesperado, eu lembro que ele só dizia pra mim "irmão foge, foge, vem comigo vamos sumir daqui, tem alguma coisa acontecendo".
O jaraguaense contou também que ele e o irmão consumiram drogas na companhia de uma russa. Mas que a história de perseguição, máfia e sequestro, que se alastrou após um áudio no qual Dealberto pedia socorro se espalhar pelo WhatsApp, não passou de alucinação.
Kíria Meurer - Que tipo de drogas vocês usaram?
Fernando Luis da Silva - O ecstasy.
Kíria - Como era, um comprimido, uma cápsula?
Fernando - Era um comprimido. Eu posso contar nos dedos quantas vezes eu usei este tipo de coisa.
Kíria - Quantas vezes?
Fernando - Acredito que cinco, seis no máximo... nunca fui uma pessoa de estar envolvida com drogas.
Kíria - Vocês tomaram quanto?
Fernando - Eu tomei meio e depois tomei mais meio, só que realmente eu não sei o que era, o que era isso, que tipo de droga era essa.
Kíria - Você acha que não era ecstasy?
Fernando - Eu acredito que não era ecstasy porque o estado em que eu fiquei e o estado em que eu vi o meu irmão... Era alguma coisa que mexeu demais com o nosso psicológico, com o nosso discernimento, com a forma de ver as coisas acontecerem.
Kíria - Como vocês tiveram acesso a esta droga, onde vocês compraram?
Fernando - Não me recordo agora como apareceu esta droga, de onde veio esta droga, e sim que eu consumi esta droga. Me ofereceram, eu aceitei. Pedi o que era disseram que era ecstasy. Como eu já havia tomado, pensei "é isso que eu vou tomar para que seja a festa que a gente imaginou que seria. A festa mais legal das nossas vidas". E foi a festa que tirou a vida do meu irmão.
Kíria - Vocês consumiram no hotel ou no local da festa?
Fernando - No local da festa.
Kíria - O que você sentiu em função da droga?
Fernando - Eu senti medo, eu senti pavor, eu senti que tudo que eu fazia as pessoas estavam me olhando, mas pessoas estavam batendo foto, as pessoas estavam tentando me ferir de alguma forma.
Kíria - Alguém efetivamente bateu foto, te ameaçou, tentou te ferir de alguma forma?
Fernando - Tudo que eu estava vendo lá naquele momento era real assim como você agora na minha frente é real. Então eu estava sob o efeito de uma coisa muito além do que seria o ecstasy.
Kíria - Mas agora, passado alguns dias, você acredita que sofreu algum tipo de perseguição?
Fernando - Não, de forma alguma. De forma alguma.
Kíria - Quanto tempo depois de ter tomado esta droga você sentiu que o efeito passou?
Fernando - Quatro dias, que foram os piores momentos da minha vida. Foram os piores dias da minha vida. A droga acabou com a minha vida, a droga tirou a pessoa que eu mais amava no mundo, que é o meu irmão. Sempre foi o meu melhor amigo, o meu parceiro, o meu sócio, tudo pra mim. A pessoas que eu mais amei na minha vida! A droga acabou com tudo! Eu gostaria de dizer para todas as pessoas, cuidem de seus filhos, repreendam, se necessário, vejam quem são as amizades que estão em volta dele e, por favor, não deixe isso acontecer com a família de vocês. Eu tenho um pai e uma mãe que não mereciam estar passando por isso. Eu só peço perdão a todos e, principalmente, a Deus, porque eu jamais queria que isso acontecesse com o meu irmão.
Kíria - Nenhuma outra vez que você usou ecstasy você teve este mesmo efeito?
Fernando - Nunca, nunca, as outras vezes que eu usei nunca chegou nem perto disso.
Kíria - Na tua opinião, Dealberto teria pedido socorro por que?
Fernando - Por estar transtornado, pelo efeito da drogas... O meu irmão, ele simplesmente entrou em um momento de loucura, de insanidade.
Kíria - Vistes o teu irmão cair?
Fernando - Não, eu não vi.
Kíria - Onde você estava neste momento?
Fernando - A gente estava fugindo muito daquilo que a gente achava que era real, como a gente não sabia pra onde ir e de quem exatamente a gente estava fugindo, a gente entrou num condomínio e começou a correr, correr, correr, pulamos cercas, pulamos grades, pulamos um monte de obstáculos que a gente imaginava que precisava passar por aquilo ali. Chegou um ponto que eu não aguentava mais, eu estava muito cansado e eu não sabia mais o que fazer.
Kíria - E você acha que a queda dele teria sido acidental, proposital ou criminosa?
Fernando - A queda do meu irmão, com certeza, acidental. Com certeza, acidental.
Kíria - Por quanto tempo vocês correram e fugiram?
Fernando - Horas, horas e horas... e aí eu cheguei pra ele e falei "irmão, eu não aguento mais, eu não consigo mais, eu não tenho mais força, eu não sei o que fazer, eu vou ficar aqui onde eu estou e eu vou rezar e pedir a Deus para que isso acabe e me tire daqui". Foi neste momento que ele não me escutou e sumiu. Logo depois eu desci, voltei pelo mesmo caminho, fiquei parado no meio da rua sozinho, sem saber o que fazer, foi onde então passou alguns instantes e ouvi muito barulho, sirene, polícia, e aí eu pensei que poderia ter acontecido alguma coisa com ele.
Kíria - Você teria discutido com a Katherine na entrada do hotel?
Fernando - Se eu discuti, foi por coisa boba que nem eu me recordo,. Todos estavam na mesma festa, todos consumiram a mesma coisa.
Kíria - Existe esta possibilidade do namorado da Katherine ter sentido ciúmes de vocês em algum momento e ter realmente perseguido vocês?
Fernando - Eu nem sei quem é, eu não sei quem ela é.
Kíria - Houve uma troca de passaportes. O teu passaporte foi encontrado com o Dealberto, como você explica isso?
Fernando - Quando eu retornei ao hotel para pegar as minhas coisas, antes de ter acontecido o que aconteceu com o meu irmão, eu cheguei ao cofre onde estavam os nossos passaportes e a nossa entrada e saída do México. Eu simplesmente peguei os dois e passei um para o meu irmão e fiquei com um, não cheguei a olhar qual era de quem.
Kíria - Por que você pegou estes documentos?
Fernando - Porque era a única coisa nossa que eu tinha de documentos. Como eu estava imaginando coisas e que poderiam acontecer coisas comigo, eu não tinha nenhum documento comigo, então o meu subconsciente dizia: busque um documento, busque um documento.
Kíria - Com a intenção de fugir?
Fernando - Não. Com a intenção de ter alguma coisa e, se realmente fosse acontecer alguma coisa, eu não fosse um indigente. Eu teria um documento junto comigo pra comprovar quem eu sou porque eu estou em um lugar totalmente diferente, sem amigos, sem família, sem ninguém. Então o meu transtorno foi muito grande.
Kíria - E o que vocês estavam fazendo perto daquele condomínio residencial onde o corpo do teu irmão foi encontrado?
Fernando - A gente estava fugindo.
Kíria - O que você acha que o teu irmão foi fazer naquele prédio?
Fernando - Não faço ideia. Não faço ideia. Fugir da mesma coisa que eu estava fugindo.
Kíria - Como foi o encontro com os teus pais?
Fernando - Foi muito difícil, muito difícil. Eu preciso ter muita força pra ajudar eles neste momento. Principalmente, quando meu irmão retornar.
Kíria - Tem previsão já de retorno dele?
Fernando - A gente acredita que na semana que vem.
Em áudio, procurador mexicano diz que grupo usou ecstasy e cocaína antes da morte acidental de Dealberto:
>> Autoridades do México afirmam que morte de jovem brasileiro foi acidental
Ouça o áudio recebido pelos amigos do catarinense: