O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) apresentou denúncia contra 48 pessoas ligadas às empresas Laticínios Lajeado, em Lajeado Grande e Ponte Serrada, e também Laticínios Mondaí, na cidade de Mondaí. Todos são suspeitos de integrar uma quadrilha especializada na adulteração de leite destinado ao consumo humano, além de crimes de falsidade ideológica, contra o consumidor e fraudes na criação de cooperativa. Em alguns casos, as penas sugeridas podem chegar, se somadas, a 100 anos de detenção. A Rádio Gaúcha tenta contato com as empresas.
A investigação comprovou que a quadrilha adicionava, de forma indevida ao leite in natura, produtos químicos como água oxigenada, soda cáustica e álcool etílico. Segundo a denúncia, a Lageado era uma cooperativa irregular criada para que a empresa pudesse aproveitar benefícios como linhas de crédito mais baratas. O grupo falsificava notas fiscais de produtos químicos, usados na adulteração do leite, e distribuía o produto a vários estados. Os crimes aconteciam desde o início de 2013.
Na Mondaí, a fraude ocorria há pelo menos seis anos. Segundo o Ministério da Agricultura, o leite recebido da empresa Mondaí é um dos piores de Santa Catarina, principalmente com relação à quantidade de bactérias. A carga bacteriana aceita é de no máximo 300 mil bactérias por ml de leite. Na Laticínios Mondaí, a carga traz entre 1,5 milhão e 2 milhões de bactérias. Com esta quantidade, o leite não resiste a longas viagens. Então, a empresa adicionava produtos químicos que mascaravam a contagem de bactérias, mas que foram detectados pelos testes do Mapa.
O Ministério Público pede a manutenção das prisões preventivas de 15 denunciados para que não interfiram nas investigações. Veja abaixo os produtos usados na fraude.
Hidróxido de sódio (soda cáustica)
Por ser um produto neutralizante de acidez, reduz o nível de acidez do leite e mascara a contagem de bactérias, fazendo com que um leite fora dos padrões de contagem microbiana aparente estar em condições regulares. Conforme a Anvisa, a soda cáustica é "uma substância corrosiva para todos os tecidos humanos e animais, que em contato com a pele provoca queimaduras severas. É considerado agente tóxico para ingestão." A segurança para o uso do químico na indústria de alimentos depende do grau de pureza.
As impurezas resultantes do método de fabricação podem ser metais pesados como Chumbo, Mercúrio. Como os denunciados utilizavam na adição ao leite a mesma soda cáustica industrial para limpeza do estabelecimento, contaminavam o leite com metais pesados, como o mercúrio.
Peróxido de Hidrogênio (água oxigenada)
A fraude por adição de peróxido de hidrogênio em leite cru é feita devido ao efeito antibacteriano do produto, permitindo que más condições higiênico-sanitárias sejam dissimuladas. O uso do peróxido de hidrogênio provoca a oxidação das gorduras do leite e a destruição das vitaminas A e E. Além disso, é um químico corrosivo que pode causar problemas gastrointestinais graves.
Álcool etílico
O objetivo do uso do álcool é aumentar o volume do produto vendido, alterando o valor nutritivo diante da adulteração. Além disso, segundo o Ministério Público, não há como saber a fonte do álcool etílico adicionado ao leite, podendo ser inclusive o etanol combustível, que pode ter resíduos de metais pesados.