A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, foi linchada por moradores do bairro Morrinhos, no município de Guarujá, litoral de São Paulo, após brincar com um menino que ela não conhecia e oferecer uma fruta para ele. Os moradores confundiram a mulher com uma sequestradora de crianças e ela acabou morrendo em função do espancamento.
De acordo com o primo da vítima, o ajudante-geral Fabiano Santos das Neves, 32 anos, no sábado passado, 3 de maio, enquanto caminhava pelo bairro, Fabiane viu uma criança sozinha na rua. Além de brincar com o jovem, ela teria dado uma banana para o menino - Fabiane havia feito compras instantes antes. Mas a mãe da criança viu a cena e achou que a desconhecida seria a tal "bruxa" que assombrava a região, boato que foi espalhado pelo perfil do Facebook chamado "Guarujá Alerta".
- Acho que acharam que ela iria roubar aquela criança. Começaram a agredi-la por causa disso. Ela já não conseguiu falar mais logo depois do primeiro golpe - conta Neves, que não testemunhou os fatos.
- Acontece que ela gostava muito de crianças. Além dos filhos dela, ela cuidava de outras três crianças durante o dia, que são filhos de uma sobrinha dela. Acho que brincou com aquele menino sem pensar - relata o primo da vítima.
A fúria das pessoas que participaram do linchamento fez com que a bíblia que Fabiane carregava fosse visto como "um livro satânico".
- Eles falaram que era um "livro satânico" e tentaram rasgar. Não viram que era uma bíblia. Fui eu quem tirou o livro do chão - explica a dona de casa Carla Rosane Cunha Viana, 47 anos, que testemunhou toda a ação.
Carla é uma das pessoas que aparece em vídeo publicado na internet sobre o caso, pedindo para as pessoas pararem com as agressões, mas sendo ignorada.
- A bruxa estava famosa no bairro. Ela e essas histórias de sequestro de crianças. Tanto que, quando pegaram a Fabiane, todo mundo começou a espalhar isso por mensagens. Veio gente de moto, de outros bairros, todo mundo veio ver a mulher. E demorou muito, ela apanhou, foi arrastada, jogada, demorou umas duas horas. Queriam colocar fogo nela, mas a polícia chegou antes - disse a dona de casa.
A Polícia Civil estima que até 1 mil pessoas tenham ido para o bairro assistir ao linchamento. O único homem preso até o momento, o eletricista Valmir Dias Barbosa, de 47 anos, afirmou que pelo menos 100 participaram diretamente das agressões.
O delegado Luiz Ricardo Lara Dias Júnior, do 1º Distrito Policial do Guarujá, ouviu duas testemunhas do crime nesta terça-feira. Outras duas pessoas foram ouvidas na manhã desta quarta-feira na Delegacia Seccional da cidade. A expectativa é que novas prisões sejam feitas ainda nesta quarta. Dias Júnior, no entanto, disse que ainda não tem informações suficientes para afirmar como que as agressões começaram.
Confundida com bruxa
Mulher linchada no litoral de SP foi confundida com bruxa
Vítima teria oferecido uma fruta a criança e moradores a confundiram com bruxa que assombra o bairro de Morrinhos, em Guarujá
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