O crescimento do MDB em 1974, único partido de oposição autorizado a funcionar após a extinção das siglas existentes em 1964, assustou o regime. Três meses depois do discurso em quem o presidente Ernesto Geisel prometia a "lenta, gradativa e segura" abertura, o MDB conquistava 44% das cadeiras da Câmara Federal e 16 das 22 vagas do Senado.
Enquanto isso, a campanha pela Anistia ganhava as ruas do país. Em 1978, Geisel decretou o Pacote de Abril, que determinava eleições indiretas para governador e a escolha de um terço dos integrantes do Senado. Assim, a Arena, partido do governo, aumentaria a bancada.
Meses depois, em dezembro, o AI-5 era revogado. No ano seguinte, já no governo de João Baptista Figueiredo, a lei da Anistia, que traria de volta ao Brasil lideranças como Leonel Brizola e Luis Carlos Prestes, era aprovada, como conta a professora da UCS, Eliana Xerri.
"Ditadura sempre é ditadura, mas a gente passa a viver a um momento de distensão. Em 1979, a pressão internacional e nacional leva à aprovação da Lei da Anistia".
O processo de abertura foi, de fato, lento. Apenas em 1985 os brasileiros voltaram a viver em um regime democrático. Um ano antes, a campanha Diretas Já ganhou as ruas do país. Os erros e acertos deste novo período são, segundo o sociólogo Sérgio Tieppo, normais. Para ele, quem defende a volta da ditadura não sabe o mal que ela representou para o país.
"As pessoas alimentam uma ideia de que com os militares, isso (problemas do país) poderia ser diferente, o que não foi, porque o que a gente conheceu foi um período em que a democracia não existiu, onde as pessoas não podiam contestar".
Em maio de 2012 foi instituída a Comissão Nacional da Verdade, que tem o objetivo de apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 1946 e 1988. Até o final do ano, o relatório produzido pela Comissão será entregue à presidente da República, Dilma Rousseff, presa e torturada durante a ditadura.
Para Gilles Gomes, secretário-executivo da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que entregou importantes documentos para a Comissão da Verdade, embora a ditadura tenha terminado há quase 30 anos, a cultura daquele período persiste.
"Essa cultura da repressão, que é legado da ditadura, está visível na ocultação de cadáver, no desaparecimento forçado, como integrou os noticiários no caso Amarildo (Amarildo de Souza, ajudante de pedreiro, que sumiu após ser levado por policiais militares para ser interrogado na sede da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha em julho de 2013). Está claro, é uma prática que tem relação com a ditadura".
Cinquenta anos depois do golpe, 148 pessoas permanecem, oficialmente, desaparecidas em todo o país. Foram 214 mortes durante os 21 anos de ditadura. Na Serra, não há registros de mortos e desaparecidos.
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