Na política de cotas da Academia de Hollywood, Nebraska é o filme independente da vez. O longa de Alexander Payne (Sideways, Os Descendentes) estreia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros.
Como os independentes de anos anteriores (Juno, Pequena Miss Sunshine, Adorável Sonhadora), Nebraska chama a atenção mais pelo tipo de sensibilidade que desperta do que pela inventividade comumente associada ao termo. Trata-se de uma história de redescoberta do afeto entre um pai e seu filho, muito bonita, porém, pontuada por alguns diálogos esquemáticos e uma comicidade às vezes muito interessante, noutras um tanto forçada.
São seis indicações ao Oscar, entre elas para melhor filme, direção e a linda fotografia em preto e branco de Phedon Papamichael, que explora com habilidade texturas e tons intermediários de cinza. Bruce Dern, 77 anos, corre por fora na categoria melhor ator. Ele já havia sido indicado antes (por Amargo Regresso, em 1979), mas o velhinho alcoólatra e confuso que recebe um folheto de publicidade e acredita ter ganhado US$ 1 milhão é o papel da sua vida.
Woody Grant (nome de seu personagem) ouve pouco e fala menos ainda. Teimoso, insiste em viajar 1,3 mil quilômetros, de Montana a Nebraska, para retirar o suposto prêmio. Ainda que a mulher dele (June Squibb) proteste, não há outra forma de aquietá-lo que não dirigir pelas planícies da região central dos EUA até o endereço indicado no folheto. Quem o conduz, iniciando uma jornada de reaproximação, é um de seus filhos (Will Forte).
Um incidente tragicômico (tudo é assim em Nebraska) os faz parar no meio do caminho, justamente em uma cidadezinha na qual os Grant viveram por muitos anos. A esposa e o outro filho (Bob Odenkirk, o Saul de Breaking Bad) vão ao encontro deles, completando a aventura em família.
Um dos aspectos mais interessantes do filme é a maneira generosa com que Alexander Payne recria o ambiente interiorano desbravado pelos Grant. As conversas, os pequenos conflitos, o estado de letargia - é como se voltássemos a Fargo (1996), substituindo o humor negro dos irmãos Coen por uma comicidade oposta, que eleva a inocência e vê dignidade na pureza.
Melhor de tudo: Nebraska traça o retrato de uma cultura localizada e, ao mesmo tempo, absolutamente universal. Quem for ao cinema será conduzido a uma viagem ao coração dos Estados Unidos, mas não se sentirá assim tão distante de pequenas comunidades de quaisquer outras regiões.
NEBRASKA
De Alexander Payne. Com Bruce Dern, Will Forte, June Squibb e Bob Odenkirk.
Comédia dramática, EUA, 2013. Duração: 110 minutos. Classificação: 12 anos.
Estreia nesta sexta-feira nas salas do país.
Cotação: 3 estrelas.