Clientes que deixaram de ir ao Mercado Público de Porto Alegre após o incêndio que destruiu parcialmente o piso superior, em julho do ano passado, terão um bom motivo para retornar a partir da próxima semana.
Cinco restaurantes e duas confeitarias do primeiro pavimento, fechados há seis meses, reabrirão provisoriamente no térreo.
Mas nem tudo é alegria. O atraso no repasse de R$ 19,5 milhões prometido pelo governo federal para a reforma da área danificada preocupa comerciantes e prefeitura. Segundo o vice-prefeito da Capital, Sebastião Melo (PMDB), a primeira parcela de R$ 6,5 milhões deveria ter sido repassada em dezembro, mas até agora não chegou. Por enquanto, a empresa que fará a reforma colocou apenas tapumes na área afetada pelas chamas.
- Estamos pressionando, ligando toda a semana para saber o que houve. Pedi para o prefeito falar novamente com eles - revelou Melo.
Enquanto a ajuda financeira não chega, os comerciantes do piso superior se viram do jeito que dá. No novo espaço, as sete cozinhas de gesso acartonado têm cerca de 20 metros quadrados cada e foram montadas no quarto quadrante, espaço geralmente ocupado por feiras e exposições. A praça de alimentação terá 110 mesas com 220 cadeiras e nove climatizadores de ar.
O engenheiro civil Régis Pegoraro, autor dos projetos elétrico e hidráulico, diz que o espaço já tem o Plano de Prevenção Contra Incêndio. Segundo o presidente da Associação do Comércio do Mercado Público, Ivan Konig Vieira, falta apenas a vistoria dos bombeiros, o que deve ocorrer nos próximos dias.
A notícia ameniza a frustração de comerciantes e trabalhadores diante do atraso da reforma. Há casos de garçons e cozinheiros que ainda estão desempregados, outros estão recebendo o seguro-desemprego ou sendo pagos pelos patrões. Dono do restaurante japonês Sayuri, Francisco Assis dos Santos Nunes sonha com esse retorno há um semestre.
- Estamos esperando. Mantive os seis funcionários para não perder a qualidade na produção da comida e no atendimento - disse Francisco.
Boa parte dos permissionários do térreo ainda não se recuperou do prejuízo causado pelo fechamento do prédio por 38 dias. Um dos proprietários da Panificação e Confeitaria Copacabana (lojas 131 a 137), Angelo Bessa, 69 anos, não se refez ainda do tombo. Desde a abertura do ponto, em 1964, a padaria nunca ficou de portas fechadas por tanto tempo. O quadro de funcionários caiu de 63 para 58, mas a perda maior foi com a mercadoria perecível.
- Nesse período, os clientes criaram novos hábitos, procuraram outros lugares e ficaram. Deixei de entregar pães para restaurantes e lancherias pelo mesmo motivo - lamentou Bessa, que teve prejuízo de cerca de R$ 180 mil e, após a reabertura, enfrenta queda de 25% no movimento.
A Barbearia Central, um dos poucos serviços que funcionam no pavimento superior, perdeu metade da clientela. Segundo o barbeiro Miguel Silva, 48 anos, antes do incêndio ele atendia de 20 a 30 pessoas por dia. Agora, não passam de 15.
- Muitos não retornaram porque imaginam até hoje que, por estar na parte de cima, a barbearia segue fechada. A interrupção do atendimento no posto do Banrisul, no Telecentro e no SPC, locais que atraíam muita gente, também contribuiu para a queda no movimento - explicou Silva.
Acostumado a vender os produtos mais caros no sábado, o gerente da banca 16 (Rancho Gaúcho), Roberson Groff, 42 anos, tem uma explicação para esta dificuldade. Segundo ele, houve mudança no perfil do público que frequenta o Mercado no fim de semana.
- Antes do incêndio, as famílias aproveitavam o estacionamento no Largo Glênio Peres para virem almoçar. Depois, passavam pelas bancas e compravam os melhores itens. Hoje, elas passam e vão embora porque os restaurantes de cima estão fechados.