Nova promessa de obra aos gaúchos, o Aeroporto Internacional 20 de Setembro não será mais construído na área proposta inicialmente. Como iria interferir no espaço operacional da Base Aérea de Canoas, o terminal deverá ficar só em Portão, a 50 quilômetros da Capital, numa área rural de 2,1 mil hectares.
Diretor-geral da Secretaria de Infraestrutura e Logística (Seinfra) do Estado, Alexandre Stolte esclareceu ontem que a mudança foi necessária em razão de alertas do Ministério da Aeronáutica. Antes posicionado entre Nova Santa Rita e Portão, o futuro aeroporto será deslocado cinco quilômetros a noroeste, localizando-se somente no segundo município.
- Seria ruim iniciar o plano de um aeroporto internacional já com alguma restrição. Foi uma decisão técnica - justificou.
Stolte ressalvou que não existe sequer um projeto de aeroporto, a fase é de coleta de "informações preliminares", que depois serão apresentadas ao governador Tarso Genro. Nem há prazo para que isso ocorra. Também não existem estimativas sobre o custo, não está definido quem pagará a construção e quando começariam as obras.
A mudança da área escolhida foi acertada na terça-feira, durante reunião da Seinfra com o Comitê Pró-Aeroporto Internacional 20 de Setembro - a data homenageia a Revolução Farroupilha (1835-1845). Foram decididas algumas ações. A primeira é examinar a área do futuro terminal, a cargo do prefeito em exercício de Portão, Araí Cavalli (PMDB).
Ontem, o prefeito encaminhou o decreto que torna dá caráter de utilidade pública ao local. A próxima etapa será o cadastro dos proprietários, para calcular as indenizações pelas terras. Cavalli afirmou que a área fica a cinco quilômetros do centro de Portão, na confluência das localidades chamadas Socorro e Sanga Funda.
- Devo terminar a minha parte até 15 de fevereiro - anuncia.
Área é considerada ideal para acessos
Reforçando que o 20 de Setembro "é uma intenção", não um projeto em andamento, Stolte disse que é necessário planejar um aeroporto internacional para o futuro, porque o Salgado Filho chegará ao limite, sem poder absorver o crescimento de passageiros e de carga. O novo será dimensionado para um movimento de 25 milhões de passageiros por ano.
Se o prazo for cumprido, a Secretaria da Aviação Civil (SAC) deverá ter uma estimativa sobre o volume de passageiros em abril. Avaliações sobre o potencial econômico das cargas serão feitas mais adiante - a data não foi marcada.
Portão é considerado estratégico, geograficamente, por ligar a Região Metropolitana de Porto Alegre e os vales do Rio do Sinos e do Caí. Também facilitaria o acesso para os municípios da Serra, especialmente os polos de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, que reclamam da falta de aeroportos para exportar suas produções.
Obras no Salgado Filho
O anúncio de que o Estado planeja um novo aeroporto internacional agrada ao diretor-executivo da Agenda 2020, Ronald Krummenauer. Mas ele avisa que o projeto não deve significar o abandono do Salgado Filho, cujas obras de ampliação estão devagar, quase parando.
Krummenauer lembra que a construção do aeroporto 20 de Setembro, se for adiante, poderá demorar de 10 anos a 15 anos. Pondera que é o tempo mais do que suficiente para dotar o Salgado Filho de pista ampla e equipamentos modernos.
O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, entende que a destinação do Salgado Filho, em função do 20 de Setembro, poderá ser resolvida mais adiante. Müller elogia o projeto do novo terminal, mas lembra que a localização do atual é "esplendorosa".
A segunda decepção de Nova Santa Rita
O anúncio de que o futuro Aeroporto Internacional 20 de Setembro será erguido em Portão, para não atrapalhar as operações da Base Aérea de Canoas, é a segunda decepção sofrida por Nova Santa Rita.
Em 1998, a Gerdau planejou implantar uma fábrica de laminados a frio no município para abastecer o setor automotivo, mas cancelou o investimento de R$ 350 milhões quando a Ford desistiu de se instalar em Guaíba.
A prefeita de Nova Santa Rita, Margarete Simon Ferretti (PT), evita falar em frustração. Observa que os técnicos da Secretaria de Infraestrutura e Logística (Seinfra) já vinham alertando que a localização do aeroporto poderia mudar, mais para o oeste, devido às restrições operacionais levantadas pela Aeronáutica.
- Recebemos a confirmação do que já sabíamos de antemão. Entendemos que é uma decisão técnica - diz Margarete.
A prefeita pondera que não adianta se lamentar sobre o inevitável. Destaca que Nova Santa Rita buscará os benefícios laterais que a construção do aeroporto internacional deverá proporcionar à região. Espera que o município possa receber hotéis, empresas e parte da logística que cerca um terminal de passageiros e de carga. Lembra que já está sendo contemplado pelos efeitos da Rodovia do Parque, recém-inaugurada.
- Se não dá com uma coisa, tenta-se outra. Acredito que a comunidade vá superar. O importante é que o aeroporto fique por aqui - ressalta Margarete.