"É fácil amar a humanidade; difícil é amar o próximo". O escritor e economista Rodrigo Constantino se apoia numa dessas verdades que ninguém gosta de admitir (e que foi honestamente traduzida por Nelson Rodrigues em uma única frase) para começar o que chama de tratado sobre a hipocrisia. Em Esquerda caviar (Editora Record), livro que será lançado nesta terça em Florianópolis, ele atualiza o termo esquerda festiva em uma provocante, polêmica e por que não irritante análise da ideologia e prática de artistas e intelectuais do Brasil e do mundo.
- É sobre um grupo de pessoas, não só artistas e intelectuais, que colocam as aparências acima de resultados concretos; a emoção acima da razão. Gente que está mais preocupada em parecer ser do que necessariamente ser - dispara o carioca de 37 anos.
Constantino sentia-se transtornado ao ver pessoas de classe média alta com camiseta de Che Guevara sem conhecer a ideologia do guerrilheiro ou os que criticam o capitalismo, mas desfrutam das benesses que o sistema oferece. Para o autor, essa contradição é bem representada principalmente por artistas e intelectuais que - por narcisismo, culpa ou oportunismo - defendem modelos revolucionários e soluções utópicas para a sociedade em nome da vaidade e da tal da feel good sensation.
A obra é dividida em três partes. Na primeira, O Fenômeno e suas Origens, o economista enumera 20 possíveis causas para a esquerda caviar. O título do livro, a propósito, vem do termo francês gauche caviar, que no bom e velho português quer dizer a hipocrisia dos que defendem causas nobres muito mais para parecer ser legal que por causa dos resultados concretos daquilo que prega. O autor não economiza julgamentos pesados ao elencar fatores como tédio, ignorância, preguiça mental, covardia, alienação e infantilidade entre as origens desse movimento.
Na segunda parte, As bandeiras, ele enumera alguns dos lemas adotados pelos membros da esquerda caviar. São bandeiras como salvar o planeta, proteger os índios, cuidar das crianças africanas, enfrentar os ricos capitalistas em nome da justiça social, pagar a dívida histórica com os negros, para citar alguns.
- Mostro que são bandeiras ocas. Só porque coloca Guarani Kaiowa no Facebook a pessoa se sente melhor, mas na verdade não fez absolutamente nada por eles.
Não aos politicamente corretos
Rodrigo Constantino dedica boa parte de sua artilharia aos politicamente corretos, que segundo ele usam eufemismos para se sentirem melhores.
- "Pobre não mora na favela, mora em comunidade". Dizer que mora numa comunidade não vai melhorar a vida dos pobres - ataca.
Para ele, o politicamente correto destrói possibilidades de uma discussão séria dos assuntos que realmente importam. Por isso ele faz questão de elencar na última parte do livro, Os Ícones, uma lista de celebridades, artistas, políticos, intelectuais e gurus, os quais chama de "boçais úteis" e acusa de viverem uma vida diametralmente opostas ao que dizem.
Chico Buarque, Gandhi, John Lennon, o casal Brad Pitt e Angelina Jolie, Bono Vox. Nem Barbra Streisand e Oscar Niemeyer escaparam da biografia conspiratória de Constantino.
O autor não se considera nem de esquerda nem de direita e sim um antiesquerda. Autor de sete livros, entre eles Prisioneiros da Liberdade, ele diz rejeitar toda a forma de coletivismo e ter o foco na liberdade individual. Atualmente o economista é colaborador do jornal O Globo é blogueiro da revista Veja.
Esquerda Caviar, de Rodrigo Constantino. Editora Record, 434 pág. R$ 42 (preço médio)
:: Agende-se
O quê: Lançamento do livro Esquerda Caviar, bate-papo e sessão de autógrafos com o autor Rodrigo Constantino
Quando: Terça-feira, 19h30min
Onde: Livrarias Catarinense do Beiramar Shopping (Rua Bocaiúva, 2.468, Centro, Florianópolis)
Quanto: gratuito
Informações: (48) 3271-6030