Aos seis anos, Bruna Variani carrega com dificuldade o regador cheio de água. Apesar do peso, leva-o com cuidado até o pé de araçá da entrada de casa, sob o olhar orgulhoso da mãe.
A menina rega a planta e parte para a diversão: brincar com a terra molhada. A cena comum à família de Casca, no Norte, é fruto de um programa que nasceu com a pequena. Bruna foi escolhida para inaugurar o Projeto Casca Acolhe Vidas, que dava a cada criança nascida no município uma muda de araçá e uma placa com o nome e a data de nascimento dos participantes. Os bebês e as famílias recebiam a missão de zelar pelas plantas. Sem saber como mensurar o crescimento da muda nestes seis anos, Bruna escolhe uma explicação didática:
- Era tão pequeninha que eu podia sentar nela. Agora, nem pulando eu pego as folhas.
A mãe, Ivanir Variani, 37 anos, comenta que a pequena cresceu tendo uma relação de amor com a planta. Na escola, costumava contar aos coleguinhas que era dona de uma árvore da idade dela, que estava enorme. À reportagem, Bruna chegou a dizer que a árvore estava maior do que um jacaré.
Em 2007, quando o projeto teve início, a irmã Camila - na época com quatro anos - reivindicou uma árvore. Como o programa era direcionado a recém-nascidos, coube ao avô Bento Variani, 64 anos, atender ao pedido. O agricultor telefonou para a prefeitura e conseguiu outra muda de araçá, plantada ao lado da árvore de Bruna. Hoje, é ele quem poda as plantas. Com 10 anos, Camila descreve a relação do araçá com o município de Casca:
- Estudei na escola que o nome da cidade é por causa da casca do araçá.
E é mesmo. Os primeiros moradores do município usavam a casca da árvore para curtir o couro retirado do gado da região. A abundância da planta deu origem ao nome da cidade.
Passo Fundo investe em iniciativa semelhante
A mãe das meninas de Casca, Ivanir Variani, conta que a iniciativa de presentear as crianças com árvores foi essencial para criar uma relação entre as duas e a natureza. Para o futuro, o sonho da mãe é que as árvores possam sustentar balanços para as filhas brincarem. Seria uma espécie de retribuição ao cuidado das guardiãs. Na cidade de aproximadamente 8,6 mil habitantes, cerca de 40 bebês participaram do projeto. A iniciativa, hoje extinta, é semelhante a uma ação agora desenvolvida em Passo Fundo, também no Norte.
Com a meta de arborizar todas as áreas de lazer, a prefeitura lançou, em junho, o programa Uma Criança, Uma Árvore. Ao final de cada mês, a administração levantará o número de crianças nascidas no município e plantará uma quantidade correspondente de árvores. O objetivo do projeto é realizar o plantio de mais de 10 mil mudas em quatro anos.
O programa também incentiva a adoção de árvores por associações de bairros, empresas ou até individualmente. Quem tiver interesse de adotar uma árvore pode entrar em contato com a Secretaria de Meio Ambiente, que doará a muda e fará o plantio. A partir daí, os moradores deverão ser responsáveis pelos cuidados com a planta.
A iniciativa prevê, ainda, a preservação de áreas verdes e a recuperação das margens do Rio Passo Fundo. Em junho, foram plantadas
240 mudas, referentes aos nascimentos de maio. Neste mês, devem ser plantadas mais cerca de 200 árvores. Para garantir o plantio, o levantamento de nascimentos é feito com auxílio do Cartório de Registro Civil do município.