No canteiro, há troncos e galhos secos. A poucos metros, na calçada, outras árvores estão verdes e, ao menos aparentemente, saudáveis. Esse contraste - verificado no corredor de ônibus da Avenida Osvaldo Aranha, na altura do Instituto de Educação, na Capital - causou estranheza e ganhou repercussão na internet. Conforme a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), uma doença vem atingindo as plantas nos últimos anos.
Uma série de 26 fotos mostrando o estado dos jacarandás dos canteiros centrais da Osvaldo Aranha, publicada pelo arquiteto e paisagista Luiz Pinheiro em sua página no Facebook na última quinta-feira, disseminou-se no meio virtual. Até o domingo, as imagens tinham sido compartilhadas por mais de 1,4 mil pessoas.
Proprietário de uma floricultura na Zona Sul, Pinheiro fotografou a rua alertado por pessoas conhecidas que haviam passado pela região.
- Os jacarandás do canteiro naquela região estão todos secos, e os da calçada estão vivos. Na altura da Lancheria do Parque, por exemplo, estão todos vivos também - comenta Pinheiro, para quem as obras no corredor de ônibus seriam a provável causa do fenômeno.
A bióloga Regina Patrocínio, gerente da Zonal Centro da Smam, diz que aquelas árvores vêm sendo monitoradas nos últimos dois anos. As plantas seriam vítimas de uma doença ainda em estudo, verificada também em jacarandás de outros pontos da cidade, como a Avenida Praia de Belas e a Rua Felipe Camarão.
Em torno de 80 árvores dos canteiros da Osvaldo Aranha foram removidas em função desse caso, e mais unidades serão retiradas, para posterior replantio, ainda este ano.
- Antes da obra (do corredor de ônibus), isso já estava acontecendo - destaca Regina. - Também se constatou que o solo dali é muito arenoso, e com isso as árvores não conseguem absorver toda a água de que necessitam.
Um outro fator que pode ter contribuído para secar os jacarandás é a poluição do ar. O biólogo Albano Schwarzbold, professor aposentado do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que vem observando uma mortandade gradual nas árvores daquela região nos últimos anos - e acredita que o ar poluído é a principal causa desse fenômeno.
- Não se pode dizer que as árvores das fotos estejam mortas ou não, mas estão definhando - diz Schwarzbold. - Também teria de ser verificado, mas é possível que o serviço no corredor de ônibus, que envolveu escavações, tenha eliminado parte das raízes daquelas árvores.
O contraste com a vegetação da calçada também se explicaria, segundo Schwarzbold, pelo fato de ali estarem árvores de outras espécies, além dos jacarandás. As palmeiras do canteiro central, por exemplo, estão junto aos jacarandás secos, mas teriam uma resistência maior.
- As palmeiras são mais tolerantes à poluição. E têm raízes em forma de tufos, mais concentradas, então ficariam menos prejudicadas - diz o biólogo.