Se nas cadeias nenhum preso pode ficar mais de 30 anos, a internação nos institutos psiquiátricos forenses pode ser para a vida toda. São pacientes que cometeram crimes sem ter consciência do que faziam. Os doentes mentais cumprem medidas de segurança, que começam com prazo mínimo de um a três anos. Na prática, podem nunca mais sair, porque dependem de parecer médico assegurando que não oferecem mais risco à sociedade. O interno mais antigo do Instituto Psiquiátrico Forense, em Porto Alegre, chegou em 1985 após matar o pai. Atualmente com 51 anos de idade, Gérson completou 28 anos entre os muros do IPF, na Avenida Bento Gonçalves.
- Eu quero ir embora. Eu tenho segundo grau completo. Eu sei cuidar de mim - diz o paciente manifestando o desejo de sair.
Atualmente, ele está hospitalizado com tuberculose. A medida de segurança foi prorrogada no ano passado. Ele é esquizofrênico e diz que o tratamento mudou muito nestas quase três décadas. Conta que o contato com os médicos é mais próximo hoje. Os medicamentos também apresentam resultados melhores.
Saiba mais:
O Instituto Psiquiátrico Forense tem aproximadamente 440 internos. As mulheres representam de 10% a 15%. Um quarto dos internos fica em unidades fechadas, porque representam perigo para os outros. Os demais estão em unidades abertas, com possibilidade de circulação no pátio. Se estiver em alta progressiva ou com medida de segurança extinta, pode sair para a rua. No pátio, Osvaldo, de 52 anos, mostrou animado um desenho.
- Eu desenhei uma casa. Eu quero ir para casa, não gosto daqui - revela.
João, conhecido como Poeta, disse que chegou depois de um homicídio e três tentativas. Contou que matou o pai. Na verdade, está lá por ter cometido estupro. Ele quer sair e voltar a morar perto de familiares.
- Eu me sinto melhor aqui, com medicamento, sem beber. Meu problema é o alcoolismo. Agora, me sinto mais calmo - conta otimista.
João sonha com uma vida melhor. Ganhou o apelido depois que eternizou num livro da Susepe seus sentimentos. Os internos com o quadro mais controlado participam de atividades coletivas externas, como ir ao teatro ou até a praia no Litoral Norte.
Ouça a reportagem de Leandro Staudt
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