Sentada no colo da mãe, Rakelly, três anos, aponta para a planta da futura casa e mostra animada onde será seu quarto: "É aqui que vou dormir". Aos 31 anos, a moradora de Passo Fundo, no Norte, Raquel Cardoso Almeida, cria sozinha a menina e a primogênita Tassiane, 14 anos.
Desempregada, ela comemora ter conseguido uma vaga no projeto habitacional Canaã, que construirá 210 casas ecológicas para famílias de baixa renda. Além de conquistar o imóvel próprio, ela economizará água e energia elétrica com a nova residência.
As casas, de 45,19 m² casa, são destinadas a famílias com renda de até R$ 1,6 mil e terão sistema de energia solar e cisterna, para captação de água da chuva.
- Vou parar de pagar aluguel e ainda gastarei menos com as contas. Com a casa, poderei guardar dinheiro para abrir meu próprio negócio e passar mais tempo com as minhas filhas - planeja Raquel.
O projeto foi idealizado pelo Grupo de Mulheres Unidas Venceremos, que reúne cerca de 90 moradoras do loteamento Leonardo Ilha. A coordenadora da entidade, Jozelina dos Santos de Almeida, 59 anos, conta que, em 2009, o grupo foi convidado pela Caixa Econômica Federal a criar um projeto que se enquadrasse no programa Minha Casa, Minha Vida-Entidades:
- Fomos desafiados e resolvemos encarar - relata Jozelina.
Surgiu, então o projeto Canaã. No início, o novo loteamento, que ficará próximo ao Leonardo Ilha, previa construir apenas 117 casas. Um ano depois, em 2010, a iniciativa foi ampliada, com a criação do Canaã II, em uma área ao lado, para a construção de mais 93 residências. A área total do investimento tem 9,4 hectares.
Famílias receberão cursos de economia doméstica
O maior diferencial da iniciativa foi a preocupação da entidade com o meio-ambiente. Segundo o engenheiro Paulo Ricardo Barriquel, responsável pelo projeto, o sistema de captação de energia solar será utilizado para aquecer a água dos chuveiros, que já estarão instalados nas residências. Com o equipamento, conforme o especialista, será possível reduzir de 20% a 30% o consumo de energia elétrica mensal das famílias.
Já as cisternas, que serão de mil litros cada, captarão água da chuva e abastecerão a torneira do jardim e o vaso sanitário. Esta água poderá ser usada para regar as plantas, lavar as calçadas e carros.
- Com o sistema, cada família poderá economizar cerca 900 litros de água por mês - esclarece Barriquel.
O loteamento ainda terá sistema de coleta de esgoto cloacal e passeio público arborizado. O engenheiro explica que serão plantadas cerca de 210 árvores ornamentais no Canaã. As famílias também receberão cursos de como usar os sistemas de aquecimento solar e cisternas, além de palestras sobre temas como economia doméstica e meio-ambiente.
Aprovado pela Caixa Econômica Federal e pelas concessionárias de água e luz, o Canaã espera um aval da prefeitura de Passo Fundo para que a construção inicie. Segundo o secretário de Obras João Antônio Bordin, o projeto já foi aprovado em primeira fase e deve ser liberado em breve. A expectativa do grupo de mulheres é que as obras possam começar em junho. Depois da aprovação do município, o grupo tem prazo de dois anos para entregar a residência aos beneficiários, que são de vários bairros de Passo Fundo.
- Recebemos muita procura de famílias que querem uma casa própria e tivemos que criar uma lista de espera. Cerca de 70% dos beneficiários são mulheres chefes de família - explica Jozelina.
Cada residência custa R$ 60 mil e será paga em dez anos, em parcelas mensais de 5% da renda familiar, sem juros. O restante do valor dos imóveis é subsidiado pelo Fundo de Desenvolvimento Social, do governo federal.
Faculdade de arquitetura auxiliará em projetos de ampliação
Para o eletricista Carlos Eduardo de Souza, 24 anos, inscrito no projeto Canaã deste 2010, a casa própria representa uma mudança no estilo de vida da família. Ele pretende destinar o que gasta hoje com o aluguel da casa onde mora com a mulher e a filha de cinco anos para a ampliação do imóvel próprio, criando uma pequena oficina.
Com objetivo de auxiliar as famílias em projetos como este, de ampliação das residências, o Grupo de Mulheres Unidas Venceremos e o curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Meridional (IMED) firmaram um convênio, em 2011. Dois professores e sete alunos bolsistas -do grupo de pesquisa "Arquitetura Sustentável de Interesse Social" - trabalharão em projetos especiais para as famílias.
A coordenadora do grupo, professora Anicoli Romanini, explica que um questionário sobre o interesse de ampliação das casas foi aplicado com cada família, para que os projetos possam ser elaborados.
- Há beneficiários que querem construir mais quartos para os filhos, e outros que querem criar salas comerciais, como, por exemplo, um salão de beleza. Atenderemos todas as demandas - afirma.
Como tornar sua casa mais sustentável
- Os sistemas sustentáveis usados no projeto Canaã podem ser instalados em qualquer residência e auxiliam na economia de água e energia elétrica.
- O equipamento para energia solar, que conta com três placas de captação e um reservatório de 200 litros de água, é usado para aquecer a água do chuveiro e custa, com a instalação, cerca de R$ 3 mil. Ele reduz de 20% a 30% o consumo de energia elétrica por mês.
- Já uma cisterna de mil litros, com sistema para o abastecimento de uma torneira e do vaso sanitário, custa aproximadamente R$ 2 mil e pode economizar até 900 litros de água por mês. Um modelo mais simples, de 500 litros, que apenas abastece uma torneira, sai por cerca de R$ 500 e a economia depende de cada usuário.
Lar sustentável
Casas ecológicas serão construídas a famílias de baixa renda em Passo Fundo
Residências terão sistema de energia solar e cisternas para captação de água da chuva
Fernanda da Costa
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