No feriado do Dia da Pátria do distante 1962, a Dupla jogou em Rio Grande o primeiro Gre-Nal fora de Porto Alegre. O clássico 161 foi amistoso e valia a Taça Jubileu de Prata da Refinaria Ipiranga. O Inter saiu na frente, mas o Grêmio virou e venceu: 2 a 1.
Nas orações noturnas, Rio Grande pediu sol na sexta-feira, feriado nacional. Choveu de madrugada, o tempo ruim avançou, as nuvens carregadas ocuparam a tarde, escureceram o campo de jogo. O bem cuidado Estádio Waldemar Fetter, do Sport Club São Paulo, na Avenida Presidente Vargas, sofreu com a chuvarada. Num dia sem luz, os guarda-chuvas pretos abertos deram o tom nas arquibancadas com um público quase 100% masculino e adulto. Quase não se viu bandeiras. Camisetas vestindo torcedores era raridade.
O primeiro Gre-Nal disputado no Interior, no dia 7 de setembro de 1962, nasceu como puro amistoso. Valia a Taça Jubileu de Prata da Refinaria Ipiranga. A renda gerada pelo jogo receberia lugar nos magros cofres de entidades carentes da cidade do sul do Estado, a mais de 300 quilômetros de distância de Porto Alegre.
Os dois mais populares clubes do Rio Grande do Sul aceitaram logo o convite especial. Ficaram honrados. Prometeram viajar com os melhores, usar o menor número de aspirantes possíveis. Só os machucados ficariam em casa.
Depois de atuar durante seis ininterruptas décadas na Escola de Guerra, na Chácara dos Eucaliptos, na Baixada, na Chácara das Camélias, no Campo do Porto Alegre, no Tiradentes, na Timbaúva, na Montanha, no Passo da Areia, nos Eucaliptos e no Olímpico, seria bom fazer uma apresentação no Interior, onde a torcida crescia em número e em fanatismo, tudo verificado no árduo Campeonato Gaúcho. O jogo seria um brinde aos torcedores e, claro, uma boa ação.
O clássico ganhou sotaque de Gauchão logo nos gestos iniciais dos 22 jogadores. Mesmo na metade do século passado, jogo de cortesia não fazia parte do DNA da Dupla.
O coro engrossou de saída, segundos depois da primeira tentativa de drible. O barro batizou as chuteiras e lubrificou os carrinhos. As antagônicas camisas azuis e vermelhas refletidas na água acumulada na grama rala acirrou a disputa. Nada de violência, só entradas firmes, viris, atípicas em amistosos, como garantiam os cartazes que convocavam o público.
Na semana anterior, o Inter havia pedido que a federação gaúcha importasse um árbitro argentino. O clube estava desconfiado com a arbitragem brasileira. A reinvidicação não foi aceita, nem com explicações e longas reuniões, e o local Mário Severo ganhou o apito. Os dirigentes gremistas se mantiveram à parte na discussão.
Quinta-feira, 24 horas antes do Gre-Nal, dois ônibus deixaram os pátios dos estádios Olímpico e Eucaliptos quase no mesmo horário. Pedro da Silva Pereira liderava a delegação dos azuis. Luiz Fagundes de Mello, sentado no primeiro banco, comandava os outros 17 jogadores.
Se quisessem relaxar mais tarde, poderiam assistir ao premiado O Pagador de Promessas, com Leonardo Villar, ou Feitiço Havaiano, com Elvis Presley, que estavam em cartaz nos cinemas de Rio Grande. Não poderiam, com certeza, espichar a noite. O sono noturno era uma obrigação do jogador de futebol desde muito tempo.
Líder do campeonato regional, com quatro pontos perdidos, conforme a contagem da época, quando a vitória valia apenas dois pontos e não três como hoje, dois na frente do tradicional adversário e do Floriano, de Novo Hamburgo, o Inter começou no ataque. Acelerou. Quatro clássicos sem vitória, pressionado, o histórico centroavante Flávio Minuano fez 1 a 0 logo aos cinco minutos.
O Grêmio reagiu oito minutos depois, com um gol de Elton, que estava na mira do Botafogo. Ele marcou de pênalti, quase um canhão no canto de Gainete. A virada gremista nasceu logo depois do intervalo, obra do goleador Marino. Outras chances de gols nasceram em ambos os lados. O escore se acomodou no 2 a 1, muito pelas performances de Henrique e de Gainete.
Os times jogaram assim:
Grêmio: Henrique, Valério, Airton, Altemir e Ortunho; Elton e Milton (Fernando); Adroaldo, Gessy, Marino e Volnei II.
Inter: Gainete; Zangão, Ari, Cláudio e Ezequiel; Osvaldinho e Gilberto; Sapiranga (Bedeuzinho), Alfeu, Flávio e Bedeuzinho (Sérgio Lopes) - Bedeuzinho saiu e voltou.
No final, os jogadores se cumprimentaram, sem troca de camisas, os dirigentes se abraçaram e a plateia, encharcada, aplaudiu. As delegações jantaram em locais separados e tomaram rapidamente a estrada de volta. Os atletas não ganharam folga. Continuaram em ritmo de concentração.
Domingo, dia 9, 48 horas depois do primeiro enfrentamento no Interior, outro compromisso com a bola animava os times. O Olímpico receberia o Gre-Nal 162, válido pelo Dia do Cronista.
O torcedor que comparecesse ao estádio concorreria a um fogão Wallig e poderia ouvir as bandas dos colégios das Dores e do Rosário, antes de uma revoada de pombos.
Ah, o resultado foi 1 a 1, gols de Milton e Zangão. O sol inundou a tarde do Olímpico.
História
Em 1962, o Gre-Nal 161 foi o primeiro disputado no Interior do Estado
Clássico valeu pela Taça Jubileu de Prata da Refinaria Ipiranga, e Grêmio venceu por 2 a 1
Luiz Zini Pires
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