Na segunda-feira, enquanto caminhava pela Rua Riachuelo, endereço que escolheu para morar no coração de Porto Alegre, Nilza se dava conta de que o anúncio que será formalizado nesta quarta-feira se antecipara na vizinhança.
- Parabéns, guria! Mas te acalma, senão vai acabar ressuscitando o Lessa -exclamava uma vizinha.
Os calorosos cumprimentos à mulher de Barbosa Lessa, artífice do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), eram pelo empenho em manter a obra do marido viva. Dez anos após o adeus do companheiro,
Nilza Lessa recebeu o convite para ser a primeira patrona dos festejos farroupilhas - homenagem concedida desde 2005 a personalidades que fizeram parte da história do Estado.
- Este é um reconhecimento pelo bonito trabalho realizado pelo Lessa - sintetiza a viúva, que completa 80 anos na próxima semana.
Erival Bertolini, presidente do MTG, acredita que a decisão unânime da comissão responsável pelas celebrações farroupilhas inaugura uma nova fase no tradicionalismo gaúcho:
- Estamos quebrando tabus. Nilza conquistou as pessoas que entenderam que ela é a merecedora do título.
Mulher motivada por sonhos. E realizadora deles. Ao enfatizar a eterna juventude da mãe ao lado do pai, Guilherme, 51 anos, sabe que este título é um resgate.
- Veio como um lembrete. É preciso valorizar a importância da mulher na cultura gaúcha. E não falo de bastidores. Minha mãe também é uma protagonista - orgulha-se.
Entre um xote e outro, o casal se conheceu
Natural de Santana do Livramento, Nilza conheceu Barbosa Lessa durante o 3º Congresso Tradicionalista Gaúcho, realizado em 1956, em Ijuí. Casaram-se em 1961 e tiveram dois filhos: Guilherme e Valéria, 48 anos.
Foi professora em um vila militar, em São Borja, trabalhou como produtora de TV, de festas e de eventos, em São Paulo, foi gerente da churrascaria 35 CTG e proprietária de uma loja de artigos gauchescos, em Porto Alegre.
Na morada de três quartos em que guarda lembranças pregadas em paredes, dois cômodos são reservados para a produção de colchas e bichinhos de retalhos. Como quem alinhava os trechos da vida, Nilza passa as tardes confeccionando artigos.
São animais da fauna local, chaveiros e bolsas com os característicos favos das bombachas. Se a criatividade é ilimitada, a inspiração encontra fronteira nas referências regionalistas. Neste passeio artístico pelo apartamento, retira de um cabide o vestido de prenda em verde e rosa costurado por ela mesma.
- Este é o que sempre uso.
E é de salto alto e vestido que a primeira mulher cumprirá a agenda de patrona. Sempre elegante, como já sabem os vizinhos da Riachuelo.
Artesã da memória
Viúva de Barbosa Lessa será patrona dos festejos farroupilhas
Nilza Lessa será a primeira mulher a receber a homenagem, que é concedida a personalidades do Estado
Bruna Scirea
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: