A superlotação das emergências de hospitais públicos e privados já virou rotina em Porto Alegre. Diariamente, as instituições de saúde da Capital enfrentam uma demanda até três vezes maior do que a disponível. Um dos 148 pacientes que se enfileiravam na expectativa de atendimento ou leito para internação no Hospital de Clínicas, pela manhã, era José Hilton dos Anjos, 51 anos, em uma maca desde as 17h de quarta-feira. Para conseguir um lugar improvisado no corredor, o irmão dele, Gilson Luiz dos Anjos, enfrentou uma verdadeira via crucis.
- Ficamos apavorados com o que vimos lá. Não só pela situação dele, que já era dramática, mas pela enorme quantidade de pessoas esperando atendimento e a perplexidade dos funcionários que, mesmo com boa vontade, não conseguiam dar conta da demanda que estava ali - relata Gilson.
Com fortes dores, uma suspeita de prostatite e a indicação de internação de um médico particular, José foi levado pelo irmão ao Hospital Santa Casa no início da tarde de quarta, mas nem chegou a entrar na instituição, ao ser informado que a emergência estava fechada há mais de 12 horas. A solução foi se dirigir ao Hospital de Clínicas onde, junto a Gilson, encontrou um cenário de caos.
Na triagem, José foi classificado como atendimento de urgência mas, mesmo assim, teve de aguardar uma hora e 20 minutos para ser atendido por um médico. Sem conseguir sentar e sem ter uma maca à disposição, o paciente chegou a se deitar no chão enquanto aguardava o atendimento do médico. Ao ser atendido, recebeu medicação e, até a tarde, encontrava-se em uma maca no corredor, aguardando um leito.
Na manhã desta quinta-feira, pelo menos quatro setores de atendimento de emergência apresentavam superlotação. A situação mais crítica era a do Hospital de Clínicas, onde 148 pacientes ocupavam a emergência, que tem capacidade para 49 pessoas. Para resolver a situação, governos do Estado e do município prometem a abertura de mais leitos nos próximos dois anos, desafogando as emergências da Capital.
Situação não é exceção
De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital de Clínicas, essa é uma situação corriqueira na instituição em função do perfil da emergência, que é o de atender pacientes com doenças crônicas, que necessitam de atendimento com frequência, aumentando a demanda no local.
Na opinião do chefe das emergências adultas da Santa Casa, Leonardo Fernandez, essa lotação nas emergências dos hospitais da cidade é recorrente e não é causada por fatores sazonais e, sim, por uma situação de extrema carência de vagas e serviços na rede médica.
- O que existia antes, de hospitais lotados apenas no inverno, não existe mais, falando-se de pacientes adultos. Agora fica lotado o tempo todo, com qualquer clima, por que a saúde pública está sobrecarregada de demanda e com um investimento miserável - alerta.
O aumento da expectativa de vida do brasileiro é outro fator apontado pelo médico pela alta demanda de serviços de saúde, que acabam sendo mais complexos e com internações mais longas.
Atendido em corredor
Em busca de vaga para o irmão, homem enfrenta caos em emergência da Capital: "Ficamos apavorados com o que vimos"
Na manhã desta quinta-feira, hospitais operavam com pacientes até três vezes acima da capacidade
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