A cinco meses de se tornar centenário, o prédio inativo da Confeitaria Rocco pode enfim ter uma mudança no curso da sua história. Ontem, a prefeitura de Porto Alegre divulgou que está aberto o processo de desapropriação do imóvel, há anos jogado em um esquecimento imerecível.
O prédio da esquina das ruas Riachuelo e Dr. Flores, no centro da Capital, foi um dos mais importantes da cidade. Construído a mando do italiano Nicola Rocco e inaugurado nos 77 anos da Revolução Farroupilha, em 20 de setembro de 1912, recebeu os presidentes da República Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra, o presidente da província Borges de Medeiros e o escritor Mario de Andrade.
No salão de festas do segundo andar, fazia-se casamentos e recepções. Mas sua importância também é arquitetônica, segundo o coordenador da Memória da Secretaria da Cultura, Luiz Antônio Bolcato Custódio:
- A confeitaria é um dos belíssimos prédios do ecletismo de Porto Alegre. Pela relação do antigo proprietário com o então presidente da província, Borges de Medeiros, é cheia de elementos simbólicos do positivismo na fachada. Nesse processo de revitalização do Centro Histórico, a Rocco é uma peça fundamental.
Após a morte de Rocco, em 1932, a confeitaria durou mais 36 anos. Depois, abrigou uma ferragem, um cursinho pré-vestibular e uma imobiliária, entre outros. No embalo do sucesso do filme Chocolate (2000), com Johnny Depp e Juliette Binoche, uma empresa cogitou instalar uma chocolataria no local, mas a ideia não progrediu.
Hoje, há um consenso no Executivo municipal de que a Casa Rocco deveria voltar a ser uma confeitaria. Para desapropriá-lo, a prefeitura declarou que o imóvel é de utilidade pública.
Família considera alto o custo de manutenção e restauro
Faz anos que os herdeiros de Rocco se reúnem com as diferentes administrações municipais para negociar a venda do imóvel. Familiares garantem que o desejo é de se desfazer do prédio porque os custos de manutenção e restauro são muito altos. Um valor oferecido pela prefeitura teria chegado a R$ 450 mil - o que seria menos da metade do pretendido pelos herdeiros.
- Nós já gastamos demais, ali. Aquilo, para nós, é um elefante branco. Se a prefeitura vai ficar com o prédio, que pelo menos chegue no preço que queremos. Não é nenhum absurdo, é um valor justo - disse um dos herdeiros de Rocco, que pediu para não ser identificado.
A família já designou uma pessoa para negociar com a prefeitura. Técnicos do município atualizarão o valor do imóvel para depois iniciar conversações com a família.
Aos cem anos
Prédio da Confeitaria Rocco pode ganhar novo dono
Declarada de utilidade pública, antiga confeitaria deverá ser comprada pela prefeitura da Capital
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: