Um olhar instigante sobre costumes e personagens marcantes é a proposta da série Beleza Interior, que vai percorrer um destino diferente do Estado todos os sábados de 2011. Em Carazinho, a cidade visitada esta semana, um ex-bombeiro conserva para sempre os laços de donos enlutadis com seus animais de estimação.
O ex-bombeiro Ubirajara Lopes, 60 anos, tem o dom de assegurar vida eterna aos animais. Ou quase isso.
- Meu trabalho dura cinco séculos, o equivalente à infância e à adolescência de um vampiro.
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Ele já empalhou mais de 18 mil bichos em seu laboratório nos fundos de sua casa amarela em Carazinho, cidade de 58,2 mil moradores, distante 285 quilômetros da Capital. A maior parte das encomendas são cachorros a pedido de seus donos, inconformados com a perda recente e que buscam manter uma imagem carinhosa do parceiro de estimação.
- Homens surgem chorando em minha porta, ainda sem entender a tragédia. Faço terapia, velório, chá, um pouco de tudo para acalmá-los e depois explico como é feita a homenagem.
Para estar apto ao trabalho de conservação, o bichinho deve ter morrido dentro do prazo de 72 horas. Os casos que mais aparecem para o empalhador são atropelamentos e envenenamento, fins súbitos, que privaram a família do direito a uma despedida.
- Deixo o cão em uma posição bonita, é o dono que escolhe sua cena predileta, como pretende enxergar o animal para sempre: sentado ou deitado ou de pé.
Atuando com taxidermia desde 1980, Ubirajara atende 15 pedidos por mês. Colabora também com Ibama e Museu Regional Olívio Otto de Ciências Naturais. Cada animal tem seu valor (cavalo custa R$ 4 mil; cachorro, R$ 2 mil; peixe grande, R$ 1 mil; coelho e gato, R$ 200; hamster e passarinho, R$ 50).
Nenhum obstáculo complica sua arte funerária, nem o motivo da morte, muito menos o porte da vítima e a raça. Depende de 60 minutos cronometrados para completar o serviço (tira o couro, preserva crânio e os ossos das patas e reveste o pelo com uma armação de ferro).
- Não acho estranho. Sou um fabricante de recordações.
Interessou-se pelo ofício na infância, ao acompanhar o pai em pescarias e caçadas e ficar intrigado com cabeças de dourados e de cervos nas paredes das residências de seus colegas.
- Peças tão reais, verdadeiras, vibrantes, aquilo fisgou minha curiosidade.
Notícia
Beleza Interior: O empalhador de cães
Fabrício Carpinejar
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