No dia em que pendurar o quimono, Mayra Aguiar pode virar bombeira. A não ser aqueles com formação para socorrer as pessoas, difícil achar outra gaúcha que tenha passeado tanto no caminhão de bombeiros quanto ela. A Sogipa sempre organiza uma passeata pelas ruas de Porto Alegre para celebrar suas maiores conquistas. Não foram poucas. São três ouros em mundiais e três medalhas olímpicas.
Na madrugada desta quinta-feira (1º), com competições iniciando às 5h, Mayra sobe num tatame olímpico pela quinta vez. A força do hábito diria que ela luta para conquistar a condecoração que lhe falta, o ouro nos Jogos. Seria o fechamento de um ciclo ideal. Aos 15, participou da Olimpíada pela primeira vez, em 2008, para se aclimatar ao maior evento esportivo do mundo. Mais calejada, subiu ao pódio para pegar a medalha de bronze nas três edições seguintes. No auge da experiência, aos 32 anos, sonha com um ouro coroador de uma carreira única. A verdade é que ela não precisa fazer mais nada. Qualquer exigência é só pressão.
As honrarias falam por si só. Mas há ocorrências que não estão escritas nas medalhas, estão suprimidas no resumo de sua carreira. Cada uma das conquistas teve muito suor, muita dor, resiliência, para usar um termo da moda. Foram inúmeras lesões e diversas cirurgias incapazes de minar seu espírito. Mayra superou cada problema. Derrubou todos os obstáculos. Sempre foi adiante.
Os três anos do que deve ser o seu último ciclo olímpico foram de muito silêncio. Surgiu uma Mayra mais introspectiva. Entre 2022 e 2023, ela ficou quase um ano sem lutar. Retornou e assegurou um lugar em Paris. Pouco se ouviu dela desde então.
Ao lutar contra a italiana Alice Bellandi, líder do ranking mundial, em sua estreia, ela só pode acrescentar um pouco mais aos seus feitos. Nunca subtrair.
— A Mayra pegou um confronto muito duro. Taticamente, não encaixa bem essa luta — analisa Kiko Pereira, técnico da Sogipa e da seleção brasileira de judô.
Em Paris, Mayra terá o seu amuleto ao lado dela. Uma espécie de mascote que a acompanha desde 2007.
— Tive a felicidade de acompanhar muito de perto a trajetória da maior atleta olímpica forjada no RS. Ninguém ganha três títulos mundiais e tem três medalhas olímpicas no currículo à toa. Mayra é fenômeno por vários aspectos. Tive a felicidade de em Londres, no Rio e em Tóquio contar suas três medalhas no microfone da Rádio Gaúcha. E esta coincidência fez a própria Mayra brincar comigo, na zona mista em Tóquio, de que eu era "o amuleto dela para estas conquistas". Estamos em Paris em nossa quinta Olimpíada. Que a história se repita — destaca André Silva, enviado da RBS a Paris.
Sob os olhares do repórter, dos gaúchos e dos brasileiros, nesta quinta, Mayra lutará no Grand Palais Éphémère, uma das arenas temporárias destes Jogos, com a certeza de que não importa o que aconteça, suas glórias nunca serão efêmeras.