O porto-alegrense Guilherme Toldo será mais uma vez o representante da esgrima brasileira nas Olimpíadas. O atleta, que estreia no florete individual masculino na manhã desta segunda-feira (29), às 8h05min (horário de Brasília), conversou com Zero Hora antes de embarcar para Paris.
— Estou focando com meus treinadores, preparador físico, psicólogo, minha equipe. Sempre penso em resultado inédito e, depois de ficar entre os oito no Rio, quero uma medalha — adiantou sobre seus objetivos para os Jogos.
Esta é a quarta participação olímpica do esgrimista, o que o torna um dos atletas gaúchos que mais vezes estiveram nos Jogos. Em Paris, dos nascidos no Rio Grande do Sul, apenas a judoca Mayra Aguiar tem mais experiência que ele no evento, já que a dona de três medalhas de bronze disputará a competição pela quinta vez. E isso para ele já é motivo de orgulho.
— Agradeço o comparativo com a Mayra. Fico contente de fazer parte disso. Desde pequeno a gente sempre busca representar nosso País, nosso Estado, nossa cidade, mostrar e respeitar a nossa cultura e isso é muito legal — disse o atleta de 31 anos, que tem como ídolos os tenistas Guga Kuerten, Andre Agassi e o esgrimista italiano Andrea Baldini, que foi campeão por equipes em Londres 2012 e campeão mundial de florete 2009.
Toldo é atleta do Grêmio Náutico União e do Frascati Scherma, clube da pequena cidade italiana de Frascati, na região do Lácio, província de Roma, que tem pouco mais de 20 mil habitantes. A Itália é uma das mecas da esgrima mundial e estar morando e competindo por lá desde 2012 fez o gaúcho chegar ao 11º lugar no ranking mundial em 2021, o que o credenciou como cabeça de chave nos Jogos de Tóquio.
Confira como foi a conversa de Toldo com Zero Hora.
A sensação de se classificar para Paris foi muito diferente daquela de Londres, quando você se classificou pela primeira vez?
A sensação foi bem diferente. Estou feliz de depois de 12 anos seguir no alto nível. Isso quer dizer que eu ainda curto jogar esgrima, competir. Isso é muito legal. Com certeza é uma felicidade diferente da primeira, que foi mais explosiva, eufórica. Mas tenho essa satisfação de mais uma vez representar o Brasil nos Jogos.
Quando você se classificou pela primeira vez tinha 18 anos. Projetava uma carreira longa e com quatro Olimpíadas?
São situações diferentes. Cada conquista tem um significado especial, as dificuldades do momento. O processo de crescimento, de desenvolvimento. São sentimentos diferentes. É uma conquista que me deixa completo.
Na primeira classificação eu não imaginava que alcançaria tantos resultados como consegui. Nunca imaginei chegar entre os melhores do mundo, ficar entre os oito de uma Olimpíada. Eu ainda estava criando meu espaço no circuito mundial e não consegui chegar às fases eliminatórias. Mas fui encontrando alternativas, buscando a melhor preparação para resultados a longo prazo.
As classificações servem para dar confiança, mostrar que você está no caminho certo e passar por mais três Olimpíadas é a confirmação que eu fiz um bom trabalho, boas escolhas, treinei de forma suficiente para me manter no alto nível. É algo que me deixa contente e feliz com a minha trajetória dentro da esgrima.
Estreante em Londres, surpresa ao chegar entre os oito no Rio e frustração em Tóquio, quando você era cabeça de chave. Quais aprendizados nesses ciclos para os Jogos de Paris?
O resultado de Tóquio foi negativo, me deixou muito chateado, eu tinha sentimento de que poderia fazer mais, mas ser cabeça de chave era inédito para o Brasil e tudo isso me dá experiência, suporte para chegar na minha melhor forma em Paris. Estou focando com meus treinadores, preparador físico, psicólogo, minha equipe. Sempre penso em resultado inédito e, depois de ficar entre os oito no Rio, quero uma medalha.
Você consegue relaxar durante o período de competições, treinos?
É uma pergunta boa. A gente parte do pressuposto que o atleta treina 24 horas. Não é só na sala de esgrima, na preparação física, o treinamento vai além disso. É o horário que vai dormir, como vai se alimentar, a rotina, se vai no fisioterapeuta, no psicólogo. São muitas nuances que tornam a vida do atleta de comprometimento com o trabalho. O atleta trabalha 24 horas e para relaxar tem ajustar com o calendário.
Depois de garantir a vaga a Paris, fui para Porto Alegre, fiquei com a minha namorada. Era hora de me preparar e recarregar as baterias para essa reta final de preparação. Momentos de dar uma caminhada, olhar televisão, ficar sentado, deitado só pra relaxar. Coisas básicas, que a gente perde a oportunidade de fazer na correria do circuito mundial. São oportunidades raras, mas é a vida de atleta.
Você já se imagina em uma quinta Olimpíada, em 2028, em Los Angeles?
A vontade agora é de continuar e seguir no alto nível, mas vamos ver o que vai acontecer. Prefiro organizar as coisas por ciclos olímpicos. Agora é focar nesta Olimpíada, na melhor preparação, que é difícil mesmo. São muitas viagens, competições, dias de treinamento. Para Los Angeles ainda é um pouco longe.
Tem algo que marque os teus ciclos olímpicos, algum acontecimento, fato que seja marcante?
Acaba sempre acontecendo. Eu acabo não percebendo, mas sempre penso em ciclos olímpicos, pensando em projetos da vida pessoal, na minha organização, tudo dentro de quatro em quatro anos.
Depois de Londres vim para a Itália (Frascatti). No Rio tirei um descanso maior. Após Tóquio, que foi a mais diferente de todas, nem descansei tanto, porque já tinha ficado muito tempo parado antes (pela pandemia). Cada momento foi diferente.
Quando eu tirei a carteira de motorista esperei acabar a Olimpíada (de Londres). É algo que acontece assim.