O esporte de alto rendimento cobra um preço alto. Por mais que se imagine que apenas o glamour dos campeões e das cifras milionárias exista, nos Jogos Olímpicos, todos são iguais.
Desde a Vila Olímpica até os direitos e deveres de cada atleta, exceções não são concedidas, e isso acaba até sendo um momento de diversão para muitos atletas que vivem sob a pressão de sempre dar resultados.
Não é o glamour do título olímpico que trouxe para Tóquio Novak Djokovic. O sérvio tem premiações somadas que neste momento se aproximam dos US$ 152 milhões. Além do desafio de defender as cores de seu país, muitos deles veem nas Olimpíadas um momento de conviver com grandes nomes de outras modalidades e nacionalidades. Ou simplesmente a oportunidade de conviver.
Para os que não estão no topo de seus esportes, é a chance de ver as estrelas, aprender com elas e até mesmo tietá-las. Em resumo, além da competição, os Jogos oferecem um clima único, e isso atrai os atletas.
Mas em um mundo cada vez mais competitivo, isso tem sido deixado de lado, e é cada vez mais comum se ver e acompanhar manifestações de atletas sobre o aspecto psicológico, que em tempos de redes sociais parece ser a menor das preocupações, já que no ambiente virtual se cobra, julga, aprova, absolve, incrimina, recrimina em uma velocidade superior à atingida por Usain Bolt para quebrar seus vários recordes e amealhar medalhas.
Em maio passado, a japonesa Naomi Osaka abandonou o Aberto da França, em Roland Garros, após pedir um melhor cuidado com o aspecto psicológico, afirmando que as cobranças e até mesmo entrevistas diárias não estavam lhe fazendo bem. Porém, os organizadores não foram sensíveis aos apelos da tenista e a ameaçaram com punição, o que gerou sua desistência de seguir na competição.
O movimento de Naomi pode ter parecido antipático. Mas até que ponto era um "grito", um "alerta" para algo que a estava incomodando? Tímida, a tenista de apensa 23 anos é uma personalidade marcante por suas conquistas e posicionamentos sociais, mas parece estar pedindo socorro. Seu retorno às quadras aconteceu aqui em Tóquio, onde, apática, foi eliminada logo na segunda partida.
Nesta quarta, um novo "grito" ecoou. Multicampeã da ginástica artística, a norte-americana Simone Biles anunciou que não iria competir nas Olímpiadas para tratar de sua saúde mental e recebeu o apoio da Federação Internacional de Ginástica.
Jovem, assim como Osaka, a ginasta de 24 anos simplesmente abandonou o evento enquanto competia na final por equipes.
— Acho que a saúde mental é mais importante nos esportes neste momento. Temos de proteger nossas mentes e nossos corpos, e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos — disse, ao justificar o que sentia.
Imediatamente expressões como "pipocou", "amarelou" ou expressões do tipo, "ganha milhões, tem vida boa e reclama" surgiram. Mas será que quem faz essa crítica sabe o que é necessário para estar no nível olímpico, onde só os melhores em suas especialidades se reúnem?
A resposta, sinceramente, é não. A imagem que as pessoas têm é que o atleta é uma máquina, como se fosse em videogame, onde você o coloca ali para jogar e depois desliga até usar novamente. Não. Definitivamente, não. Um atleta de alto rendimento sacrifica até mesmo sua infância. As ginastas competem com 13, 14 anos. Tenistas são profissionais a partir dos 15, por exemplo.
Medalhista de prata no skate, Rayssa Leal encantou a todos por sua simplicidade e por manter o sorriso e leveza de uma criança. Sim, ela, aos 13 anos, está entrando na adolescência e não pode ser cobrada como se o seu desempenho fosse mudar o comportamento do mundo. Ela mesmo disse que quer apenas se divertir. Aliás, esta foi a expressão de Simone Biles ao falar sobre o sua agonia de momento.
Lembre-se, uma vitória ou uma derrota de um atleta não vai mudar a sua vida. Mas uma cobrança excessiva poderá mudar a vida dele, porque cada um de nós reage às pressões de formas distintas, e isso pode afetar desde o desenvolvimento até a forma de agir.
Como disse lá no começo, não sou especialista, mas, até por exemplos muito próximos, sei que a saúde mental é algo que precisa e deve ser discutido e tratado.