Rogério Micale voltou ao Maracanã na noite desta quinta-feira. Para a entrevista coletiva da véspera da final olímpica contra a Alemanha – ou da antevéspera, pois como o estádio receberá a final feminina (entre Alemanha, de novo, e Suécia), nesta sexta-feira, as coletivas dos treinadores dos times masculinos foram antecipadas em 24 horas.
Pois Micale respondeu às perguntas sobre a Alemanha, sobre o Brasil e o nosso cultural imediatismo, além de dizer que os jogadores são como seus filhos e, é claro, sobre os 7 a 1.
Neymar e cia entram em campo no sábado, dia 20, às 17h30min.
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A seguir, os principais tópicos da entrevista:
Sobre o jogo alemão
Eles jogam com posse de bola, com três atacantes afunilando o jogo em direção à área, permitindo os avanços dos laterais. Têm um jogo muito perigoso, trabalhado assim desde as categorias de base. Temos de saber marcá-los.
Resgatando a tradição verde-amarela
Pode ser uma pretensão da minha parte, mas, desde que assumi a seleção sub-20 tive como meta tentar extrair o que temos de melhor dos nossos jogadores. Foi assim no Mundial sub-20, onde perdemos a final, mass tentamos impor a nossa característica de jogo. No pan também e, agora, estamos repetindo isso na Olimpíada. Podemos extrair muito do que o futebol no mundo tem nos mostrado. Não podemos abandonar a nossa essência. Ainda somos dos poucos países do mundo que consegue ter jogadores que desequilibram um jogo. O trio de ataque do Barcelona é todo sul-americano. Isso tem de representar algo. Ser competitivo, mas organizado, mostrando todo o talento que o nosso jogador tem. Mas somos impacientes, sempre procuramos um vilão, um culpado, e patinamos nesse processo porque não damos continuidade. Vou jogar contra um técnico que está há três anos na seleção. Nós sempre queremos os seis meses finais da Alemanha, não os 12 anos que eles ficaram maturando.
O técnico não ganha medalha
Vou dar um jeito de arrumar uma medalha para mim, nem que eu mande fazer. Gostaria de ter, porque é um título muito importante. A CBF vai ter de dar um jeito de fazer uma réplica, pois é um símbolo, uma conquista muito importante. Espero ter a minha medalha. Prefiro a de ouro.
Preparando o futuro
O resultado de campo sempre ajuda o que é feito fora. Muitas vezes temos uma equipe equilibrada emocionalmente, mas quando a bola não entra, dizemos que ela está desequilibrada. Você condiciona todo o resto em função da vitória. Nos apegamos somente ao resultado frio de tomar um gol contra e perder o jogo. Temos de entender o que está sendo proposto, qual o DNA das coisas. Essa juventude da Olimpíada, pensamos nela para o futuro da seleção principal do Brasil. No sábado, emocionalmente estaremos fortes, pois já passamos por toda as situações no torneio. Agora, pegamos uma equipe muito boa, que remete a uma história recente, mas que não envolve a nós.
Continuidade
Tem muito a acrescentar, pois se ela se tornou forte para esse torneio, pode melhorar ainda mais para o futuro. Hoje saímos com alinha de quatro, amanhã podemos sair com a linha de três. Quanto mais tempo ela estiver junto, melhor ela vai ser. O que faremos com os jogadores que não forem chamados para a principal? Com chances de ser selecionáveis. Eles nunca mais vão vestir a camisa da seleção? Essa lacuna que existe entre o sub-20 e a principal. Não é de se pensar em algo? Para que chegue ao final e esteja muito melhor preparado. É um processo que precisa ter sequência.
Ah, os 7 a 1...
Era Copa do Mundo, aqui é a Olimpíada. Existia apenas um jogador nos dois grupos que participou daquele jogo (Ginter, zagueiro da Alemanha). É um jogo diferente, idades diferentes, competições diferentes. O torcedor está no papel dele. Mas vamos precisar muito da torcida. A Alemanha é um time forte, que não chegou por acaso à final. Sabemos da evolução que houve no futebol alemão.
Os 18 filhos de Micale
Tirando o Renato, acho que sim, são meus filhos. Tenho uma filha da idade do Neymar. Todos são muito do bem. São caras que a gente aprende a admirar. Sãpo jovens. O mundo em que vivemos oferece muitas vantagens, mas sempre temos de atender a expectativa de um monte de gente. E por vezes esquecemos que ali estão jovens de 18 anos. Eles estão passando por um momento de amadurecimento. Ouvem muitas coisas que não são verdade. Quando vai por um lado que fere a verdade, a gente sente, imagina os jovens. Outra coisa. Dizem que a gente vive numa ilha isolada, que nada nos atinge. Mass não é assim. Gosto de ter familiares dos jogadores por perto. Nos momentos difíceis, o mais importante é ter essas pessoas ao lado. Ganhei 18 filhos e 18 amigos. Me sinto muito bem com eles, já estou com saudades.
Neymar e o salto de qualidade
Ele tem ciência do que representa, não só para o Brasil mas para o mundo, como referência. As atitudes dele têm dado um recado, com os pés. Tem se doado à equipe de uma forma formidável. Foi premiado com um gol aos 14 segundos. Um jovem vendo isso, o Neymar se doando, é um exemplo. O que nos falta é o jogo sem a bola. O com a bola nós temos. Como Neymar é o maior expoente da geração, é ele quem vai dar o start. Eu tenho de sair da zona de conforto, ele tem de sair da zona de conforto. Ele já tem essa responsabilidade de conduzir desde jovem a seleção principal. Por tudo o que ele é no Barcelona e no futebol mundial, ele vai dar esse salto.
Depois da final
Vamos nos reunir, jantar, até com os nosso familiares, nada mais justo. Eles serão os nosso homenageados, independente de ganhar ou perder. Iniciamos juntos e queremos fechar juntos esse ciclo.
*ZHESPORTES