É comum ver os brasileiros que ganham medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro prestarem continência à bandeira brasileira durante o Hino Nacional – um gesto militar de demonstração de respeito. O fato já havia chamado atenção durante os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no ano passado.
A frequência do gesto militar nas competições se deve em parte ao Programa de Atletas de Alto Rendimento, criado em 2008 e desenvolvido pelas Forças Armadas Brasileiras, uma parceria entre o Ministério da Defesa e o Ministério do Esporte. São investidos cerca de R$ 18 milhões entre salários e compra de equipamentos. A ideia é manter o projeto para o ciclo de Tóquio 2020.
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No sistema, atletas de alto rendimento se alistam de forma voluntária às Forças Armadas. Os competidores passam a receber todos os benefícios de militares – soldo (como é chamado o salário do militar), 13° salário, plano de saúde, férias, assistência médica, além de ter o direito de treinar nas instalações militares.
Como contrapartida, ficam elegíveis para participar de competições específicas, como os Jogos Mundiais Militares. Geralmente, os atletas são 3° Sargentos – com um soldo de R$ 3.111,00 pelos números de agosto. Pelo nível de carreira, dificilmente seriam chamados em uma eventual guerra.
Dos 465 atletas olímpicos brasileiros, 145 são militares. Entre os que fizeram o gesto de continência estão Felipe Wu, Arthur Nory, Rafael Silva e Arthur Zanetti.
Rafaela Silva, Poliana Okimoto e Mayra Aguiar são militares, mas não repetiram o gesto. Segundo Mayra, que havia prestado continência no pódio do Pan, ela recebeu uma orientação da Confederação Brasileira de Judô para não fazer a reverência.
O técnico de Arthur Zanetti, Marcos Goto, no entanto, criticou o modelo adotado pelas Forças Armadas atualmente:
– Pegar atleta pronto é muito fácil. Quero ver apoiar até a criança chegar lá. O dia em que os militares fizerem escolinhas e apoiarem iniciação esportiva, apoiarem treinadores, aí vou tirar o chapéu. Por enquanto, não.
No Pan de 2015, os atletas foram orientados a fazer a continência. Devido à repercussão, não houve qualquer orientação desta vez – ainda que muitos atletas tenham repetido o gesto.
O Comitê Olímpico Internacional proíbe manifestações religiosas, políticas ou militares durante as cerimônias de pódio. No entanto, a continência não está entre as proibições por ser considerado um gesto de respeito à bandeira e ao hino.
*ZHESPORTES