Esperança de que o atletismo brasileiro não seja um mero figurante nos Jogos do Rio, Fabiana Murer estreia na manhã desta terça-feira oferecendo um punhado de bons motivos para que se acredite em medalha – e com uma ou outra sombra capaz de ameaçá-la.
Expoente de uma das modalidades que exigem maior apuro técnico, o salto com vara, a paulista de 35 anos acaba de realizar um feito invulgar: em julho, atingiu a marca de 4,87 m, a melhor da carreira. Com essa altura, teria obtido o ouro em 2012 e a prata em 2008.
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O recorde anterior de Fabiana estava em 4m85cm e tinha sido obtido no longínquo 2010, quando ela contava 29 anos. O salto do mês passado não só turbinou as esperanças de pódio, como causou espanto. No salto com vara, as atletas alcançam o ápice até os 30 anos e depois tem dificuldade para repetir as melhores marcas. A expoente da modalidade, a russa Elena Isinbaeva, que detém os 10 melhores saltos da história, por exemplo, chegou ao auge aos 27 anos. Nunca na história uma saltadora havia chegado ao auge com tanta idade como a brasileira em provas a céu aberto.
Os 4m87cm colocam Fabiana na condição de sexta melhor saltadora da história. Das cinco atletas que saltaram mais alto do que ela, no entanto, duas estão fora do páreo: a recordista mundial Isinbaeva e sua compatriota Svetlana Feofanova foram impedidas de competir no Rio em consequência do escândalo de doping envolvendo atletas russos.
Além disso, a marca da brasileira é a segunda melhor de 2016. Das suas principais adversárias, apenas uma conseguiu saltar mais neste ano, a norte-americana Sandi Morris, que chegou aos 4,93m. Com 24 anos, ela vem ao Rio como favorita.
Outro aspecto que conta a favor de Fabiana é que o espetacular resultado obtido recentemente não veio do nada. No ano passado, ela foi vice-campeã mundial, com 4m85cm. Foi superada somente no último salto pela cubana Yarisley Silva.
Apesar de todo esse retrospecto a favor, há ao redor da brasileira certa apreensão. O dado mais preocupante é uma hérnia de disco cervical, diagnosticada no final de julho. Fabiana teve pouco tempo para se tratar, mas afirmou que estará em condições no Rio. A outra sombra a pairar sobre ela é seu histórico de desempenhos decepcionantes em outras olimpíadas. Em Londres, acertou apenas um salto, não se classificou para a final e colocou a culpa no vento. Em Pequim, ficou abalada depois de perceber o sumiço de uma das suas varas e conseguiu apenas a 10ª colocação.