Na mesma semana em que o Comitê Rio 2016 comemorou e divulgou euforicamente a obtenção de um certificado de qualidade internacional pela execução de projetos de sustentabilidade relativos à Olimpíada, as redes sociais no mundo inteiro divulgaram uma enxurrada de posts relativos à má qualidade de Baía de Gauanabara, local das competições de Vela nos Jogos. A entrevista do ex-CEO do World Sailing, Peter Sowrey, reacendeu uma fogueira que nunca foi apagada. Chegou a ser cogitado que a saída do dirigente do organismo internacional da Vela se deu por ele ser radicalmente contra a disputa das competições no Rio, propondo transferi-las para Búzios.
A comunidade do iatismo definitivamente duvida que haja água limpa em agosto na Guanabara. E, cá para nós, não há nenhuma razão para otimismo. A cada dia surgem novos estudos, depoimentos e testemunhos de que a situação está longe da limpeza desejada. Há também um componente histórico da demagogia brasileira que certa vez, quando de outra candidatura carioca para ser sede olímpica, garantiu que a Baía de Guanabara seria totalmente despoluída. Para 2016 começou a se falar em "problemas minimizados", sendo apresentadas formas modernas e eficientes para o tratamento de água. Também não aconteceu como se esperava. A sujeira das águas e das promessas ainda é vigente. O mundo está vendo e compartilhando.
Está na hora das autoridades assumirem que não haverá a limpeza desejada, o que não impedirá as provas, pois elas podem acontecer em situações extremas. Não seria vexatório - seria ato de grandeza e humildade - pedir desculpas à comunidade olímpica e aos cidadãos cariocas pela incapacidade de cumprir o que foi proposto. Há outros pontos a serem valorizados na organização do evento. Já temos arenas prontas, muitas obras em dia e melhorias nítidas na cidade. Até o "ISO" da sustentabilidade é uma grande conquista, embora o paradoxo com as poluídas condições da tradicional baía. De lá provavelmente sairão medalhas brasileiras em regatas com ídolos como Robert Scheidt, Ricardo Winick, Fernanda Oliveira e Martine Grael, entre outros. Eles, além dos adversários, enfrentarão o obstáculo do constrangimento de, em casa, terem visto um sonho de limpeza ter ido por água abaixo, misturando-se ao lixo.
* ZH Esportes