A expressão da moda no Rio de Janeiro é "evento-teste". Muitas foram, e outras tantas serão, as competições realizadas para experimentar as instalações e a estrutura para a Olimpíada do ano que vem. É uma necessidade e uma imposição para o Comitê Organizador colocar à prova os chamados "equipamentos" e o impacto que as disputas podem causar na cidade. Por enquanto, nenhum desastre nos ensaios, embora se saiba que a Baía de Guanabara continua suja, que a pavimentação das vias tem partes inadequadas para provas como o ciclismo e que a insegurança permanece, inclusive para quem está a serviço do evento, como se viu na recente prova ciclística de longa duração.
Se é verdade que nunca houve tanto dinheiro para a prática desportiva de alto rendimento em nosso país, ninguém garante a manutenção dos investimentos tão logo se apague a pira olímpica no Maracanã. Em meio à provável euforia pela melhor participação do Brasil nas Olimpíadas corre-se o risco de uma fuga em massa de recursos. Não é nenhum pensamento apocalíptico, tanto que os desportistas já falam abertamente sobre isto. Ninguém tem certeza de como se estará já em 2017. Não há garantia que os milhões investidos com verbas estatais - Petrobras, Eletrobras e Caixa, por exemplo - estarão assegurados, bem como outros tantos que saem da iniciativa privada através de instrumentos legais e isenção de impostos.
Que ninguém se iluda: não haverá perfeição carioca nestes pontos, mas algo suficiente para a realização dos Jogos. Não será a primeira vez. Quem foi a Atenas em 2004 viu muitas coisas inacabadas e improvisadas que não comprometeram. Fiquemos no exemplo grego para valorizar aquilo que o Rio mostrou de melhor até agora, que foi uma marca da recente Copa do Mundo e que na Grécia não se via, bem como em outras cidades olímpicas. A população está abraçando a Olimpíada. Os atletas internacionais, ao fazerem reparos a algumas questões técnicas, imediatamente relatam a satisfação pela participação popular, seja nas ruas ou em locais fechados. Isto é importantíssimo.
A crise tem data para fechar torneiras. O desafio que vale mais do que uma medalha de ouro para toda a comunidade esportiva brasileira é criar mecanismos de segurança para o "Brasil pós-olímpico", aquele em que o exemplo dos competidores de alta performance, os medalhados, servirá para o trabalho de base junto a novos talentos nas escolas. O Rio 2016 não pode para nós ficar restrito à festa ou aos resultados de disputas. É algo maior e muito mais permanente. De pouco valerá se não tivermos um 2017, 2018, 2019 para chegar, quem sabe melhor em Tóquio 2020.
*ZHESPORTES