O vandalismo na homenagem a Roger Machado na Calçada da Fama do Grêmio reacendeu a polêmica sobre um jogador destacado de um time trabalhar pelo rival. O atual técnico colorado, obviamente, não foi o primeiro — e possivelmente nem será o último — a fazer este movimento. Sua escolha, aliás, é bastante comum, e encontra semelhanças em casos do passado. Como Claudio Duarte.
Lateral-direito titular dos títulos brasileiros do Inter de 1975 e 1976, presente no Octa gaúcho de 1969 a 1976 e campeão estadual também como técnico outras quatro vezes, teve sua primeira conquista nacional na casamata justamente no Grêmio, na Copa do Brasil de 1989. Ele também sofreu com a mudança e encarou a rivalidade Gre-Nal. Nesta entrevista, relembrou sua passagem e falou sobre a situação de Roger.
Como foi quando aceitou o convite para treinar o Grêmio?
Eram outros tempos, né? Claro que ouvi alguns xingamentos. Me lembro uma vez no posto de gasolina um cara me reclamou, me chamou de traidor. Por um tempo, evitava ir ao super ou a restaurante, porque sabia que ouviria alguma coisa ruim. Mas sempre levei na galhofa. Respondi para um cara: "Na minha casa, não importa a cor do prato. O que importa é estar cheio".
Quando algum torcedor falava uma gracinha ou ofendia, eu respondia: "Não quer que eu fique aqui? Então devolve as faixas que ganhamos e tu comemorou". Então, alguém aparecia para defender
CLAUDIO DUARTE
Ex-técnico de Inter e Grêmio
Mas nunca passou disso?
Nunca deixei também, né? Via o ambiente e respondia, quando alguma coisa assim acontecia. Me lembro de ver jogos nos dois estádios, Beira-Rio e Olímpico, e algum torcedor falava uma gracinha ou ofendia, ee respondia: "Não quer que eu fique aqui? Então devolve as faixas que ganhamos e tu comemorou". Então, alguém aparecia para defender. Te disse, era uma época diferente. Hoje é muito pior.
Em que sentido?
Ah, essas malditas redes sociais. Ali impera a falta de respeito, a ofensa, precisa ter cabeça boa. Elas escancaram o pior das pessoas. Todo mundo se acha no direito de xingar o outro, diminuir, humilhar.
O que pode dizer sobre a situação de Roger?
Roger está sofrendo justamente por causa dessas redes sociais. E porque está fazendo um bom trabalho. Ele tem todo o direito de trabalhar onde quiser sem ser ofendido por isso.
Ele (Roger) tem todo o direito de trabalhar onde quiser sem ser ofendido por isso.
CLAUDIO DUARTE
Ex-técnico de Inter e Grêmio
Você se considera ídolo do Inter?
Olha, como jogador, estive presente no Octa gaúcho, nos dois primeiros títulos brasileiros. E como técnico ou dirigente, estava no tri, e em mais cinco Gauchões. O Inter tem Calçada da Fama?
Não que eu saiba. Acha que merecia estar lá?
Então, pelos títulos, acho que sim, né? Mas não sei se ter trabalhado no Grêmio mudaria, tamabém pouco importa. Se não tem, não sou eu quem vai falar.
Existe ex-ídolo?
Acho que existe uma confusão entre as pessoas sobre jogador que é ídolo de clube ou não. Para mim, ídolo é quem deu alegrias quando eu mais precisava. E isso vale para jogador, dirigente, técnico. Isso não muda, né? Se já teve a alegria...