Embora o técnico da seleção francesa, Didier Deschamps, avalie em entrevista à AFP que é "lógico" que a sua equipe seja considerada uma das favoritas ao título da Euro-2024, ele também destaca que terá pela frente "um grupo difícil" desde o início do torneio continental que será disputado de 14 de junho a 14 de julho na Alemanha.
P: Vice-campeão da Eurocopa em 2016 e eliminado na edição seguinte desse torneio nas oitavas de final em 2021. Depois dessas duas decepções, você tem sede de vingança nesta competição, já que é o único título importante que ainda não conquistou como treinador?
R: "É verdade, não ganhei a Eurocopa como treinador, mas muitos treinadores não conseguiram. Se as exigências são tão altas, é porque a França evoluiu. Depois da Copa do Mundo, o mais importante é a Eurocopa. Vamos enfrentar este próximo torneio com ambição, mas também com lucidez. Tenho plena consciência de que com tudo o que fizemos a expectativa é cada vez maior. Mas a experiência também nos lembra que numa competição há etapas a serem superadas. O fato de estarmos entre os favoritos, assim como as outras seleções, responde a uma certa lógica. Mas não precisamos pensar na linha de chegada, a primeira coisa é pensar nos três jogos da fase de grupos, esperando não termos que sofrer com lesões embora sempre haja imprevistos que precisam ser enfrentados. Gostaria, como todos os meus colegas, que todos estivessem disponíveis e em boa forma, mas não é algo que vai acontecer. Teremos que ver como vamos fazer".
P: Como você avalia seus três adversários (Áustria, Holanda e Polônia) no grupo D da Eurocopa?
R: "Vou contrariar o que dizem por aí. Estamos num grupo difícil. Tem-se falado que é como começar com um treino, mas a Áustria é uma equipe muito sólida e recentemente venceu a Alemanha. Os austríacos são subestimados. A Holanda é sempre uma grande nação do futebol. Quando os vencemos por 4 a 0 em março de 2023, eles chegaram enfraquecidos, sem vários jogadores importantes. A Polônia é uma equipe forte coletivamente e depende de jogadores como (Robert) Lewandowski. Eu reitero: temos que pensar em cada etapa que devemos superar. A primeira é passar da primeira fase, assim como outras nações, temos potencial para ir até o fim, mas não temos que pensar em uma semifinal ou uma eventual final. A Eurocopa é muito difícil, oito dos dez primeiros do ranking da Fifa estão na Eurocopa".
P: Você não poderá contar com alguns de seus jogadores até 3 de junho e a Euro começa em 14 de junho. Isso representa um problema na preparação para o torneio?
R: "A data oficial marcada para os clubes liberarem seus jogadores é 3 de junho. Planejei ter os primeiros jogadores no dia 29 de maio. Em função do final da temporada e da final da Liga dos Campeões, só então terei talvez metade do elenco disponível. Alguns clubes agendaram excursões para muito longe (como o Milan para a Austrália). Até a Copa do Mundo de 2018 poderíamos oferecer aos jogadores cansados uma recuperação durante a primeira parte do período de concentração, para fazerem algum trabalho concreto. Agora não há mais tempo de preparação. Desta vez, por exemplo, temos a obrigação pelos contratos assinados pela Uefa com as emissoras de disputar dois amistosos. Antes só tínhamos que disputar um. Vamos recuperar os jogadores dependendo de como eles estão fisicamente e também psicologicamente. Se alguns jogarem a final da Liga dos Campeões (no dia 1º de junho), ganhem ou percam, teremos que nos adaptar. Vamos ao essencial. O mais importante é a boa forma física. Repito: eu me adapto. E para me adaptar o melhor possível a uma situação tento antecipar todos os cenários".
P: O jovem Bradley Barcola está fazendo um ótimo final de temporada no Paris Saint-Germain. Ele poderia jogar a Euro-2024 mesmo nunca tendo sido convocado para a seleção principal da França?
R: "Claro que sim. Atenção, não estou dizendo que vou convocá-lo. Mas não vou abrir mão logo só porque não tenho o hábito de convocar jogadores para as fases finais que eu não tenha convocado antes. Não trabalho com esse tipo de regras. Não sou conservador e não tomo decisões me perguntando o que as pessoas vão pensar delas. Se eu acho que tenho que fazer algo pelo interesse da França, farei mesmo que tenha que mudar. Cada situação requer suas próprias respostas".
* AFP