"Falta de respeito" para uns, "energia positiva" para outros: o público de Roland Garros não costuma ser indiferente, dando toda uma atmosfera aos jogos, mas às vezes quebrando as regras implícitas do tênis.
Na terça-feira, por exemplo, o clima era de tensão na quadra 14, no final do duelo entre o francês Giovanni Mpetshi Perricard e o belga David Goffin, que venceu depois de enfrentar a hostilidade dos espectadores, levou a mão à orelha para provocar o público.
—Quando te insultam durante três horas e meia, é preciso brincar um pouco com o público. Claramente, isso foi longe demais, é uma total falta de respeito. Vai acabar virando futebol e logo vamos ter sinalizadores, 'hooligans' e brigas na arquibancada. Alguns estão aqui mais para causar problemas do que para criar um bom ambiente — explicou o belga.
Ex-top 10 do ranking mundial, o jogador de 33 anos ainda revelou que recebeu uma cusparada vinda do público.
— Uma pessoa cuspiu uma goma de mascar em mim. Muita gente reclama, muitos árbitros consideram que é muita falta de respeito. É o que se ouve nos vestiários e entre os responsáveis da ATP. Isso não acontece só na França, mas o ambiente aqui não é sadio— concluiu o vencedor de seis torneios no circuito e tem como melhor resultado em Paris, as quartas de final em 2016.
Nesta quarta-feira, a organização do torneio lembrou aos espectadores a necessidade de manter bom comportamento:
"O público traz um fervor incrível. Mas é claro que tem que ser feito com respeito a todos os jogadores. Embora seja normal os fãs virem para trazer entusiasmo e torcer por seus favoritos, isso nunca deve comprometer os valores do tênis e a consideração pelos jogadores" disseram os organizadores em um comunicado.
Até mesmo os jogos sem tenistas franceses geraram controvérsia. Nesta quarta-feira, depois da grande vitória sobre a japonesa Naomi Osaka, a polonesa Iga Swiatek pediu aos espectadores que "apoiem entre os 'ralis', não durante".
Vaias contra "visitantes"
Na semana passada, durante o qualifying, houve outros momentos de tensão, como quando o argentino Diego Schwartzman foi vaiado quando enfrentava o francês Quentin Halys. O juiz de cadeira teve que pedir a intervenção dos agentes de segurança.
Os incidentes deste tipo não são novos em Roland Garros. No ano passado, o norte-americano Taylor Fritz foi vaiado durante a partida contra o tenista da casa Arthur Rinderknech.
Depois de selar a vitória, Fritz pediu silêncio ao público com o dedo nos lábios. Foi aí que as vaias aumentaram e ele sequer pôde fazer a entrevista pós-jogo na quadra.
Outros jogadores "visitantes" encaram de forma mais relaxada, como aconteceu com o também americano Ben Shelton em sua vitória sobre o francês Hugo Gaston.
—Sinceramente, me motiva e me dá uma energia incrível. Sei que se jogar na França contra um francês o ambiente será muito carregado, eu gosto muito disso—afirmou Shelton.
—Não gostaria de ter que enfrentar uma situação assim. É surpreendente a maneira com que as pessoas podem se comportar em um esporte de cavalheiros como é o tênis — disse, por sua vez, o grego Stefanos Tsitsipas.
Público mais jovem
Entre os tenistas franceses, o habitual é enaltecer o grande apoio que recebem da arquibancada quando jogam em Paris.
—Isso contagia, te motiva, afeta o adversário— considera o veterano Richard Gasquet, eliminado na segunda rodada.
Lucas Pouille declarou ao canal Eurosport que acredita que o público "bota um pouco de pimenta em um esporte que às vezes é um pouco monótono".
—Quando você joga com um argentino na Argentina, com um chileno no Chile ou contra italianos na Copa Davis, fazem gestos obscenos para você. O que acontece aqui considero bastante tranquilo— disse Pouille, que disputou o qualifying e está na chave de duplas em Paris.
Corentin Moutet derrotou o chileno Nicolás Jarry no último domingo em um ambiente também muito acalorado, que o próprio agitou ainda mais pedindo ao público para fazer mais barulho.
—O público começa a ser diferente, é mais jovem. Quanto mais clima houver, melhor para o tênis— considerou Moutet, que terá como próximo rival o cazaque Alexander Shevchenko.
Cabeça de chave número 16, Jarry não gostou tanto assim do apoio para o adversário.
— É muito mais difícil jogar com o público contra. Consegui lidar bem com isso durante todo o ano na Argentina, na Itália, em Miami, mas hoje não pude— disse o vice-campeão dos Masters de Roma, que perdeu em quatro sets para Moutet.
* AFP