A contagem regressiva para a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris está na reta final. A partir desta segunda-feira (8) restam 200 dias para que os atletas de mais de 200 países desfilem pelo Rio Sena e deem início a 33ª edição do maior evento multiesportivo mundial.
O Time Brasil tem até o momento um total 145 vagas garantidas e projeta chegar a uma delegação de cerca de 330 atletas em Paris. Uma das apostas brasileiras para fazer história na França é o remador carioca Lucas Verthein.
Em 2023, o atleta do Botafogo ganhou a medalha de ouro, na prova do single skiff, nos Jogos Pan-Americanos de Santiago e encerrou uma seca que perdurava há 36 anos. Desde o Pan de Indianapolis, em 1987, quando os irmãos Ronaldo e Ricardo Carvalho ganharam a prova do skiff duplo, o Brasil não subia no lugar mais alto do pódio.
A medalha no Chile e a experiência de ter chegado às semifinais da prova nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, animam Lucas quando o tema é Paris. Em entrevista ao programa Gaúcha 2024 da Rádio Gaúcha, ele contou sua trajetória no esporte, relação com o Botafogo, com o investidor John Textor e o que espera deixar como legado.
Você foi semifinalista em Tóquio e agora chega mais experiente, com mais conquistas. Em Paris, a evolução ainda será maior ?
Foram Jogos Olímpicos muito especiais. O esporte vem evoluindo. Não só os meios de comunicação. Hoje você tem mais informação, mais parâmetros, e o cacife (régua) sobe mais. Eu já tinha uma certa experiência, mas não num nível tão alto. Porque os Jogos são o ápice. E foi especial tendo em conta a quantidade de inscritos na prova, sempre a mais concorrida. Foi o melhor resultado, se você comparar os número de países que venci para chegar nessa posição foi significativo, mas sabendo que terminei Tóquio com muito a evoluir.
2023 foi um ano especial pra você, com o ouro no Pan.....
Em 2023, terminei com ótimos resultados. Uma construção feita com o apoio do treinador, do clube, que sempre estiveram comigo desde 2012, quando comecei. Fechei com ouro inédito no single skiff (no Pan). Foi um momento de felicidade e a ficha ainda não caiu. Além de entregar resultados, a minha missão como atleta é divulgar o meu esporte cada vez para que mais pessoas conheçam, tenham contato, experimentem e possamos popularizar o remo até como foi em anos passados, quando as regatas nos domingos tinha mais importância até que o futebol.
O que você espera deixar como exemplo para gerações futuras?
Quero chegar num momento onde as pessoas vinculem o meu nome ao esporte (remo), assim como hoje é a Rebeca Andrade, o Isaquias Queiroz, que quando falam o nome já sabem qual o esporte
LUCAS VERTHEIN
Remador brasileiro campeão pan-americano
O esporte em si muda a vida das pessoas. Praticar uma atividade física, você está estimulando o corpo, cuidando da saúde. Primeiro tem que tomar a iniciativa de se movimentar. Conhecer um esporte, se apaixonar, como aconteceu comigo é uma sensação que as pessoas tem que ter essa sensação. Eu sou privilegiado de fazer o que amo, de conhecer países do mundo inteiro, pessoas de diversas classes sociais, estar me sentindo de algo maior. Eu sempre vou dar meu melhor pra fazer história. O esporte é um caminho e pode fazer as pessoas a mudarem seus hábitos, a forma como veem o mundo, tratam o próximo. O esporte é uma lição de vida para o mercado de trabalho. Ele prepara teu físico, o teu mental. Sou grato pelo remo e por as pessoas estarem conhecendo o meu trabalho. Quero chegar num momento onde as pessoas vinculem o meu nome ao esporte (remo), assim como hoje é a Rebeca Andrade, o Isaquias Queiroz, que quando as pessoas falam o nome, já sabem qual o esporte, o que conquistou. Esse é o cartão de visitas que quero ter futuramente.
Você disse que se apaixonou pelo remo quando conheceu a modalidade. E como surgiu esse amor à primeira vista ?
Foi por acaso. Eu era um garoto sedentário. Ficava o dia jogando videogame, não tinha muitos amigos. E num dia eu tive vontade pegar a bicicleta e dar uma volta na Lagoa (Rodrigo de Freitas) e estava na frente do Botafogo (sede de remo) e fiquei vendo as pessoas ali, treinando, em contato com a natureza, aquela paisagem. Não entrei no clube, mas semanas depois um colega meu de aula (Francisco Geiman Thiesen) me convidou pra fazer parte da equipe (de remo). Fazer uma peneira e eu me apaixonei e estou aqui até hoje.
Então tem muito que agradecer a esse seu amigo .....
Demais. Até hoje a gente se fala. Hoje ele está em outro patamar. Trabalha nos Estados Unidos, na Microsoft, sempre foi estudioso. Tem uma história de quando ele chegou pro meu treinador e falou: "Paulinho eu posso nunca ser um atleta que você vai treinar pra ser campeão do mundo, mas vou te trazer um cara que vai ser". Ele realmente é um amigo, mesmo que fique anos sem falar. É uma verdadeira amizade e que não muda com o tempo.
E você sempre foi Botafogo ?
Ele é um cara do esporte, que ama o que faz. Ele comprou o barco que usei no Pan e que estou usando também na preparação para Paris
LUCAS VERTHEIN
Remador brasileiro sobre relação com o investidor do Botafogo John Textor
Sempre fui botafoguense. Eu até tenho foto de aniversário, quando criança, com pintura com o escudo do Botafogo no braço. Até já postei esta foto nas redes sociais.
E a relação atual com o clube como se dá ?
Sempre foi muito boa. O Botafogo sempre me ajudou em muita coisa. Ainda mais agora na gestão do Durcesio Mello (presidente), responsável pela criação da SAF, junto com o investidor John Textor. Ele (Durcesio) mudou a história do clube, se preocupa com o espore olímpico. Criou modalidades para o clube ter um representatividade maior, como vôlei de praia, judô, mantém o basquete, o remo. O clube está se reestruturando e o Botafogo é um clube gigante, assim como outros espalhados pelo país. Queremos promover o esporte.
E com o John Textor qual sua relação. Ele ajuda de alguma forma ?
O John não tem obrigação contratual com o esporte olímpico. Ele é detentor de 90% do futebol. Mas ele é um entusiasta, ama o esporte olímpico, foi skatista profissional, ele é um cara do esporte, que ama o que faz. Ele comprou o barco que usei no Pan e que estou usando também na preparação para Paris e tenho certeza que aos poucos ele vai ajudar cada vez mais. Ele é uma pessoa que gosta do esporte.
E quando se fala Paris, o que vem à sua cabeça ?
Paris me passa sonho, conquista, dedicação. É tanta coisa que passa pela minha cabeça. Eu acordo e vou dormir pensando em Paris. É a razão pelo que estou me preparando não é de hoje, de ontem, mas de 11 anos atrás. Sempre me preparando para as competições alvo pra chegar com as melhores condições possíveis, com chances de resultado. E diferente de Tóquio, agora me sinto mais preparado, treinado, evoluído. E não serão Jogos surpreendentes para muitas modalidades e pode ter certeza que o Brasil vai fazer história no quadro de medalhas.
A Cerimônia de Abertura em Paris será no Rio Sena. Então para você pode ser desfile no barco grande ou até mesmo remando pelo Sena......
O barco que tiver eu vou estar. No Sena (rio) a gente coloca um skiff, um caiaque, o que tiver a gente rema.
A história de Lucas Verthein e de tantos brasileiros começará a ser contada daqui 200 dias na capital francesa. É na chamada Cidade Luz, que ele tentará fazer brilhar a “Estrela Textor“, como foi batizado o barco comprado para ele pelo investidor do clube, que é feito totalmente em fibra de carbono e foi produzido por uma empresa alemã.