Depois de assistir a uma reportagem dos astros de MMA Wanderlei Silva e Rodrigo Minotauro no programa Fantástico, a cabeça de Andrews "Shamo" Souza — à época com 11 anos — nunca mais foi a mesma. Ele queria começar a lutar. Também por influência de seu padrinho, começou a praticar aikido.
Iniciou sua trajetória no muay thai em 2008, ano em que fez sua primeira luta. Aos 17 anos, em 2010, sagrou-se campeão gaúcho e brasileiro juvenil, conquistando uma vaga para o Mundial na Tailândia. Mas, por falta de recursos, não conseguiu viajar para o país asiático. Sete anos depois, em 2017, tornou-se campeão gaúcho. Em 2019, mudou-se para a Tailândia para buscar uma carreira internacional. No final do mesmo ano, após série de lesões, decidiu pela aposentadoria na modalidade, apostando na dedicação exclusiva para treinador, atividade que já desempenhava desde 2012.
Em 2020, migrou para o boxe, esporte que praticava sem profissionalização. Com a chegada da pandemia, em fevereiro daquele ano, iniciou longos períodos de treino para aperfeiçoar suas técnicas de combate. Em 2021, Shamo ajudou o colega de treinos, Gustavo Silva, no desafio contra Luizinho Punhos de Aço pelo cinturão peso-pena do Conselho Nacional de Boxe (CNB). Silva venceu o combate por nocaute no sexto round e conquistou o título. Ainda em 2021, focado em seguir como treinador de boxe, começou a trabalhar com atletas profissionais de MMA da equipe Sombra Team, uma das maiores de artes marciais mistas do sul do Brasil, onde segue até hoje.
Neste ano, a convite da Associação Gaúcha de Artes Marciais (Agam), participou do Campeonato Mundial de Muay Thai em Ayutthaya, na Tailândia, entre os dias 12 a 17 de março, evento organizado pela Kru Muay Thai Association (KMA) e pela World Muaythai Organization (WMO), duas das maiores entidades da modalidade no mundo. Aos 31 anos, o gaúcho terminou a competição como vice-campeão na categoria mista (até 75kg). Além da medalha de prata na Tailândia, o atleta ainda foi campeão gaúcho profissional e campeão brasileiro amador.
O programa Pró-Esporte, da Secretaria do Esporte e Lazer, financiou a participação da AGAM no Mundial. Cerca de 300 atletas representando 45 países competiram nos cinco dias do evento, e a AGAM foi representada por uma equipe de seis atletas, selecionados pela Confederação Brasileira de Muay Boran e Muaythai (CBMB).
Em contato com GZH, o lutador falou sobre a experiência no Exterior, fatos mais marcantes na viagem à Tailândia, objetivos na carreira e referências no mundo das lutas. Confira abaixo os principais trechos da conversa.
Como foi a experiência de competir neste mundial realizado na Tailândia?
Ja tinha estado no país duas vezes, mas a primeira para competir mesmo. Sinto que venci mesmo não levando o título. Tive adversários duríssimos e acredito que perdi por um erro tático. Eu deveria ter mudado a estratégia. Mas voltei pra casa com a sensação de vitória.
Tu disse que sofreu o revés por um erro tático. O que poderia ter feito de diferente para conseguir a vitória?
Eu poderia ter sido um pouco mais malandro, talvez arrastando a luta mais para o final. Achei que na trocação franca iria nocautear, mas o britânico aguentou bem as pancadas. Faltou ritmo de competição para mim. Se estivesse 100%, teria levado o título.
E antes de viajar para o Mundial, conseguiu estudar os teus prováveis rivais?
A minha equipe já esperava uma chave difícil no Mundial. Para ter ideia, poderíamos pegar atletas da Mongólia, Inglaterra, Austrália e Taiwan. Minha primeira luta foi contra o taiwanês, no segundo dia de eventos. Senti que cativei o público. Conseguia ouvir a galera gritando "Brasil, Brasil". Me chamavam de "Smiling Fighter (lutador sorridente)", talvez pelo fato de me divertir dentro do ringue, de debochar do adversário. Acho que deixei uma boa impressão na Tailândia.
Mesmo não conquistando o título, o que mais te marcou nessa competição?
Além de lutar em alto nível, destaco também a equipe que foi pra Tailândia. Parecíamos que já estávamos há muito tempo treinando juntos, então foi muito prazeroso fazer parte daquele time.
Depois de voltar para o Brasil, recebeu algum convite? Quais os teus objetivos daqui pra frente?
Recebi alguns contatos depois de retornar, mas ainda seguimos em negociações. Tinha prometido para mim que se fosse bem no Mundial, reiniciaria a minha carreira. Então, agora é um momento de refletir, sentar com a minha equipe e ver o que podemos fazer. Tá chegando um momento na minha carreira em que é preciso decidir logo o que deve ser feito, se continuo apenas como treinador ou atleta. Por enquanto, consigo conciliar as duas atividades, mas daqui há cinco anos não sei se será tão fácil fazer isso. Antes de decidir o que realmente fazer, quero competir no Exterior novamente.
Todo atleta tem suas referências no mundo das lutas. Quais são as tuas?
Comecei a lutar mesmo por causa do José Aldo, Anderson Silva e do Wanderlei, eu amo esses caras. Minha maiores referências no Brasil. Também sou muito fã dos irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão. Acompanho também vários nomes do muay thai, como o Rodtang Jitmuangnon, atual campeão mundial peso-mosca do ONE Championship.
Quer deixar uma mensagem para quem leu esta entrevista?
Primeiro quero agradecer aos patrocinadores e a todos que acreditam no meu trabalho, como o Márcio Miranda, Alexandre Carneiro, minha equipe Top Boxe, proprietário Thalles Collar, meu professor Cassio Piedras, que é meu irmão, um cara que me ajudou muito. Um agradecimento também ao Gabriel Araújo, meu assessor de imprensa. Sombra Team, minha equipe do coração. Agora sim, a mensagem que deixo é a seguinte: acredite sempre. Se você quer lutar, faça por gostar e se divirta. É um trabalho. O mais importante é voltar para casa inteiro, sabendo que deu o seu melhor.