A seleção brasileira masculina de basquete está classificada para a Copa do Mundo, que ocorrerá entre agosto e setembro no Japão, na Indonésia e nas Filipinas. A confirmação da vaga veio na noite deste domingo (26), em Santa Cruz do Sul, com a vitória sobre os Estados Unidos, por 83 a 76.
Com o resultado, o time de Gustavo de Conti ficou em quarto lugar no Grupo F da eliminatórias das Américas e entrou como o melhor quarto colocado, superando a Argentina, quarta do E, no saldo de cestas. Assim, manteve o recorde de ser, ao lado da própria seleção norte-americana, as únicas a disputarem todas as edições do Mundial.
Depois de perder para Porto Rico, na última quinta-feira (23), com uma cesta no último segundo, o time brasileiro entrou em quadra pressionado a vencer. O rival seria a poderosa seleção dos EUA, que embora não tenha utilizado nessas eliminatórias nenhum jogador que esteja atuando na NBA, conta com a tradição e o peso da camisa de uma equipe dona de 16 das 20 medalhas de ouro olímpicas possíveis e a maior campeã mundial, com cinco títulos, empatada com a extinta Iugoslávia.
Esta tradição dos Estados Unidos fez a torcida local esgotar todos os 6,5 mil ingressos disponíveis para a noite deste domingo, de forma antecipada. Afinal, todos queriam ver a seleção do país que inventou o basquete jogando em Santa Cruz do Sul, cidade que é apaixonada pela modalidade.
Antes mesmo de a bola subir, a emoção tomou conta do ginásio. O neto do ex-prefeito Arno Frantz, Alexsander, foi saudado pelo público, como espécie de homenagem à memória do político que faleceu em dezembro de 2019, aos 97 anos, e que dá o nome ao Ginásio Poliesportivo.
Com as equipes em quadra para o trabalho de aquecimento, o torcedor mostrou que iria ser o sexto homem da seleção e, de cara, vaiou fortemente os norte-americanos e aos gritos de "Brasil, Brasil!" recepcionou o time brasileiro.
Torcida carrega o time no 1º quarto
Com o clima de caldeirão formado, o jogo começou e a primeira cesta foi do ala Deonte Burton. Logo depois, Marcelinho Huertas, que iniciou no quinteto titular ao lado de Georginho de Paula, Léo Meindl, Bruno Caboclo e Lucas Mariano desperdiçou um ataque, mas o time brasileiro conseguiu roubar a bola e Léo Meindl converteu os dois primeiros pontos da linha dos lances livres.
O público jogava junto a cada lance e foi ao delírio em um toco de Caboclo sobre Burton. Já classificada, a equipe norte-americana jogava leve e com 5 minutos jogados vencia por 14 a 9, após bola de três de Langston Galloway. Vieram as primeiras trocas e Gui Santos e Rafael Hettsheimer foram chamados. Aproveitando os erros do Brasil, os Estados Unidos foram se mantendo na liderança.
Uma bela ponte aérea de Yago Mateus com Caboclo deixou o marcador em 16 a 15 para os visitantes e fez a torcida explodir na arquibancada. O lance se repetiu na virada em 17 a 16, e o ginásio Arno Frantz tremeu a menos de 2 minutos do término do primeiro período, que terminaria com uma bola de três de Yago, deixando o marcador em 22 a 16 para a seleção brasileira. Caboclo marcou nove pontos e pegou três rebotes, enquanto Yago deu três assistências.
Brasil aumenta erros e EUA encostam no placar
O recomeço da partida manteve o Brasil aceso. Vítor Benite infiltrou, fez a cesta, levou a falta e no lance livre a diferença cresceu para nove pontos (25 a 16). Marcando muito e com Yago inspirado, em nova ponte aérea conectada desta vez com Lucas Mariano, a seleção passou a ter dois dígitos de vantagem (27 a 16).
Os dois times passaram a errar demais e isso favoreceu os visitantes, que encostaram em 27 a 21, com cerca de 5 minutos por jogar no segundo quarto. A seleção seguiu com dificuldades no ataque e o placar chegou a 36 a 31. A esta altura já estava claro que o time dirigido por Jim Boylen, que entre dezembro de 2018 e agosto de 2020 foi o técnico principal do Chicago Bulls, não facilitaria a vida brasileira.
Com menos de 20 segundos, em jogada muito contestada pelos brasileiros, que pediram falta em Gui Santos, Craig Sword arrancou em contra-ataque e encurtou para quatro e o intervalo chegou com 39 a 35 para o Brasil. Caboclo com 13 pontos e cinco rebotes e Yago, com sete pontos e cinco assistências, foram os destaques do primeiro tempo.
O terceiro quarto de Yago
O terceiro período começou e em menos de dois minutos os norte-americanos viraram o placar para 40 a 39, com uma bola de três de Galloway e uma cesta de Burton. O Brasil seguiu errando e, em novo arremesso de três, Galloway fez 47 a 44, forçando Gustavo de Conti a parar o jogo. Imediatamente, a torcida se pôs de pé para não deixar o time se abater. E o efeito veio em dois arremessos de Yago da linha dos tês e a virada para 52 a 50. O reconhecimento veio com o nome do camisa 2 sendo gritado a plenos pulmões nas arquibancadas.
E, no ritmo de Yago, autor de nove pontos no período, e da torcida, a seleção brasileira foi sustentando e aumentando a vantagem até o final do quarto, com o marcador apontando 62 a 54. O passaporte para a Copa do Mundo estava a 10 minutos de ser carimbado.
Nervosismo na reta final
O Brasil começou o último quarto com uma bola de três de Leo Meindl. Porém, desde este instante, com 9min41seg por jogar até Gui Santos receber falta com o cronômetro marcando 4min27seg para o final, a seleção não pontuou mais e por sorte os norte-americanos fizeram neste tempo apenas seis pontos. Quando o ala draftado pelo Golden State Warriors acertou os dois lances livres e deixou o placar em 67 a 60, a vaga pareceu próxima.
Caboclo acertou uma arremesso contestado dos três e o Brasil fez 70 a 63. Uma nova bola de fora, desta vez de Georginho de Paula, manteve a diferença em sete pontos (76 a 69) a dois minutos do fim. Marcelinho Huertas em lances livres fez 81 a 74 e a festa iniciou com gritos de "Brasil" e "Ah, eu sou gaúcho". Santa Cruz do Sul reviveu suas melhores noites de basquete e colocou a seleção brasileira na Copa do Mundo.
Os outros classificados das Américas
A rodada começou com duas seleções classificadas para o Mundial. Canadá e Estados Unidos, líderes dos grupos E e F, respectivamente. As outras vagas diretas ficaram com Porto Rico, que venceu a Colômbia (87 a 80), México, que passou pelo Uruguai (82 a 69), a República Dominicana, que no confronto direto eliminou a Argentina (79 a 75), e a Venezuela, mesmo com a derrota para o Canadá (74 a 57), por ter melhor saldo de cestas que os argentinos.