De um lado da rede, a campeã de Wimbledon e do US Open Vania King. Do outro, o vencedor de dois torneios ATP, Nicolas Pereira. Além deles, Ariela Pastro da Cunha e Lucas de Souza Prestes completavam as duplas. E, do lado de fora, ao menos 30 guris e gurias aguardavam para bater bola com os ex-profissionais. A quadra? A sede do WimBelemDon, um saibro bem cuidado, bairro Belém Novo, na zona sul de Porto Alegre. As improváveis partidas foram apenas algumas das tantas atividades do projeto social, que recebeu a primeira edição presencial voltada para o tênis do Sports Diplomacy, promovido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
A norte-americana Vania e o venezuelano Pereira, carinhosamente chamado por todos de Nico, são os embaixadores da modalidade no programa dos Estados Unidos, que chegou a Porto Alegre graças a uma parceria entre o Consulado Geral norte-americano e o projeto social WimBelemDon. Eles ficam na Capital até sexta e têm participado de diversas atividades sociais. Nesta quinta, irão a uma escola da Zona Sul para conversar com alunos de sete a nove anos. Na sexta, a programação prevê um encontro com outras ONGs no Instituto Caldeira.
Os dois tenistas não esconderam o encantamento de vivenciar esses encontros. Vania foi a convocada pelo Departamento de Estado, e convidou Nico para acompanhá-la. O venezuelano chegou a morar no Brasil e conhecia Marcelo Ruschel, fundador e superintendente do projeto, dos tempos em que ele jogava e Marcelo fotografava o esporte. Tinha ouvido falar remotamente do projeto, mas ver de perto, garante, deixou-o encantado:
— É tudo muito organizado e profissional. Ao mesmo tempo, feito com um amor impressionante. Estou aprendendo muito. E já sei que, quando retornar, vou ter uma ideia linda para difundir e ajudar as pessoas.
No caso de Vania, nem mesmo o fato de não falar português atrapalhou. Havia intérprete à disposição, claro, mas seu esforço ajudava a entender as crianças e a brincar com elas nas atividades.
— O projeto é uma experiência incrível, mas a acolhida de todos foi muito calorosa. O esporte tem esse poder de aproximar. E o tênis é mais um veículo para ajudar a formar caráter, educar. Mas sou competitiva, então até nas brincadeiras queria ganhar — divertiu-se a ex-tenista.
A cada batida de Vania e Nico na bolinha, os meninos atendidos pelo projeto suspiravam. Vania, inclusive, ajudava suas parcerias quando a jogada era difícil, uma prova de quando falou sobre o desejo de vencer. Até por isso, quando trocavam bolinhas, notava-se a concentração e dedicação da gurizada para mostrar o quanto sabem jogar — e sabem mesmo. Entre os alunos, estavam Lucas e Ariela.
O menino tem 13 anos, é aluno da escola Evarista Flores da Cunha e dono de um forehand potente e preciso. Por trás dos óculos, está um guri carismático, falante e frequentador assíduo do projeto. Vai, todos os dias, à sede do WimBelemDon do meio-dia às 16h45min. Participa de todas as atividades, mas é da raquete que não abre mão.
— O que mais gosto é de jogar tênis. Sempre que posso, estou na quadra — conta.
Ariela tem 12 anos e estuda na sexta série da Escola Horto Madre Raffo. Seu backhand é elegante e firme, fruto das aulas no WimBelemDon. Sua ligação com o projeto é tamanha que, apesar da pouca idade, já sabe o que vai fazer na vida adulta:
— Quero ser instrutora de tênis aqui. Que nem a Jaleska.
Jaleska Mendes, 27 anos, é um dos exemplos de sucesso do projeto. Aluna por nove anos, voltou à ONG como estagiária, foi contratada e agora dá aula de tênis para os novos estudantes.
— Ouvir isso é sinal de dever cumprido. Consegui devolver ao WimBelemDon parte do que recebi nesses anos — diz.
Isso tudo é música para os ouvidos de Marcelo Ruschel. Seu projeto, que completa 22 anos e cuja história está contada em uma exposição no BarraShopping Sul até 31 de outubro. Essas ações ajudam a perpetuar os ideais do WimBelemDon, de inclusão, socialização e auto-aceitação.
— As crianças não esquecem a atenção que recebem aqui. E contaminam as famílias. Que expandem para os bairros e comunidades. É uma obrigação nossa levar adiante esses valores — amplia Marcelo.
Com 20 anos de existência, o projeto norte-americano já enviou mais de 300 promotores de 24 esportes. É a primeira participação no RS. A cônsul para Educação, Cultura e Imprensa do Consulado Geral dos EUA em Porto Alegre, Beata Angelica, explicou que "receber um programa como o Sports Diplomacy não seria possível sem parceiros locais como o WimBelemDon".
— São iniciativas como essa, que promovem valores que nossos países têm em comum, a preocupação com a inclusão e desenvolvimento social de todos que queremos ver acontecendo mais e mais.