Eram 26 minutos do primeiro tempo quando o brasileiro Éder Militão tentou sair jogando e entregou de presente para Raphinha. Da entrada da área, o atacante gaúcho de 25 anos dominou e, três segundos depois, já estava correndo para comemorar o seu primeiro gol no El Clásico. O chute de esquerda pegou curva e encontrou o ângulo de Courtois. O gol rendeu a vitória sobre o Real Madrid por 1 a 0 em amistoso disputado em 24 de julho em Las Vegas.
Quase um mês depois do golaço, Raphinha recebeu GZH no Cidade Esportiva Joan Gamper, em Sant Joan Despí, nos arredores da capital catalã. Em entrevista exclusiva, falou durante 25 minutos e 30 segundos sobre temos com a temporada no Barcelona e, claro, a bucha contra o Real Madrid.
A estreia contra o Real Madrid foi incrível. Marcou um golaço, apesar de ser em um amistoso.
Era um amistoso, mas, se estivéssemos perdido, teríamos sido cobrados do mesmo jeito que acredito que eles foram, independentemente de ser o primeiro jogo da temporada. Jogar meu primeiro clássico e marcar um gol, sair com a vitória, foi incrível. Procuro sempre focar em cada jogo como se fosse o último, não importa que seja na La Liga, Champions ou Seleção. Sempre concentro naquela partida como se fosse a última ou a primeira. Isso me ajuda a manter o foco durante o jogo e não me deslumbrar. Mas claro que é gostoso fazer um gol e ganhar o maior clássico do mundo. Vou tentar isso a temporada toda, vencer clássico e a maioria de campeonatos possíveis.
O que você pensou quando viu a bola entrando no ângulo? Há 12 anos, estava na várzea e agora marcando contra o atual campeão da Champions.
De primeiro momento, quando a bola caiu no meu pé, já vi que dava para chutar. Vi ela entrando e pensei: "nossa, que golaço. Que golaço que eu fiz. O que é isso?". A ficha demora para cair porque cheguei no maior clube do mundo e ainda estou me adaptando. De repente, faço um gol no atual campeão da Champions... Claro que isso mexe um pouco com a gente. Foi um grande jogo, mas para mim acabou sendo uma coisa normal, porque este é o meu trabalho, tu é pago para fazer aquilo. No caso de um jornalista, como você acompanha muitas coisas, acaba normalizando. Depois, quando cheguei no quarto, pensei: "caraca, acabei de fazer um golaço no maior clássico do mundo". Mas é para isso que a gente trabalha, fazer gol no clássico.
Se Deus quiser, vou fazer meu nome aqui para que, um dia, chegue outro brasileiro e seja comparado com o Raphinha. Quem sabe?
RAPHINHA
Atacante do Barça
O técnico Xavi disse que você tem as características do Neymar com a finalização do Rivaldo.
Tá bom demais, né? O Neymar para mim é um ídolo. Admiro ele muito, tanto como jogador quanto pessoa. Não é segredo para ninguém. O Rivaldo foi um grande jogador. Não tenho palavras para descrever a gratidão que tenho em ser comparado com esses caras e por um ex-jogador tão incrível quanto o Xavi. Vou fazer o possível para ajudá-lo e ajudar a equipe. Se Deus quiser, vou fazer meu nome aqui para que, um dia, chegue outro brasileiro e seja comparado com o Raphinha. Quem sabe?
Quais são as suas projeções individuais e coletivas para a temporada no Barcelona?
Me vejo evoluindo muito como jogador e como pessoa. É um time que vai me fazer crescer e conquistar grandes coisas individuais. Não estou falando da boca para fora. Acredito que temos potencial para ganhar a La Liga e chegar longe na Champions (o time caiu no grupo da morte, com Bayern de Munique e Inter de Milão). Não vou dizer título porque é um campeonato em que, em um jogo, tudo pode acontecer se você estiver em um dia ruim no mata-mata. O Barcelona, quando entra na competição, tem que vencer. O jogador que vem para cá tem que ter isso na cabeça. Temos um grupo muito bom para ganhar todas as competições.
Com o Bielsa a gente corria mais, com bola e sem ela. Aqui, o Xavi, pelo estilo de jogo do Barcelona, prioriza a posse de bola para cansar o adversário
RAPHINHA
Atacante do Barça
Quais são as mudanças que tu percebeu no estilo de jogo do Xavi em comparação ao de Marcelo Bielsa, seu ex-treinador no Leeds?
Com o Bielsa, a gente corria mais, com bola e sem ela. Aqui, o Xavi, pelo estilo de jogo do Barcelona, prioriza a posse de bola para cansar o adversário e a gente ter mais facilidade para chegar no ataque. Ele foi acostumado com isso desde pequeno, a jogar no campo do adversário com a bola. É isso que ele tenta passar para a gente. Obviamente, o time que estiver no campo de ataque vai ter mais chance de ganhar o jogo.
Desgasta menos ficar com a bola, ainda mais na tua posição?
Faz diferença. Independentemente de com ou sem bola, nós temos de procurar espaço, esticar o jogo. Mas, com a bola, a gente corre menos porque não tem de ficar atacando, defendendo, atacando e defendendo. Óbvio que a gente não vai ficar o tempo todo com a bola, vamos ter de voltar para marcar, mas o Xavi prioriza bastante o trabalho físico para que a gente esteja preparado para estas situações. Está todo mundo se entregando ao máximo tanto na parte física quando na parte tática.
Já é possível sentir uma pressão para que o clube volte a conquistar um título?
Sem dúvida, cara. Por exemplo, a gente empatou contra o Rayo Vallecano na estreia. O juiz apitou o final da partida, e o estádio todo começou a vaiar. Isso no primeiro jogo da temporada. Claro que a gente já esperava essa vaia após o resultado. Quando tu está jogando no maior clube do mundo, o torcedor vai esperar que você ganhe sempre. E essa cobrança é boa. Significa que temos potencial porque, se não tivéssemos, o torcedor não estaria nos cobrando, acreditando na gente. Foi um jogo difícil. Acredito que nenhum jogo é fácil, todos têm as suas dificuldades. O goleiro dos caras pegou tudo e, quando não pegou, tivemos um gol anulado por impedimento. Tinha o nervosismo pela estreia na Liga.