A 90 minutos da Copa do Mundo do Catar, a Ucrânia comandada por Oleksandr Zinchenko joga neste domingo (5) em Cardiff contra o País de Gales às 13h (de Brasília), um feito esportivo que traria um alento para um povo traumatizado pela invasão russa.
Ao vencer na quarta-feira a Escócia (3-1) fora de casa nas semifinais da repescagem europeia, a seleção azul e amarela já percorreu metade do caminho e disputa cada jogo "como uma final", segundo Zinchenko, que se tornou a figura de destaque desta seleção.
Neste domingo, acrescentou o jogador do Manchester City, capaz de jogar tão bem na defesa como no meio-campo, "teremos de oferecer a melhor atuação das nossas vidas".
Este ex-jogador do Shakhtar Donetsk, que teve que fugir da guerra em Donbas em 2014 e que assinou um contrato com o clube russo FC Ufa antes de se transferir para os 'Citizens' um ano depois, agora fala sobre futebol usando palavras com conotações bélicas.
"Todos nós entendemos que o jogo contra o País de Gales não será uma questão de condição física ou tática, mas de sobrevivência. Todos vão lutar por isso e dar tudo", explicou o jogador de 25 anos, como se estivesse enviando forças aos soldados ucranianos, já que não pode apoiá-los lutando ombro a ombro.
"Sou mais útil para a Ucrânia estando em Manchester e ajudando os ucranianos o máximo que posso, enviando material, dinheiro ou explicando a todos que me ouvirem o que está acontecendo atualmente na Ucrânia", disse ele.
Zinchenko caiu em prantos várias vezes durante entrevistas e coletivas de imprensa recentes, inclusive na última terça-feira, 24 horas antes da partida contra a Escócia.
"Muitos países não entendem que hoje é a Ucrânia que é atacada, mas que amanhã podem ser eles", disse o jogador de forma um pouco mais diplomática do que quando no primeiro dia da invasão russa, em 24 de fevereiro, postou uma mensagem para Vladimir Putin em que desejava sua morte.
"Pleno de emoções"
"Zinchenko é um ucraniano muito patriota, muito sensível também, um verdadeiro ucraniano", elogiou o treinador Oleksandr Petrakov, de 64 anos. Petrakov até se ofereceu para servir no exército nacional no último inverno (europeu), antes de optar por se concentrar no objetivo de uma segunda participação em uma Copa do Mundo, depois da edição de 2006, pelo forte valor extra-esportivo que isso acarretaria.
Líder moral, Zinchenko também terá que comandar a maior parte do jogo da equipe em Cardiff. Seis dos onze titulares em Glasgow jogam por clubes ucranianos e, antes dessa partida na Escócia, não disputavam um jogo oficial havia meses. Apenas Yarmolenko (West Ham), Yaremchuk (Benfica), Malinovskyi (Atalanta) e Mykolenko (Everton) conseguiram terminar a temporada normalmente.
O zagueiro galês Ben Davies reconheceu que esta final da repescagem será um "evento cheio de emoções, onde muita gente espera boas notícias para a Ucrânia, mas temos de tentar manter o foco no futebol durante os 90 minutos".
As autoridades ofereceram 100 ingressos a refugiados ucranianos, além de 5% dos lugares reservados para torcedores visitantes estabelecidos pelo regulamento, em um local com 33.000 assentos, o Cardiff City Stadium, que estará lotado.
O País de Gales não participa de uma fase final de uma Copa do Mundo desde a de 1958, na Suécia.
* AFP