Um dos maiores treinadores de turfe da história do Rio Grande do Sul, Hermínio Paulo Machado morreu aos 76 anos na noite de sábado (30), em Porto Alegre.
Machado nasceu na localidade de Vila Vasconcelos, hoje município de Sentinela do Sul, em 15 de novembro de 1945. Começou a carreira como capataz na criação de cavalos no haras de Serafim Vargas, em São Borja, nos anos 1960. Ainda passou pelo haras de Capela de Santana, em 1975, e de La Cibeles, em 1982. Em paralelo ao trabalho de capataz, atuou como gerente dos treinadores de cavalos Jary Motta, Odilo Machado e Luiz Carlos Soares.
Foi apenas em 1995 que Machado ingressou como treinador de cavalos de corrida no Jockey Club do Rio Grande do Sul, local onde permaneceu até seus últimos dias. Entre amigos, Hermínio era conhecido como "Mago" por causa da sua habilidade em transformar cavalos perdedores em vencedores.
Flávio Obino Filho, advogado e filho do ex-presidente do Grêmio Flávio Obino, conheceu o "Mago" aos 11 anos, no haras de Capela de Santana. Hoje aos 56 anos, Obino relembra uma de tantas passagens que teve ao lado de Hermínio.
— Lembro de um episódio em que Rolin Fan (égua do haras Capela de Santana) e Boina Rosa, até então invictas com seis vitórias, se enfrentariam. Estávamos no haras e tanto enchi o saco do meu pai que ele entregou a chave do fusca para o Hermínio (sem carteira de motorista e talvez estreante em uma estrada) e disse: leva. Eu com meus 11 anos. Foi uma viagem com emoção. Na altura de Canoas, em uma sinaleira, o Hermínio engatou marcha à ré e por pouco não provocou um grave acidente. Chegamos ao Cristal, e a Rolin Fan massacrou a adversária. Retornamos para Capela inteiros e felizes — destaca.
Obino retornou ao turfe em 1998, depois de alguns anos afastado. Após adquirir um novo cavalo chamado Guerreiro King, tratou de levar o animal para Hermínio cuidar e treinar. Juntos, empilharam vitórias e venceram, entre outros campeonatos, o GP Presidente da República.
— O Hermínio deve ter chegado perto de mil vitórias. Juntos conquistamos mais de 150 clássicos, superando a marca do Breno Caldas (jornalista e criador de cavalos que venceu 122 clássicos) que nos parecia quase insuperável em 2005, quando traçamos este objetivo — relembra.
Em 2019, Obino decidiu parar com as corridas de cavalos. Na época, seu filho Vicente, hoje com 9 anos, ao saber que o pai não continuaria com as corridas, pediu para que Hermínio lhe tirasse a ideia da cabeça. Desejo que foi prontamente atendido pelo "Mago".
Contudo, no início de 2022, Hermínio pediu licença-saúde para tratar de um câncer agressivo. Antes de sua trajetória ser interrompida pela doença, ele ainda conseguiu acompanhar quatro triunfos do cavalo Sonhador Vi, também conhecido como Vicente, o mesmo nome do filho de Obino. Depois de 50 anos de amizade, Flávio Obino Filho se despede do amigo:
— Pessoa humana nota mil e o maior treinador da história recente do turfe gaúcho. A família Capela de Santana e Stud Casablanca agradece pelas conquistas e alegrias que nos proporcionou como treinador dos nossos cavalos.
Também amigo pessoal do "Mago", o comunicador da Rádio Gaúcha Adroaldo Guerra Filho, relembra a amizade de longa data com o criador de cavalos:
— Foi um dos melhores treinadores do Cristal. Ganhou páreos importantes, foi campeão de estatísticas e deixou ensinamentos para muitos que seguem no esporte.
Machado não deixa mulher, nem filhos. Seu sepultamento ocorre no Cemitério São Miguel e Almas às 15h deste domingo.