O estado de saúde do torcedor Rai Duarte, do Brasil-Pel, segue sendo considerado grave. De acordo com o boletim médico divulgado, o funcionário público de 33 anos passou por duas cirurgias e respira por aparelhos. Conforme relatado por testemunhas, Duarte foi retirado por dois policiais da Brigada Militar de um ônibus de excursão, após o confronto entre o clube de Pelotas e o São José, pela Série C, na noite do último domingo (1º).
Uma hora depois, foi encaminhado ao Hospital Cristo Redentor, também na Capital, pelos policiais, com cortes abdominais. As circunstâncias ainda não foram esclarecidas. Marta Moraes Cardoso, mãe de Rai, acusa PMs de terem agredido seu filho. A BM, por enquanto, afirma que um inquérito foi aberto para apurar os fatos.
Marta conversou com a reportagem de GZH nesta quarta-feira (4). Confira abaixo:
Como a senhora foi informada sobre o que havia ocorrido com o seu filho?
No domingo à noite eu recebi um telefonema. Um enfermeiro me disse que o meu filho tinha dado entrada no (Hospital) Cristo Redentor com hemorragia e o intestino rompido. Me passaram que ele tinha sido deixado pela Brigada Militar e perguntaram se poderíamos vir (para Porto Alegre). Ficamos apavorados. Meu marido não conseguiu nem dirigir. Foram vizinhos nossos que se prontificaram a nos trazer. Chegando aqui, fui ver o Rai e ele estava entubado e sedado. Ele havia passado por uma cirurgia para parar a hemorragia. Ontem (terça) fizeram outra cirurgia no intestino. Ele continua na mesma, com a barriga toda aberta. Estou pensando em divulgar as fotos, para todos verem o que fizeram com ele. Não é fácil. Meu filho está sedado, entubado e não tem previsão de melhora. Hoje (quarta) deram uma alimentação pela sonda para ver se o intestino estava funcionando. Senão, teriam de abrir ele novamente.
Temos relatos do momento em que ele deixa o ônibus da excursão. A próxima informação é sobre ele já hospitalizado. A senhora sabe o que aconteceu neste intervalo de tempo?
Amigos me disseram que, infelizmente, ele entrou em um ônibus de outra excursão, não a mesma que ele veio para cá. Me contaram que a Brigada Militar entrou procurando por ele. O alvo era ele. Perguntaram: "Cadê o brabão? Ele já está descansado para apanhar de novo?" Ele ouviu e saiu com eles. Depois disso, ele deu entrada (no hospital) pela Brigada, do jeito que estou te falando, com hemorragia, com o intestino rompido e o corpo cheio de hematomas. Eu já fui na Polícia Civil dar parte e pedir providências. Espero que isso não caia no esquecimento. Isso foi uma tentativa de homicídio que fizeram com o meu filho (se emociona neste momento). Quando eu voltar a Pelotas, vou processar o Estado. Eu quero que alguém me ajude. Que não seja só mais um. Eu não sei o porquê de tanto ódio e violência com o meu filho. Se ele fez algo, por que não prenderam ele? Meu filho já estava dentro do ônibus para ir para casa. Ele foi tirado, algemado e torturado. Torturaram o meu filho. Tinha uma pessoa com ele, que eu não sei quem é, e não era da excursão dele, que falou que o Rai foi torturado por horas. Davam nele e mandavam ele levantar. Ele não conseguia e arrastaram ele. Foi brutalmente torturado. Deram nele com sola e não sei o que mais. Por que os responsáveis não tomam uma providência? Por que tanto ódio e tanta violência? Hoje é ele. Amanhã pode ser outro. Eu só peço que ele acorde para nós irmos embora daqui.
A senhora tem tido contato com os médicos que estão cuidando dele? Há uma previsão de melhora?
O médico me disse que ainda não tem. Iam alimentá-lo pela sonda hoje (quarta), para verem como o intestino funcionaria. Não tem previsão.
Como foi o depoimento na Polícia Civil?
Fui primeiro na 3ª DPPA (em Porto Alegre). Quem me atendeu até foi atencioso, mas tinha uma pessoa lá, uma mulher, que também pode ser mãe. Eu perguntei porque pegaram só o meu filho e fizeram isso com ele. Ela se meteu e disse que foi com ele e mais 11 pessoas. Eu disse que queria saber o que fizeram com o meu filho. Ela disse que isso não interessava para ela. Hoje, fui na 9ª Delegacia de Polícia Civil (também na Capital), que foi onde me mandaram ir. Me atenderam superbem. A escrivã me atendeu superbem. Eu quero só que o meu filho acorde para irmos embora.
O Brasil-Pel fez contato com vocês?
O clube entrou em contato e ofereceu suporte. Mas eu não quero suporte para mim. Eu quero só para o Rai.