As Surdolimpíadas nem bem começaram direito, mas já vão deixando uma lição para o povo gaúcho e mundial. Ainda na cerimônia de abertura, a delegação ucraniana entrou no ginásio do Sesi com uma bandeira da Ucrânia com os dizeres "Stop War", fazendo referência ao conflito entre o país do leste europeu e a Rússia e pedindo paz na Europa.
Se por um lado os russos foram excluídos da competição pelo Conselho Executivo do Comitê Internacional de Esportes de Surdos (ICSD), os ucranianos surgem como os principais favoritos para conquistarem medalhas em Caxias do Sul. No futebol masculino, em dois jogos, a Ucrânia tem duas vitórias — a segunda, nesta segunda-feira (2), por 5 a 0 contra o Egito, no estádio da Marcopolo.
A possibilidade de chegar ao pódio é também um incentivo a mais para levar um pouco de felicidade para um povo que vem sofrendo com a guerra em seu território. Os jogadores da seleção conseguiram sair antes de o confronto começar, conseguindo se preparar para as Surdolimpíadas na Turquia. Com a ajuda de intérpretes, Viacheslav Bragin, meio-campista da equipe, contou como foram os dias sem falar com seus familiares.
— A Ucrânia, neste momento, está em situação de guerra. Não estávamos no país quando a guerra eclodiu, ficamos sabendo pela TV disso e isso nos deixou muito mal, muito tristes. A gente ficou durante 24 dias sem comunicação sobre o país, até chegarmos na Turquia. O técnico ficou preocupado com o rendimento do time, mas tentou nos acalmar dentro do possível. A partir daí, ficamos sabendo noticias da nossa família. Nesse tempo na Turquia, pudemos ficar focado nos treinos, não dá para separar muito, nosso coração dói. Nossa participação aqui pode significar algo positivo para o nosso país.
Mais do que estarem há tanto tempo sem verem os seus familiares, os representantes ucranianos não sabem se irão conseguir retornar ao país. Ainda que outras nações estejam tentando mediar um cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia, as negociações ainda não avançaram muito, o que pode impedir um retorno imediato. A vontade dos jogadores é voltar assim que possível, caso contrário terão de ficar mais um período longe de casa.
— A gente está pensando em ficar na Polônia, mas dependendo da situação de guerra no país, a gente pode ir para casa. Como ucraniano, espero que isso acabe logo e que a Rússia desista dessa situação. Nós, como ucranianos, nossos pais, nossos familiares, precisam estar em paz. Queremos todos bens — contou Roman Stryiskyi, autor de um dos gols da partida desta segunda, o último, de pênalti.
Os ucranianos voltam a jogar no futebol masculino na próxima quarta-feira (4), contra a França. A Ucrânia tem a segunda maior delegação das Surdolimpíadas, com 258 atletas, atrás apenas do Brasil, que conta com 325. Muitos atletas foram acolhidos em outras nações para treinarem durante a preparação para o evento.