A primeira mensagem que chegou no WhatsApp de Doglas Godoy, 35 anos, pedia uma atualização dos dados de contato, como endereço, e-mail e outros números de telefone. A solicitação partiu da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) e deu esperança a ele e sua esposa, Fernanda Pocahy, 40 anos. Há dois anos, o casal investe no sonho da filha, apaixonada pelo esporte olímpico. Quando o nome de Sofia Godoy, 13 anos, foi finalmente anunciado na lista de convocados para a categoria júnior da seleção nacional de skate, eles puderam comemorar.
— Minha ficha ainda não caiu muito bem. Só vai cair quando eu estiver com a camisa da seleção brasileira — diz a skatista.
O trecho três da orla do Guaíba, o mais recente revitalizado de Porto Alegre, é o centro de treinamentos da garota. De três a quatro vezes por semana, ela deixa Campo Bom, no Vale do Sinos, para aperfeiçoar as manobras nos obstáculos instalados na megapista da Capital, a maior da América Latina. Ida e volta, o trajeto de cada viagem é de aproximadamente 120 quilômetros.
— A gente faz o possível pra apoiar ela. Não é fácil, estamos sempre correndo atrás, até fazendo rifa para dar suporte — afirma o pai.
Os turnos em casa são divididos: enquanto Fernanda trabalha pela manhã, o pai de Sofia viaja com a filha. À tarde, ele faz corridas por aplicativo. A renda de ambos, no entanto, é insuficiente para bancar passagens aéreas e hospedagem nos inúmeros torneios que surgem em sequência. Escolher qual ela pode competir tem sido comum, enquanto não surge um patrocínio.
— Temos apoio nos equipamentos, mas a viagem é o que mais impacta. Só para o Rio de Janeiro, em uma etapa que fomos, paguei R$ 3,5 mil de passagem para nós dois. E logo já tem outra — destaca o motorista.
"Mais feliz do que vocês"
Com aparelho nos dentes e cabelo de mechas azuis, Sofia tem um ar infantil, e a preocupação dos pais é que ela se mantenha da mesma forma, sem a pressão que as disputas possam ter no seu dia a dia. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, ela entregou ainda mais a maneira ingênua carregada de simpatia:
— Eu tô mais feliz do que vocês — respondeu a Kelly Matos e Luciano Potter, após os apresentadores celebrarem sua convocação.
Literalmente o braço direito (e esquerdo) na condução da adolescente, Doglas afirma tranquilizar a filha antes e depois de cada competição.
— Eu digo que ela tem que se divertir, não é pra ficar triste quando não ganha. Ela é, bem dizer, uma criança ainda — complementa o pai.
A aluna do oitavo ano do Ensino Fundamental admite ter mais de um plano futuro: além de skatista, quer ser psicóloga, "para poder ajudar as pessoas".
Gratidão
Na manhã de quarta-feira (20), a estudante recebeu uma série de cumprimentos de quem passeava pela Orla. A notícia de sua convocação se espalhou entre os adeptos da atividade, e até quem é de fora do Estado sabe do seu feito, como flagrado pela reportagem. A resposta para tanto assédio sai com naturalidade — graças, garante, ao skate.
— Eu defino skate como gratidão. Eu era muito envergonhada antes de começar a andar, hoje, o skate me libertou — define.