
Escalar mais de mil posições no ranking do tênis é como subir o Everest. É impossível fazer de uma vez só. É preciso preparação, tempo, dedicação e paciência. Esse íngreme trajeto vem sendo percorrido por Bia Haddad Maia desde setembro de 2020. O topo verdadeiro ainda está distante, mas o percurso conta com pequenos e grandes triunfos.
Pequenos como a vitória sobre a espanhola Maria Gutiérrez Carrasco. Grande como a caminhada até a final de duplas femininas do Aberto da Austrália. Jogando ao lado da uzbeque Anna Danilina, a tenista paulista se tornou a terceira brasileira a disputar a final de um Grand Slam. Antes dela, somente Maria Esther Bueno e Cláudia Monteiro sentiram a sensação de jogar uma decisão de um dos quatro maiores torneios do tênis. A 1h deste domingo (30), Bia e Anna enfrentarão as tchecas e favoritas Katerina Siniakova e Barbora Krejcikova.
Quando a bolinha quicar pela última vez na partida, com vitória ou derrota, Bia sabe que a escalada ainda não terá terminado. A subida começou com o 2 a 0 sobre Carrasco em setembro de 2020. A brasileira ocupava a posição número 1339 no ranking da WTA. Suspensa por doping, ela viu nos dez meses anteriores sua posição despencar na lista.
A pena poderia ter sido mais pesada. Em sua urina foram encontradas substâncias anabólicas proibidas pela Wada (Agência Mundial Antidoping). A comprovação de que ocorreu uma contaminação cruzada tornou a punição mais branda.
Mesmo que não vivesse o seu melhor momento na arrancada de 2020, a suspensão ceifou qualquer possibilidade de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio. Posicionada no pé do ranking, voltou a jogar torneios menores. Foi colecionando vitórias e ascendendo posições.
Semana a semana, torneio a torneio, Bia foi galgando o seu retorno ao grupo das top 100, alcançado em outubro do ano passado. Aos 25 anos, é a número 83 do mundo, 25 posições distante do seu melhor ranking. Nas duplas, é a 150ª do ranking.
— Um ano atrás eu estava passando o quali de um ITF de 25 mil na África do Sul, salvando match-point. Eu tinha muito claro onde eu estava, o que precisava fazer e onde eu queria chegar. Quando temos as coisas claras, elas acontecem cedo ou tarde. Não me surpreende o que está acontecendo — explicou após a semifinal
Se for campeã, Bia se juntará a Maria Esther como as únicas brasileiras campeãs de um Grand Slam. Isso é tão grande quanto o próprio Everest.