Trajando boina e um grosso sobretudo, afinal se está na Inglaterra, um homem entra no CT do Liverpool. Poderia ser um turista qualquer, mas logo se nota que não é qualquer um ao ser saudado por Alisson, titular do clube inglês e da Seleção Brasileira. O visitante, na verdade, não é um visitante — trata-se de Taffarel, novo preparador de goleiros dos Reds.
Há 15 dias, o tetracampeão mundial foi anunciado como integrante da comissão técnica de Jurgen Klopp. Ainda se adaptando ao novo ambiente e tentando melhorar o inglês, Taffarel inicia um trabalho ambicioso. Junto com o holandês John Achterberg e o inglês Jack Robinson, o ex-goleiro tem a missão de criar uma filosofia de formação de jogadores para a posição, segundo o próprio Klopp revelou. A intenção, em outras palavras, é transformar o Liverpool em uma fábrica de "Alissons", considerado pelo clube um modelo a ser seguido.
Em entrevista a GZH, Taffarel conta um pouco como estão os primeiros dias na Inglaterra, o trabalho ao lado de Alisson e, com bom humor, conta que um dos goleiros da Seleção o deixa no vácuo há alguns dias. Confira.
Como estão esses primeiros dias no Liverpool?
Os primeiros dias são sempre os mais especiais. Tem a expectativa daquilo que vamos encontrar, de como vamos ser recebidos, como será viver em um lugar diferente. Resumindo, uma mistura de alegria e expectativa.
O inglês já está afiado?
O inglês nunca foi o meu forte, e olha que já tentei de tudo. O azar é que vim para um lugar em que se fala o inglês mais difícil da Inglaterra. Mas acho que não é azar, é a ocasião para aprender realmente na dificuldade, já que nunca me esforcei como deveria para aprender. Vai ser na marra.
Como surgiu a possibilidade de você ir trabalhar no clube?
O Alisson, anos atrás, me disse que se tivesse a oportunidade gostaria de levar alguém para acrescentar junto com o Johan e Jack (treinadores de goleiros do Liverpool). Tem o nosso bom trabalho no Brasil, e as coisas foram se acertando. O Klopp concordou, o Liverpool aceitou, e eu estou aqui, crendo que realmente Deus que abriu essa enorme porta para mim.
A equipe de treinadores também conta com um profissional inglês e um holandês. Como tem sido a troca de experiências?
A comissão técnica é muito qualificada. O treinador é realmente muito bom e tem a ajuda de dois alemães, dois holandeses, um português, um britânico, e agora, para fechar, um brasileiro. Todos fazemos o máximo para dar o suporte ao Klopp, e a língua falada entre nós aqui é o inglês.
São três escolas tradicionais de goleiros, como é cada uma delas?
Agora, aqui, não são três escolas de goleiros. Agora é uma, e se chama Liverpool. Programamos juntos os trabalhos do dia a dia, nos entendemos muito bem, porque o foco maior é a preparação dos goleiros, dar o melhor treino para prepará-los bem. O Alisson, que está jogando, tem mostrado um resultado muito bom, fazendo ótimos jogos.
O Klopp disse que o Liverpool quer criar a própria filosofia de goleiros. Quais são os pilares dessa filosofia?
Realmente essa é a ideia aqui, o clube ter uma filosofia e formação de um goleiro, que, para nós, um exemplo muito grande é a maneira como joga o Alisson. Um goleiro seguro, técnico e que joga bem com os pés para dar qualidade e tranquilidade na saída de bola ou participação no jogo.
Qual a importância de trabalhar com o Alisson diariamente a menos de um ano da Copa do Mundo?
O Alisson é um cara fantástico, de um potencial enorme. Já mostrou isso na Seleção, e o Tite conta muito com essa postura e liderança dele. Eu estar aqui facilita muito na observação e continuidade do trabalho que fazemos na Seleção. A Copa daqui a pouco já estará chegando. A preparação já começou, e ainda posso espiar o Ederson, que está aqui do lado, que ainda não respondeu minha mensagem que mandei ao chegar aqui há quase 20 dias, mas conhecendo ele, ainda passará mais 20.
O Klopp disse que, para ele, o Alisson é o melhor goleiro do mundo. É por aí? Além dele, quem está nas primeiras posições?
O Klopp gosta muito dele, como jogador, lógico, mas sobretudo como pessoa. Eu também concordo que ele é um dos melhores do mundo, já ganhou o prêmio (da Fifa). Esse ano perdeu o pai, que era um grande parceiro dele, perdeu o chão um pouco, mas superou e voltou a ser aquele grande goleiro que muitos admiram e que nos orgulha muito como brasileiros. Anos atrás, o goleiro brasileiro era malvisto. Hoje, temos Alisson, Ederson, Weverton, e somos vistos com olhar diferente.
São dois ex-colorados em um dos principais clubes da atualidade. O que isso representa para vocês?
Dois colorados nascidos lá dentro, com histórias diferentes até chegarmos aqui nesse grandíssimo clube que é o Liverpool. De longe, eu já tinha essa impressão, mas estando aqui dentro eu realmente percebi a real grandeza disso. Somos muito orgulhosos de viver essa etapa em nossas vidas.
Além do Alisson, o Liverpool tem outro goleiro brasileiro. O que você pode dizer do Pitulga?
O Marcelo já está aqui há um ano e pouco. É um guri muito legal e esforçado, que vem trabalhando com a gente e jogando na base. Precisa trabalhar bastante, está naquela fase de formação do físico e da técnica, aí vai depender dele o futuro. Potencial e oportunidade, ele tem.