O Brasil tem uma bicampeã mundial de skate street. Nascida em São José dos Campos, a skatista Pâmela Rosa, de 22 anos, repetiu a conquista após levantar o título pela primeira vez em 2019, ainda com 20 anos. Desta vez, em Jacksonville, na Flórida, nos Estados Unidos, ela superou a companheira de seleção brasileira de skate Rayssa Leal, a japonesa Momiji Nishiya, ouro nas Olimpíadas de Tóquio, e a americana Samarria Brevard.
Para terminar com vitória a temporada da Street League Skateboarding (SLS), liga mundial de skate, Pâmela viveu um ano de altos e baixos. Favorita ao ouro em Tóquio, a paulista rompeu os ligamentos do tornozelo esquerdo quatro dias antes de embarcar para o Japão. Isso fez com que ela competisse lesionada e não conseguisse passar das eliminatórias.
Recuperada, conseguiu superar suas adversárias na grande decisão para ficar com mais um título mundial. Agora, projeta a Olimpíada de Paris, em 2024, para enfim conquistar sua primeira medalha olímpica. Em meio ao reencontro com a família em São José dos Campos e à preparação para as competições do final do ano, Pâmela atendeu a reportagem de GZH e falou sobre o bicampeonato, a temporada de 2022 e os Jogos Olímpicos de Paris. Confira:
Primeiro, parabéns pelo bicampeonato mundial, Pâmela. Como é a sensação de ser bicampeã mundial de skate com apenas 22 anos?
Sensação de missão cumprida. Todo esforço valeu a pena. Cada sessão e sacrifício na fisioterapia foi recompensado. Trabalhei muito para me recuperar após a frustração dos Jogos Olímpicos. Naquele momento, foi só emoção, a lembrança da minha família e o esforços dos meus pais na realização de desse sonho.
Teu primeiro título veio em 2019, com 20 anos. Passaram-se dois anos e tu venceste de novo. Qual é a diferença da Pâmela de hoje para a Pâmela de dois anos atrás?
Uma Pâmela mais madura, que aprendeu com os erros. A responsabilidade veio muito cedo na minha vida pessoal e profissional. Nunca fugi dela. A frustração dos Jogos Olímpicos só me fortaleceu. Esse gosto amargo da derrota só me deixou mais forte para essa reta final de temporada.
Para os especialistas em skate, tu entravas nas Olimpíadas como a principal postulante à medalha de ouro, mas uma lesão no tornozelo te prejudicou no Japão. Como foi ter de lidar com isso e como foi trabalhar entre esse período de decepção das Olimpíadas até a conquista de mais um título mundial?
Nós atletas precisamos trabalhar nosso psicológico para as pressões que recebemos dentro e fora das pistas. Não tenho vergonha nenhuma em falar que faço terapia com a Carla Pierro. Sempre tive apoio do Hamilton (técnico), que está comigo há nove anos e me conhece muito bem. Acredito que se o meu treinador tivesse comigo em Tóquio, mesmo lesionada, poderia ter tido um resultado muito melhor. A preparação mental que fiz com a Carla Pierro foi algo que me ajudou muito nesse fim de temporada. Todos os familiares e pessoas próximas que sempre acreditaram no meu trabalho me apoiaram demais nessa reta final.
Logo depois de conquistar o segundo título mundial, o Gabriel Medina falou que perseguia muito o sonho do tri, e ele conquistou. Como a Pâmela é com os objetivos da carreira dela? Quer ser tri? Conquistar a primeira medalha olímpica?
Claro! Eu quero sempre me aperfeiçoar. Sou perfeccionista e quero sempre a manobra perfeita. O sonho da medalha olímpica só foi adiado. Nunca desisti desse sonho, e tenho certeza de que em Paris será diferente.
Foi bicampeã mundial, voltou para o Brasil, mas logo já viaja de novo. O que dá para projetar desse final de ano de 2021 e também da temporada de 2022?
O ano de 2021 foi um ano de muita resignação. Essa palavra o Hamilton (treinador e empresário) não cansou de repetir para mim. Teve toda uma expectativa pelos Jogos Olímpicos, que não foi concretizada, e depois as etapas da SLS, que não fui para o pódio, porém não estava 100%. Usei essas etapas para me preparar e chegar mais perto do meu mais alto nível em Jacksonville. Com muita paciência, foco e determinação, deu tudo certo.
Como tu encaras ser uma figura que inspira tantas meninas que não se viam representadas no skate até bem pouco tempo?
Eu me sinto uma porta-voz dessas meninas. Desde os Jogos Olímpicos, tenho encontrado várias garotas no Brasil e no Exterior com interesse no skate. Eu só tenho que agradecer por esse carinho. O Brasil é gigante e tem muita gente boa. O que a gente precisa é de mais pistas para colocar meninos e meninas para treinar. As pistas nos Estados Unidos são ótimas e não dá nem para comparar com as do Brasil. Eu mesmo, em 2022, retorno para os EUA visando a meu treinamentos técnicos justamente por isso.
Em Tóquio e nas próprias etapas da SLS, vimos uma proximidade muito grande entre ti e o Kelvin Hoefler. O quão importante é ter alguém assim nos períodos em que tu ficas longe de casa e da família?
Foi fundamental. Kevin é meu irmão. Um amigo que naquele momento foi, inclusive, meu treinador. Tóquio foi diferente de tudo. Não estava 100% fisicamente, meu treinador não estava comigo, não tinha público nas arquibancadas. Como disse outras vezes, foi um grande aprendizado. Claro que fica aquela sensação de frustração, que poderia ter voltado com uma medalha, mas já passou. Sou bicampeã mundial e saio de 2021 muito feliz, satisfeita e mais fortalecida.
Logo que tu foste bicampeã mundial, a Los Grande.GG anunciou que tu viraste atleta deles. O que isso significa para a tua carreira e o quanto tu também és ligada aos e-sports?
Significa reconhecimento do meu trabalho. Toda vez que uma grande marca quer associar meu nome a eles, me orgulho demais. Mostra que estou no caminho certo. Em relação ao e-sports, gosto bastante principalmente de Free Fire (risos).
Porto Alegre inaugurou uma pista de skate na Orla do Rio Guaíba. Tens planos de nos fazer uma visita aqui no Rio Grande do Sul e conhecer a pista?
Claro! O sul do país é referencia em construção de pista de skate. Inclusive, a empresa que fez o projeto para construção da pista de skate na minha cidade, em São José dos Campos, é do sul do país. Só preciso do convite e entrar de férias. Até agora não parei (risos).