Nesta segunda-feira (14), o "Sala de Redação" completa 50 anos de existência. Um marco para o rádio brasileiro. Idealizado em um formato completamente diferente ao dos tempos atuais, o programa da Rádio Gaúcha foi se transformando ao longo das décadas e atraindo gerações de ouvintes.
O programa se adaptou às novas tecnologias para ser ouvido de qualquer parte do mundo, seja em tempo real, pelo aplicativo de GZH, ou em formato de podcast.
— Hoje nós estamos impedidos de levar uma multidão a qualquer lugar porque estamos impedidos de fazer aglomeração. Mas se a gente pudesse colocar o aniversário de 50 anos na Praça da Alfândega, uma multidão estaria ali. O Sala de Redação é um fenômeno — atesta Pedro Ernesto Denardin, atual apresentador do programa.
Para entender o tamanho do Sala de Redação é preciso conhecer o idealizador e primeiro apresentador do programa, em 1971: Cândido Norberto. Na década de 1940, Cândido chega à Capital, vindo de Bagé, na Campanha, para trabalhar na Rádio Gaúcha. Ele se transforma em rádio-ator em um momento em que as rádios-novelas eram um grande sucesso.
Havia álbum de figurinhas, daqueles com artistas famosos, e Cândido, já consagrado, era figurinha selada. Mas ele não era apenas um galã das ondas radiofônicas. Era um jornalista múltiplo: apresentador, narrador e político. Em 1949, foi enviado a Montevidéu para realizar a primeira transmissão de um clube gaúcho fora do país: Nacional x Grêmio, no mítico Estádio Centenário. Como parlamentar, destacava-se pela oratória incomum. Foi deputado estadual por quatro vezes consecutivas, chegando a presidir a Assembleia Legislativa.
Diante de tantos predicados, fica mais fácil entender a origem de uma ideia tão revolucionária para sua época. Era junho de 1971, tempos em que o noticiário de rádio, de maneira geral, repercutia o que havia saído na mídia impressa na madrugada anterior.
A Rádio Gaúcha tinha suas instalações localizadas no morro Santa Teresa, em Porto Alegre, onde está localizada a sede da RBS TV. Foi quando Cândido pediu para que fosse instalado um posto na Redação da Zero Hora, na esquina das avenidas Ipiranga e Erico Verissimo.
Com um extenso cabo e um microfone em mãos, passou a circular pelas mesas dos repórteres, indagando a informação que estava sendo apurada naquele exato momento. O nome, portanto, não foi escolhido à toa. De fato, era transmitido da sala de uma redação.
— Não há dúvida de que o programa é revolucionário. Ele antecipa os dias de hoje. Era feito com as pessoas trazendo informações, trocando ideias e, quando necessário, indo à rua. O que hoje é natural, na época, ninguém pensava — recorda o jornalista Cláudio Brito, que integrou a primeira formação do Sala e, ao lado de Valtair Santos, era responsável por atualizar as notícias da dupla Gre-Nal.
O programa chega nos seus 50 anos com essa relação de proximidade e de identificação com o público e também com os patrocinadores
CLAUDIO TOIGO FILHO
presidente da RBS
Debates esportivos
Brito fala com propriedade deste período. Responsável por cobrir o Grêmio pelo jornal, foi chamado para, ao lado de Valtair Santos, setorista de Inter, apresentar as notícias da dupla Gre-Nal no microfone da Rádio Gaúcha.
Foi neste cenário que surgiu Paulo Sant’Ana, um gremista fanático, que defendia de maneira flamante o seu clube do coração. E, com a sua entrada no programa, a necessidade de ter um debatedor identificado com o outro lado: Ibsen Pinheiro, então conselheiro colorado.
— O Sant'Ana foi delegado de polícia, foi o Papai Noel azul. Era uma personalidade da cidade. Frequentava a Praça da Alfândega, contando histórias. Um dia ele foi participar do Sala. O Cândido Norberto convidou ele para vir no outro dia e, no terceiro, saiu do estúdio e diz: "Contrata esse doido, esse doido é gênio" — recorda Brito.
Antes disso, o departamento de esportes da rádio estava desativado e, como se percebe, o Sala de Redação não tinha o formato atual, se estendendo por três horas ininterruptas. Das 11h às 12h45min, dedicava-se a repercutir as notícias do dia. A partir das 13h, após a apresentação do Correspondente, iniciava-se a última etapa, voltada exclusivamente ao futebol.
Não há nenhuma dúvida de que o programa é revolucionário
CLÁUDIO BRITO
jornalista
— Até que um ano e meio depois, incendiou o prédio do morro. A rádio, então, desceu para a Ipiranga para emergencialmente ocupar o espaço que o Cândido tinha na redação. O Nelson Sirotsky, que estava assumindo a gerência da rádio, disse com todas as letras: "O Sala de Redação é aquilo que vamos fazer da Rádio Gaúcha: informação, conversa, todo o tempo à disposição, com agilidade para fazer qualquer cobertura no momento" — afirma Claudio Brito.
Com o passar do tempo, a semente floresceu e segue rendendo frutos até os dias atuais.
— O programa chega nos seus 50 anos com essa relação de proximidade e de identificação com o público e também com os patrocinadores. Até na hora de citar um patrocinador, isso é feito de forma única e específica. Lá atrás, a gente pode lembrar de jingles que os próprios apresentadores cantavam. Hoje, o Pedro traz uma contextualização diferente. Isso torna a presença dos parceiros não só importante para a longevidade do programa, mas também para o interesse que aquelas marcas acabam despertando nos ouvintes — diz Claudio Toigo Filho, presidente da RBS.