A Confederação Brasileira de Futebol passa por uma crise interna, publicaram na quarta-feira (12) a ESPN e o site ge.globo. De acordo com as matérias, o presidente Rogério Caboclo, à frente da entidade desde 2019, corre o risco de ter seu mandato interrompido. O estopim teria surgido há cerca de três semanas, quando uma funcionária diretamente ligada ao dirigente pediu afastamento do cargo por problemas de saúde.
A mulher em questão não teve o nome nem o cargo revelados, mas sabe-se que está na CBF desde 2012, quando começou como recepcionista, por indicação de Marco Polo Del Nero, antigo chefe do futebol brasileiro e padrinho político de Caboclo. Quando Del Nero foi eleito à presidência, em 2014, ela foi alçada ao posto de secretária executiva.
Assim que Caboclo assumiu a casa, ela foi mantida na confederação em um movimento que visava a agradar o ex-presidente. Banido do futebol pela Fifa desde 2018, Del Nero segue sendo figura influente nos bastidores da CBF. A relação da mulher com Caboclo, porém, nunca foi boa. Segundo a ESPN, o presidente deixou de submeter-se a recomendações de Del Nero e não se curvava a pessoas ligadas ao antecessor — entre eles, a mulher.
Em abril, a funcionária levou o caso a Marco Polo Del Nero, que irritou-se de vez com o presidente da CBF e exigiu uma mudança de postura. Caso não houvesse retratação, a ameaça era de preparar um movimento nos bastidores para derrubar Caboclo.
Afastamento médico
Também em abril, ela pediu afastamento das funções profissionais para cuidar de um desgaste psicológico causado a partir das mortes da mãe e do avô, vítimas da covid-19. Segundo publicação do ge.globo, no entanto, um dos motivos da licença seriam os problemas de tratamento que tinha com o mandatário. Após tornar-se pivô do atrito entre os dois cartolas, ela optou por deixar o Rio de Janeiro, e não há previsão de retorno imediato às atividades.
Imagem ruim entre clubes e federações
A matéria do ge.globo diz ter ouvido críticas à postura de Caboclo de clubes e federações estaduais, além de dirigentes da própria CBF. A publicação afirma que interlocutores descrevem a postura do presidente como "errática e "inapropriada para o cargo". Pessoas citaram a reunião de 10 de março, realizada de forma virtual para debater a realização dos campeonatos no país em meio a um dos pontos mais altos da pandemia, quando o dirigente bateu na base e proferiu palavrões como forma de pressionar os clubes. "Vocês estão f****** se não tiver (os campeonatos)".
O que acontece em caso de saída
Caso Rogério Caboclo seja afastado do cargo, o estatuto da CBF prevê que assuma de forma provisória o vice-presidente mais velho, que hoje é Antônio Carlos Nunes, de 82 anos. Nunes teria o prazo de 30 dias a partir da posse para convocar uma Assembleia Geral Eleitoral para definir a eleição de um novo presidente até o término do mandato — neste caso, final de 2023. Poderão concorrer os oito vice-presidentes, incluindo o próprio interino.
O ge.globo aponta que, internamente, o nome mais cotado para assumir o cargo seria Castellar Modesto Guimarães Neto, ex-presidente da Federação Mineira de Futebol. Poderiam concorrer com ele, além do próprio Nunes, Antônio Aquino (Acre), Ednaldo Rodrigues (Bahia), Castellar Guimarães (Minas Gerais), Fernando Sarney (Maranhão), Francisco Novelletto (Rio Grande do Sul), Marcus Vicente (Espírito Santo) e Gustavo Feijó (Alagoas).
Novelletto, ex-presidente da FGF, preferiu não se manifestar sobre o caso em contato com a reportagem de GZH.
Membros pedem explicações
Uma fonte ligada à cúpula da CBF afirmou que grupos pediram explicações ao presidente da entidade quando o assunto veio a publico. A Confederação teria prometido notas e reuniões para tratar dos acontecimentos, o que ainda não ocorreu. A CBF ainda não se manifestou sobre o assunto.