Comprado pela Juventus por 72 milhões de euros (mais de R$ 440 milhões), Arthur está longe de ser declarado como um fracasso no futebol europeu. Ao mesmo tempo, o fato de o Barcelona ter aceitado sua venda mostra que o volante brasileiro não alcançou o sucesso esperado. Por que, dois anos depois de desembarcar na Espanha como um potencial sucessor de Xavi e Iniesta, o ex-jogador do Grêmio parte para a Itália sem ter alcançado grande protagonismo no Camp Nou?
— Aqui, tem muito debate sobre isso. Muita gente pensa que Arthur fracassou e que não conseguiu ser importante. Eu penso que o Barça se equivoca ao vender um jogador que, sim, precisa melhorar em muitas coisas, mas que se encaixava muito bem no estilo de jogo do clube. A comparação com Xavi também foi muito difícil para ele. Mas Xavi, com a idade dele (23 anos), não era indiscutível. Então, penso que, se tivessem sido pacientes, em quatro ou cinco anos, se tornaria um jogador muito importante — avalia Sergi Hernández, repórter da rádio RAC 1 e do jornal L'Esportiu.
Adaptação tática
Apesar da admiração pelo futebol do brasileiro, o jornalista catalão ressalta que a questão tática também atrapalhou sua estadia na equipe de Messi. Acostumado a jogar em linha de dois volantes no Grêmio (ao lado de Michel ou Jailson), no sistema 4-2-3-1, Arthur precisava desempenhar uma nova função na Espanha, jogando à frente do primeiro volante, no 4-3-3, fazendo a movimentação de área a área.
— Para mim, ele funcionava bem nos jogos em que os rivais pressionavam muito acima, porque ele se aproximava de Busquets (primeiro volante) e mostrava uma capacidade de proteger bem a bola. Mas em jogos em que o adversário se metia na defesa, ele não tinha tanta capacidade de jogar na segunda linha, de chutar de fora da área. Mas creio que teria margem para melhorar — analisa Hernández.
Quem endossa esta opinião é o jornalista brasileiro Marcelo Bechler, que atua em Barcelona como correspondente dos canais Esporte Interativo e da Rádio Itatiaia.
— Acho que o problema foi a dificuldade de ser mais incisivo. Arthur chegou e impressionou pela capacidade de proteger a bola e de passar bem, mas em alguns momentos faltou atrevimento — completa.
Problemas físicos
Outro ponto acrescentado por Bechler é a questão física. Nos dois anos em que esteve na Espanha, Arthur participou de 72 dos 114 jogos disputados pelo Barcelona. Destes, foi titular 49 vezes, mas concluiu apenas 11 partidas em campo.
— Ele veio sem férias do Grêmio (2018) e da Copa América (2019). E, nessa temporada, teve uma pubalgia que o tirou dos jogos por 50 dias. Isso o atrapalhou para ter sequência. Quase nunca ele jogou 90 minutos — aponta.
Sergi Hernández reverbera o fator físico como um dos empecilhos para o sucesso imediato do ex-gremista.
— Ele sofreu com sobrecarga e fadiga muscular. Não sei se não estava acostumado a jogar em um ritmo tão alto, mas aqui ele não conseguia fazer tantos jogos em sequência. Não aguentava toda a partida, era substituído no segundo tempo. Ele se cansava e não tinha a mesma capacidade para ajudar a equipe — complementa.
Lado financeiro
Por fim, há um último fator que pesou: a necessidade do Barcelona em fazer caixa. Quem alerta para isso é a repórter do jornal Marca Maria del Carmen Torres.
— Apesar de sua grande qualidade e talento, ele não triunfou porque há um excesso de meio-campistas. É o setor do time com mais jogadores: Rakitic, Busquets, Vidal, De Jong, Sergi Roberto, Riqui Puig... E ainda tinha Aleñà, que teve que sair (emprestado ao Bétis). E, sobretudo, o Barcelona necessitava vendê-lo para equilibrar as finanças — revela.
Pressionado pelo fair play financeiro imposto pela Uefa, que exige que os clubes não gastem além de suas capacidades econômicas, os espanhóis mudaram até mesmo o modelo do negócio. Em um primeiro momento, especulava-se que Arthur fosse envolvido em uma troca com o meia Pjanic, da Juventus. Por fim, o que se viu foram negócios separados, a começar pela compra do volante por parte dos italianos. Assim, a carreira do volante terá sequência ao lado de Buffon, Dybala e Cristiano Ronaldo.