O pedido de rescisão de contrato do técnico Jorge Sampaoli com o Santos, sustentado pelo não pagamento do FGTS, não é a única exigência feita pelo treinador em meio à queda de braço com o clube. Sampaoli pede, além do pagamento de R$ 112 mil por quatro meses de FGTS em atraso, outros valores pendentes. A conta estimada por sua defesa no processo, realizada pelo advogado Gustavo Amorim de Barros, é de pouco mais de R$ 1,5 milhão.
Além das parcelas de agosto, setembro, novembro e dezembro relacionadas ao fundo, o técnico argentino ainda pede: R$ 350 mil de indenização por aviso prévio, R$ 320 mil de férias proporcionais ao período trabalhado, R$ 96 mil referente a um terço de férias, R$ 320 mil de 13º salário, R$ 134 mil da multa de 40% sobre o FGTS, R$ 128 mil pelos 11 dias trabalhados em dezembro e mais R$ 73 mil de honorários advocatícios.
O processo corre na 5ª Vara do Trabalho de Santos. Nesta quarta (12), a juíza Patrícia Rebouças Franceschet Guimarães negou liminar favorável ao técnico no pedido de rescisão antecipada do contrato.
Ela diz que "não há no processo, por ora, elementos para a concessão da medida sem prévia oitiva da partida contrária", ou seja, não pode determinar a rescisão sem antes ouvir o Santos. O clube será intimado a explicar.
Além de Sampaoli, quatro membros da comissão técnica do Santos, todos indicados pelo treinador, também acionaram a Justiça. O assistente Jorge Desio, um dos planos iniciais do Santos para substituir Sampaoli, Carlos Desio, Pablo Fernández e Marcos Fernandes.
Entenda a briga entre Santos e Sampaoli
Santos e Sampaoli divergem quanto ao desfecho do ciclo do treinador à frente no clube. O desencontro entre as partes levou o caso à Justiça, onde a disputa pela narrativa sobre o profissional ter pedido demissão ou sido demitido deve ter influência para o pagamento ou não da multa.
O clube nunca confirmou a existência de um aditamento realizado no contrato de trabalho. A reportagem teve acesso ao contrato do argentino e observou que em 7 de outubro foi assinado um termo que estabelece que qualquer uma das partes poderá romper o contrato sem o pagamento de multa e mediante simples notificação à outra a partir do dia 10 de dezembro. O Santos informou que Sampaoli comunicou a demissão em dia 9 de dezembro e que "o caso foi entregue aos departamentos jurídico e de recursos humanos do clube".
A assessoria de imprensa do treinador sustenta que o argentino não pediu oficialmente o desligamento do clube e que ainda aguardava por um retorno a respeito de suas exigências, após pedido do presidente santista, José Carlos Peres, de se reunir com membros do comitê gestor para avaliá-las. Ele divulgou uma carta de despedida nesta quarta-feira (11).
O clube paulista ainda acumula dívidas com alguns de seus ex-treinadores recentes. Neste ano, em agosto, realizou acordo com Cuca, que dirigiu o clube entre julho e dezembro de 2018, para o pagamento parcelado de aproximadamente R$ 2 milhões. O técnico chegou a ameaçar processar o clube antes do acordo.
Recentemente, o técnico Enderson Moreira, demitido em fevereiro de 2015, recebeu sentença favorável de ação movida logo após sua saída. O valor da dívida também supera R$ 2 milhões. Além de Enderson, Levir Culpi e Dorival Júnior foram outros dois que acionaram a Justiça para receber.
— Eu entendo que a atual administração está tendo dificuldades porque o clube não tinha caixa, mas está do jeito que o Modesto (Roma Júnior, ex-presidente) pegou, também. A do Modesto foi até pior, com uma série de ações. O Santos não quis dar passa-moleque em ninguém — disse ao jornal Folha de S.Paulo, no último ano, o advogado José Ricardo Tremura, ex-gerente jurídico do clube.
De acordo com a assessoria de Sampaoli, o técnico está no Rio de Janeiro de férias com a família. Depois, viajará para Buenos Aires, na Argentina, onde passará as festas de fim de ano. Questionada sobre a hipótese de uma reunião nesta quinta-feira (12) com representantes do Palmeiras, a assessoria não negou a possibilidade. Procurada, a assessoria do Santos não respondeu os questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.