Uma mulher que utiliza a música para se expressar e que valoriza as virtudes das atletas em vez de criticá-las. A Seleção Brasileira feminina mudou não só o nome do comando da casamata, mas o perfil de quem estará à frente da equipe daqui para frente: a sueca Pia Sundhage foi a escolhida para o lugar de Vadão, demitido após a Copa da França.
A um ano das Olimpíadas de 2020, a CBF anunciou sua “carrasca” nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro – o então time de Pia, a Suécia, eliminou o de Marta no Maracanã. A técnica conduziu suas equipes às últimas três disputas pela medalha de ouro olímpica. Além da prata com seu país há três anos, ela levou os EUA a dois títulos, em 2008 e 2012.
Aos 59 anos, Pia é a segunda mulher a liderar as brasileiras – a primeira foi a atual técnica do Santos, Emily Lima, que trabalhou na CBF entre 2016 e 2017. A substituta de Vadão causou furor nas redes sociais.
Aqui, por representar uma mudança que a eliminação nas oitavas de final da Copa evidenciou ser necessária. Na Suécia, pelo feito de um dos principais nomes da modalidade do país ter uma chance com a camisa canarinho. E, nos Estados Unidos, pela gratidão ao trabalho da bicampeã olímpica com as americanas.
Na apresentação oficial, terça-feira passada, o que se viu foi uma técnica que, mesmo vencedora por onde passou, está encantada com o desafio de assumir a Seleção. Ao conhecer a Granja Comary, deu pulos de alegria e simulou uma cobrança de pênalti.
— Estou feliz. Olhe para isso. Eu já estive em muitos lugares, com certeza, mas estou emocionada, entusiasmada e feliz! Os suecos não são tão emotivos, mas foi difícil segurar as lágrimas. Vocês têm algo muito especial e muito mágico — saudou, na sua primeira entrevista como técnica da Seleção.
Pia esteve no Brasil em abril deste ano, para o seminário “Somos Futebol”, promovido, pela CBF. Na ocasião, a historiadora Rachel Motta, comentarista do Comenta Quem Sabe, do canal Fox Sports, estava na plateia.
— Pia parecia muito segura de tudo que falava, apresentou estatísticas, mostrou que sabia muito sobre jogadoras brasileiras. Quando pedi para tirar uma foto, ela foi super aberta e simpática. A acompanho há algumas décadas. É uma grande pessoa, além de profissional — opinou Rachel.
Liderança
Uma das características de Pia que chama atenção da comentarista é a liderança. A virtude ficou conhecida publicamente às vésperas das Olimpíadas de Pequim, em 2008, quando a sueca assumiu o comando da seleção americana após o treinador anterior, Greg Ryan, enfrentar turbulências no vestiário. O grupo ficou encantado com os métodos utilizados pela treinadora.
— Ela queria trazer diversão de volta ao jogo e que pensássemos por nós mesmas. Em vez de ficar treinando passes, ela estimulou nossa criatividade — falou à época a goleira Hope Solo, líder do time dos EUA nas conquistas dos ouros olímpicos.
Otimista convicta, Pia acredita que as individualidades desequilibrarão um jogo apenas quando a parte coletiva estiver consistente. Por isso, estimula suas atletas ao acerto, ao contrário de apontar os erros. A música é outro elemento muito utilizado pela sueca.
No mesmo período, quando iniciava seus trabalhos na seleção americana, ela entrou no vestiário cantando The Times They Are A-Changin, de Bob Dylan. A tradução literal indicava que os tempos estavam mudando. De fato: Pia deixou o cargo após duas medalhas de ouro olímpicas e um vice na Copa do Mundo de 2011.
Com o sentimento de missão cumprida e o título de melhor técnica do mundo em 2012, ela encerrou a passagem pelos EUA e decidiu voltar para seu país para se dedicar às seleções de base. A técnica valoriza com afinco as categorias iniciais, já que precisou se disfarçar de menino para poder jogar bola quando era criança – pois a prática do futebol era proibida para meninas.
A primeira estrangeira a comandar a Seleção Brasileira se dedicou, nos últimos anos, ao sub-17 da Suécia, e chega ao Brasil com moral: Marta deu boas vindas à nova comandante em sueco no seu Instagram. A jogadora, eleita seis vezes melhor do mundo, possui nacionalidade sueca, jogou no país por 10 temporadas e é fluente na língua natal de Pia.
O idioma, aliás, não deve ser um problema para a treinadora: a maioria das atletas da Seleção é fluente em inglês – além disso, a técnica já se comprometeu a aprender português.
Estreia em clássico com a Argentina
Pia estreará no comando da Seleção diante da Argentina no Torneio Internacional de Futebol Feminino, em 29 de agosto, no Pacaembu. Chile e Costa Rica fazem o outro jogo do torneio. Os dois vencedores se enfrentam na final, em 1º de setembro. A data da primeira convocação ainda não foi definida.